Certa Vez...

Uma carta para a solidão

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Tempo. É disso que precisamos quando estamos com pressa.

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Hoje acordei cedo pra te escrever essa carta. Doeu o pensamento em você, sabia? Tive uma dissonância de constantes segundos, engoli remédios para ver se passava. Eu sei que não se importa, mas você se importa com alguém? Ainda não sei do atual presente, mas sei dos presentes passados. Será que tem tempo? Por favor, não tenha pressa para ler esta carta só por saber quem a escreveu ou porque já ouviu o nome da pessoa. Eu sei que não sou uma lembrança boa, nem um pensamento passageiro que causa arrependimento de não reviver. Também não sou seu sonho quando sonha, sei que prefere titular como pesadelo.

Nas seguintes pautas talvez me odeie, ou finalmente vai ter coragem para confessar o egoísmo guardado. Estou indo embora e não é embora para outra cidade, é da sua vida mesmo, outrem deve aparecer daqui a algumas horas. Vou dar tempo para você voltar, estou contando os segundos que estão se passando, mas não tenha pressa em terminar de ler. Para quê o tempo serve? Embora seja tarde depois, acredito que agora esteja pouco preocupada, mas eu também sei disso.

Sei tanto de você que parece que não sei nada de mim. Você sabe? Desculpa as interrogações idiotas, mas eu sou assim. Uma pergunta idiota, um pontinho de reticência que insiste em estar ali. Mas olha que estranho, eu não coloquei pontinhos de reticências nessa carta. Sabe o porquê? É porque eu sei no que está pensando.

"Ela é tão louca que não sei do seu saber."

Só que eu sei que não é assim que as coisas funcionam, e o seu tempo nunca vai acabar pois o não sei do saber é incerteza. Então você tem todo o tempo do mundo para pensar, responder esta carta e, enfim, terminar o começo de algo que já acabou. Espero que também não tenha pressa de sentir ansiedade para acabar com a saudade, como eu tenho de matar a solidão, que é a única coisa que recordo de saber sobre mim.

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De: Saudade.
Para: Solidão.