Jamile e eu ficamos conversando após um tempo, mas ela voltou para a casa primeiro que eu. Decidi permanecer mais um tempo sentada e ouvindo apenas o som do vento balançando nas folhas, queria poder orar e falar tudo que sentia, mas uma confusão entre a esperança de Artur está vivo e o medo de ter uma notícia de sua morte me engatavam a garganta e em eu só conseguia permanecer em silencia e nenhuma frase conseguia formar, mas eu sabia que o Espírito podia falar por mim.
— Você soube da notícia? — Uma voz desesperada ressou ao meu lado. — Não soube? — Era Viviam.
Eu pisquei algumas vezes querendo situar meus pensamentos interrompidos.
— Diga alguma coisa. Ore ao seu Deus. Ele não é o Todo-Poderoso — ela dizia com a voz encolerizada. — Artur está desaparecido e provavelmente morto. — Consegui discerni um chorou da parte dela.
Permaneci em silêncio.
— Eu tinha planos para nós — ela declarou. — Depois de esperar tantos anos por alguém como ele e agora isso acontece.
A declaração dela me chocou.
— Você está mesmo apaixonada por ele? — Finalmente encontrei a minha voz.
— É claro que sim! — Ouvi uma batida nas coxas. — Achava que eu estava brincando?
— Pensei que era só para me perturbar. — Naquele momento, nem sabia mais o que dizer.
— Isso era um lucro, mas agora ele se foi. — O tom choroso da voz voltou e eu podia sentir a sua angústia verdadeira. — Oh, meu pai!
Ponderei que talvez tudo que Vivian buscasse era ser salva por alguém. Ela esperava que Artur fizesse isso e como eu apareci, o que para ela eu era alguém para estragar seus planos, estabeleceu essa inimizade entre nós. Sentimentos, emoções e tudo mais atrapalhavam mais do que ajudava muitas vezes. Não falei mais nada e ficamos nós duas em meio ao silêncio da noite, porém ao ouvir as fungadas de Vivian ao meu lado sabia que as lágrimas dela desciam copiosamente.
— Você não vai fazer nada, não é? — Ouvi sua pergunta com tom de acusação.
— O que eu poderia fazer? — Apertou os lábios.
— Você é igual a todos os outros. — Escutei o som das folhas sendo amassadas, ela estava indo embora. — Promete que seu Deus pode tudo, mas na hora que precisamos ver o agir real dEle nada acontece. É por isso que nunca vou crer. — E os sons dos passos foram se distanciando.
Eu fiquei paralisada lá. As últimas palavras de Vivian doeram em mim mais do que qualquer outra coisa. Nós que devíamos ser testemunhas de Cristo simplesmente não conseguíamos mostrar nada. Onde estavam os sinais de curas e milagres que seguiriam aqueles que creem? Percebi que comigo não estava. Que cristã ou missionária eu era? Naquele instante, senti que estava nua em meio a uma tempestade, sabendo que não tinha um poder espiritual para nada.
— Você não deveria estar aqui.
De repente, aquela frase ecoou em meus ouvidos e um arrepio subiu por todo meu corpo, meu coração bombeou mais de rápido que o normal, e a voz era grave.
— Artur? — A pergunta saiu de ímpeto.
— Não, moça, meu nome é Júlio.
— Ah, perdão. — Soltei o ar e a frustração ficou nítida.
— Eu compreendo, pois o tenente Artur faz muita falta para todos nós do batalhão.
— Você o conhecia?
— Um pouco. — Ouvi seus passos se aproximar mais.
— O que sabe sobre ele? — Eu não podia mais conversar com o Artur, mas falar dele me trazia alegria. Isso fazia se tornar mais real o tempo de nossa amizade.
— Ele era uma pessoa responsável, amigável e possuía uma filha que esperava seu retorno.
— Mas ele voltará, não é? — Minhas palavras saíram entristecidas.
— Eu quero pensar que sim. — Sua voz grave está a pouca distancia de mim. — Está tendo muitas buscas por todos que estavam na fronteira.
Aquelas palavras fizeram meu coração dar um salto dentro do peito e me encher de esperança.
— E por que acha isso, Júlio? — perguntei curiosa sobre quaisquer informações que ele pudesse ter sobre Artur.
— Ele está desaparecido e não morto. Pelo menos, não sabemos e até termos certeza, eu procuro confiar que ele está vivo.
VIVO, VIVO, VIVO.
Nunca quatro letras trouxeram tanta alegria ao meu coração.
— Será? Mas disseram que ele adentrou a parte mais densa da floresta — indaguei, procurando ainda ser sensata já que a nossa conversa era apenas uma especulação.
— O tenente acreditava que sua vida era guardada por Deus. Não creio que esse Deus permitiria seu filho morrer sem pelo menos ser enterrado.
— Você tem essa fé?
— Precisamos acreditar em algo superior a nós, ou não resistiremos a tantas dificuldades da vida.
Eu assenti pensativa.
— Agora deve entrar a hora está avançada — ele ordenou mais uma vez, interrompendo os meus pensamentos.
— Farei isso, mas antes... — Levantei-me devagar e ele me ajudou — obrigada pela sua esperança, pois alimenta a minha.
— De nada. — Após me deixar em casa, ele se retirou e entrei com o espírito consolado.
🪵
Hoje estava lendo Atos dos Apóstolos e me deu saudade desses missionários. Eu pretendia atualizar mais pra frente e percebi que se não fizer agora vou enrolando e enrolando. Espero que goste e aos poucos venho trazer mais capítulos.
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Uma Porta de Esperança
Spiritual"Portanto, que o Deus da ESPERANÇA vos abençoe plenamente com toda a alegria e paz, à medida da vossa fé nele, para que transbordeis de ESPERANÇA, pelo poder do Espírito Santo". Romanos 15:13. No ano de 2002 uma seca assolou as comunidades ribeirin...