Capítulo 4

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Acordei com a luz do sol que brilhava em toda sua intensidade, entrando pela fresta da janela. O calor aumentava no quarto, procurei levantar e me arrumar. Ainda era cedo, boa parte dos jovens dormia. Fui até o lado de fora da casa para pegar algumas coisas quando, de repente, ouvi um choro.

Parei o que estava fazendo a fim de seguir na direção da qual vinha o lamurio, olhei na frente e atrás, contudo, não havia ninguém. O choro se intensificou. Resolvi seguir a trilha em direção das árvores atrás da casa e encontrei um menino que deveria ter uns seis anos de idade junto com uma menininha.

A pequena, que aparentava ter uns quatro anos, chorava e ambos estavam cobertos de sujeira. Ao tentar uma aproximação, eles se encolheram, não querendo ser tocados. Com paciência, me ajoelhei diante deles e disse:

— Não tenham medo, estou aqui para ajudar vocês. — Quis tocá-los, mas os dois se afastaram.

Ao ver aquela atitude, levantei e retornei até a casa. Ao adentrar na cozinha apressada, constatei Nicolas sentado à mesa, que me vendo naquele estado, indagou:

— Aonde estava? — Seu cenho franzido em minha direção demonstrava sua curiosidade.

— Achei duas crianças perto de uma árvore — respondi, colocando o leite em dois copos. — Elas estão mal e precisam de ajuda.

— Vou pegar minha maleta. — O som da cadeira sendo arrastada, mostrou sua rapidez em direção ao quarto para pegar suas coisas.

Não precisei esperar muito, pois Nicolas já estava às portas no momento de minha saída. Ele me acompanhou e, pela graça do bom Deus, as crianças ainda permaneciam lá. Elas tremiam de frio, apesar do sol. Nicolas chegou perto e tocou na pele deles, informando que ambos estavam com febre e precisavam sair dali.

Fui até eles calmamente e ofereci leite. Nesse momento, o menino tomou o copo de minha mão e bebeu com avidez. Mas a menina não possuía forças nem para beber algo, decidi levá-los para a casa. Ao tomar a garotinha no colo, Nicolas percebeu que ela estava prestes a vomitar e isso aconteceu, jogando para fora um líquido transparente e tossiu em seguida com sangue. Eu olhei para aquilo em choque.

Apressamos nossos passos e assim que entramos no meu quarto a deitamos na cama. Nicolas procurou limpar e ajudá-la. Unido com Larissa, nossa enfermeira, os dois lutaram para ajudar a febre alta, os calafrios e a falta de ar. As pontas dos dedos estavam roxas e os lábios dela estavam ficando da mesma cor.

— Está com pneumonia grave. A falta de oxigênio no sangue é claro — Nicolas declarou, mas ele não nos preparou para o que diria depois. — Se os medicamentos não funcionassem, poderíamos perdê-la.

Ao ouvir tal pronunciamento fiquei gélida. Eu precisava sair dali e orar. Todos seguimos para fora do quarto a fim de deixá-los sós. Naquela altura do dia todo já tinham acordado. Do lado de fora, segui para ver o pequeno rapaz. Ao contemplar seu estado deplorável de odor e sujeira, sendo estes a causar náuseas, o levei para um banho e após isso o alimentei.

O menino estava bem, precisava apenas dos cuidados básicos — diferente da menina. Tentei descobrir alguma coisa, mas o garotinho não dizia uma palavra sequer, deixei-o com Joabe e saí. Direcionei-me para trás da casa, perto das árvores e orei:

— Senhor, meu Deus, tenha misericórdia de nós. Estamos passando por coisas que ainda não tínhamos presenciado. Te peço forças para perseverar e que se compadeça dessa criança. Em nome de Jesus. Amém.

Ao finalizar minha prece, levantei a cabeça e mirei o céu azul respirando fundo, procurando de alguma aliviar minha tensão. Ouvi o som da porta se abrir atrás de mim, virei-me e encontrei Nicolas vindo em minha direção com a aparência abatida. Ele, por um momento, ficou em silêncio, soltou o ar e pronunciou:

Uma Porta de EsperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora