Capítulo 38

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ARTUR DANTAS:

Uma semana havia se passado e minha recuperação estava boa. Com a ajuda de muletas conseguia dar meus primeiros passos sozinhos. Os primeiros dias de adaptação não foram fáceis, mas com ajuda de Chelsea e Steve, fui sendo motivado a voltar a andar. Pela graça do Senhor Deus nenhum dos tiros havia penetrando em algum lugar comprometedor. Tudo em minha vida era realmente um milagre.

Eu estava sentando ao pé de uma árvore recebendo um pouco do calor antes do pôr do sol. Aquela paisagem à minha frente fazia me ver como a vida é um presente de Deus. Lembrei de como quis acabar comigo mesmo quando Ângela faleceu. Me afastei de minha filha e mergulhei no trabalho somente para tentar esquecer ou mesmo morrer em algum acidente. Eu não queria viver. Vim para os ribeirinhos com o meu coração tão cheio de tristezas e rancores. Mas, quando eu a vi sentada naquele tronco falando: “Senhor Deus aumenta a minha fé”. Aquelas palavras penetraram em meu coração.

Após conhecer a Lia tudo foi mudando ou mesmo se esclarecendo. As suas palavras naquele piquenique “(...) Ninguém merece ser a razão do seu viver...” Admito ter ficado irado na hora, por achá-la sem misericórdia com o meu sofrimento. Porém, depois compreendi onde estava meu coração. O que era o meu cristianismo? As palavras foram cortando o meu coração e eu precisava ser exortado. Onde Cristo cabia na minha vida? Ele não estava sendo minha suficiência e nem o meu amor.

“Perdão, Senhor.” Recordo-me de fazer essa pequena e sincera oração a Deus.

A sua misericórdia e seu amor se revelaram a mim por meio de Lia também. Ela não era a minha salvação, mas o Senhor a usou para seus propósitos comigo. A sua amizade, as suas palavras sinceras – duras – contudo, verdadeiras. Com o acidente dela, Ele me mostrou como é o amor de um servo realmente. Ela não blasfemou, não desonrou a Ele. Lia sofreu é verdade, mas apesar de todas as circunstâncias ainda continuava a ver a beleza da graça de Deus em todas as coisas, mas com o coração latejando muitas vezes.

O Senhor Deus usa seus filhos onde estiverem para ajudar uns aos outros. E Ele por sua grande misericórdia me alcançou outra vez pelos missionários nos ribeirinhos, tanto quanto os dessa tribo. Seus filhos estão por toda parte a fim de cumprir seu chamado.

— O que te darei Senhor por todos os seus benefícios? —perguntei a Deus. — Como pagar pelo o seu cuidado comigo? Que não me deixou afundar em angústias, mas me ensinou sobre como Tu é mais precioso que família, amigos ou mesmo a vida. — Uma lágrima desceu dos meus olhos enquanto contemplava aquele imenso céu azul.  — Agradeço pelo consolo nas minhas tristezas, por responder minhas indagações. Te agradeço por curar meu coração, eu te agradeço por Cristo Jesus, pois só nEle achei esperança, achei a vida.

Após mais algum tempo sozinho em oração apareceu Yara, uma das primeiras índias a se converter. Chelsea contou que no início eles eram muito rudes e hostis, mas o Senhor foi transformando aos poucos. Ela possuía 21 anos, morena, dos olhos negros, cabelos lisos e negros. Com um coração manso e um belo sorriso. Yara começou a colher algumas frutas a beira do lago a minha frente. Quando ela se aproximou pronunciou:

— Essas frutas ainda não estão maduras o suficiente.

— Com o tempo ficará — falei, olhando para as frutas dentro do cesto feito com folha de bananeira.

— O senhor melhorou bastante — afirmou, olhando para mim com os olhos exprimidos por causa do sol.

— Sim, e logo poderei voltar. — Me alegrei em lembrar que logo poderia voltar para os meus.

— Partirá em breve?

— Daqui a quatro dias. — Joguei uma pedra no lago. — As pessoas devem achar que estou morto.

— Mas, graças ao bom Deus não está. — Ela sorriu.

O sorriso dela me faz lembrar de Lia. Quando Yara entrou a oca naquele dia todas as minhas lembranças sobre Lia retornaram. O Senhor me dera uma segunda chance tanto na vida quanto no amor não desperdiçaria mais nenhum segundo.

— Artur, tem alguém lhe esperando lá fora? — perguntou, pondo a cesta de frutas no chão e sentando-se a minha frente.

— Sim, minha filha, mãe e...

— E...? — Ela arqueou a sobrancelha em curiosidade.

— Um amor. – Sorri levemente. — Preciso vê-la novamente e dizer tudo o que sinto por ela.

— Ela deve ser muito especial.

— É sim.

Os olhos de Yara brilhavam em verdadeiro contentamento por mim.

— Que Deus abençoe esse relacionamento. — Desejou com sinceridade.

— E quanto a você? — perguntei.

— O que tem eu? — Yara fez uma expressão de interrogação no rosto.

— Quando irá se casar? Percebo alguns homens com interesse em você aqui nesta tribo.

Ela sorriu timidamente e desviou o olhar para o lado.

— Ah! Sr. Artur não quero casar. Quero dizer, não agora.

— E o que vai fazer então?

— A Sra. Chelsea e o seu marido me convidaram para viajar com eles quando voltarem. Vou estudar para que eu possa ser uma missionária também — contou os seus planos.

— Por que quer ser uma missionária?

— Jesus me alcançou por meio deles. — Ela respirou e olhou o horizonte. — Quero assim abençoar outras pessoas. — Os olhos de Yara marejam. — Eu não tinha nada. Era órfã e estava me acabando por meio dos vícios. Eles me deram esperança quando eu não tinha — revelou um pouco sobre o seu triste passado.

— Isso é uma dádiva! Acredito que será uma excelente missionária.

— Amém. — Ela se levantou carregando o cesto junto consigo. — Devemos voltar está começando a anoitecer.

— Vamos! — Levantei devagar e voltamos para o meio da tribo.

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