Capítulo 19

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Eu sei que a intenção foi boa, mas o sentimento que me causou era que realmente deveria me adaptar aquela situação porque nunca mais teria a chance de reversão, derrotando assim a esperança no meu coração.

— Não gostou? — A voz de Artur denunciava sua preocupação.

— Não é isso! — expliquei a ele o que se passou no meu coração com o presente.

Ele sentou do meu lado, pude sentir a aspereza do tecido de sua farda.

— Você deve pensar por outro lado. A bengala é para ajudá-la a se tornar mais independente. — Ele segurou minha mão. — Devemos utilizar dos recursos que Deus nos dá.

— Como conseguiu uma bengala para cego? — indaguei a ele.

— Eu estava fazendo minha ronda quando avistei esse galho longo e fino. Fiz uns ajustes e aqui está para seu auxílio.

Artur era um dos homens mais preocupados e protetores que eu já tinha conhecido. Podia muito bem não se importar com minhas lutas, mas pensava nelas. Ele era um exemplo de amor ao próximo. Algo que eu precisava exercitar mais, pois sempre pensei em ajudar o outro a partir de minha própria perspectiva e não dá pessoa. Precisava mudar aquilo!

— Você quer fazer um teste e dar uma volta? — Ele me convidou e segurou minha mão, dando apoio para eu levantar.

— Lia, essa bengala vai ajudar muito para não viver mais se afligindo com as coisas — Nicolas tinha um tom de alegria na voz.

Ouvi os elogios dos outros jovens a Artur por sua disposição com aquele objeto até que saímos da casa e fomos andar.

— Esse calor está cada vez pior. Nem de noite esfria — puxei um assunto qualquer.

— Os homens estão até começando a cavar poços. Se você ver o tanto que a água retrocedeu. Quem ver pensa que o rio secou e nunca mais voltará — o tom dele denunciava larga preocupação.

Ele me guiou até meu tronco e me acomodou. Admitia que a bengala me auxiliou na locomoção. Ficamos em silêncio por um tempo até que falei:

— Soube que tem uma mulher investindo em você. — Eu jogue verde para colher maduro, confesso. Mas eu precisava saber a posição de Artur sobre Vivian. Ele não era cego para não ver os avanços dela.

— Ah, é?

— Sim. — Assenti um pouco nervoso.

— Ficou com ciúmes? — Encontrei uma leve diversão na fala dele.

—  Não! Claro que não! Por que ficaria? — Pigarreei meio agitada.

Ele gargalhou.

— Nenhuma mulher me interessa... — declarou depois de um tempo e eu me arrependi de ter entrado naquele assunto.

— Claro! Pois, você ainda ama muito a sua esposa.— Constatei com tristeza.

— Ela ainda é uma parte muito importante na minha vida, mas... — afirmou.

— Eu sei e não quero falar sobre isso. — Não ia adentrar aquele assunto. A falecida mulher de Artur sempre seria uma pedra entre nós dois e isso doía profundamente.

— Tudo bem mesmo? Eu acho que...

— É sério, está tudo bem. Não precisa me explicar nada.

Ouvi um suspiro dele e para não ficar um clima chato, eu disse com sinceridade:

— Eu quero ouvir você tocar o oboé de novo. Aquela música se tornou um marco na minha vida. — Relembrei daquela manhã em que tive um "show particular".

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