Jamile estava no “meu tronco” olhando para o céu. Caminhei devagar em sua direção, percebi que ela sussurrava algumas palavras e respeitei seu momento de solidão. Notei que o tom de sua voz estava embargado, ela havia chorado.
— Um ótimo lugar este aqui, não é mesmo? — falei por trás.
Ela se assustou e procurou enxugar as lágrimas que insistiam em descer. Eu estava com minhas mãos dentro dos bolsos de minha jaqueta e me aproximei pedindo espaço para sentar ao seu lado.
— Toda vez que estou triste venho aqui — relatei e olhei para o céu estrelado.
— Não estou triste. — Jamile fungou, sendo isso, uma contradição em relação a sua afirmação.
— Está sim e eu sei o porquê!
— Por quê? — Ela virou-se para mim e estreitou seus olhos avermelhados.
— Deixe-me ver. — Coloquei o dedo no queixo, fazendo cara de pensativa. — Porque você é apaixonada pelo Nicolas.
— Santo Deus! — exclamou, arregalando os olhos.
— O quê? — Olhei-a confusa.
— Como pode afirmar isso? Ele é...
Ela se levantou abruptamente e começou a andar de um lado para o outro, seu ciclo constante parecia que rasgaria o chão. De repente, Jamile parou, colocou a mão na testa e soltou um pesado ar. Sua fisionomia refletia uma angústia, que de algum modo lhe consumia o espírito. Foi doloroso assisti-la naquele momento.
— Ele é... — repeti a sentença e arqueei a sobrancelha, esperando a resposta.
— Seu! — Pude sentir a derrota na sua fala.
— Meu? — Franzi o cenho. — Como assim?
— É pra vocês ficarem juntos. — Olhou para mim, tentando segurar as lágrimas. Todas as suas defesas estavam despencando
— Quem lhe disse isso?
— Bom... — Ela desviou o olhar e disse: — Na verdade, ninguém. – Suspirou o ar gélido. — Contudo, isso acontecerá cedo ou tarde. O tempo se encarregará de fazer isso. — Murchou os ombros e vi mais uma lágrima descer. Ela limpou-a em seguida.
O estado de Jamile diante de mim encheu meu coração de compaixão, e também me sobreveio uma breve reflexão: Será que minha amizade com Nicolas impedia que outras meninas se aproximassem dele? Ponderei sobre quantas moças se afeiçoaram por ele e se condenaram por achar que estavam interessadas por alguém que aparentemente era comprometido.
Um mau presságio passou pelo meu coração. Nossa amizade era bênção, disso tinha certeza. Todavia podia ser uma barreira para outros. E eu não tinha a chance de explicar aos demais, o que havia realmente entre nós, porém, não deixaria aquela amada irmã em Cristo no sofrimento.
— Conheço o Nicolas há sete anos. Acho que o tempo não fará nada para que nós dois fiquemos juntos. Não foi isso que Deus planejou. — Tentei ser o mais convincente possível.
Ela me fitou, mas não disse nada.
— Jamile, faz um tempo que percebo seus olhares afetuosos para Nicolas. — Ela ficou rígida. — Confirmei mais isso esta noite quando vi seu incômodo com a pergunta dos meninos. Nós explicamos tudo para eles. Se você tivesse ficado, teria compreendido também. Quer me contar como isso aconteceu?
Ela apertou os lábios e mirou o horizonte, provavelmente seus pensamentos estavam em conflitos sobre expor seus sentimentos ou não. Esperei com paciência por qual caminho decidiria.
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Uma Porta de Esperança
Spiritual"Portanto, que o Deus da ESPERANÇA vos abençoe plenamente com toda a alegria e paz, à medida da vossa fé nele, para que transbordeis de ESPERANÇA, pelo poder do Espírito Santo". Romanos 15:13. No ano de 2002 uma seca assolou as comunidades ribeirin...