Certa Vez...

Uma carta para o esquecimento

Escrevo aqui,
com meus pensamentos longes e lá atrás, para não falar em voz alta, pois não consigo.
Lembra-se de mim?
Talvez a dúvida de um mesmo talvez seja o problema; você não lembra.

Cada pedacinho de memória é uma parte de mim, e sabe? Eu estou tão despedaçada, os pedaços que me componhem são tão poucos e meros. As raízes das árvores das folhas estão sendo consumidas pela idade, pelo tempo, pela dor, pela mágoa. As raízes são as pessoas, as árvores os álbuns e, as folhas, as fotografias.

Tantos sorrisos, abraços, imagens que expressam momentos passados felizes e inesquecíveis. Isso soa familiar? Tão familiar e estranho, para você. Para mim, um tanto devastador. Mas, apesar de ser algo devastador para mim, ainda é uma lembrança. Uma lembrança, que você não lembra.

Oh, tantos anos e nunca nos separamos, como pode não lembrar? Como isso aconteceu? Como pôde deixar isto acontecer? Eu ainda lembro de você, e saber que não lembra de mim é me machucar sem intenção, mas com o pensamento. É me julgar sem apontar meus erros, é me matar sem usar suas mãos, é me prender sem me segurar.

Lembrar de algo é pensar, é refletir e, sem se dar conta, reviver. Você pode achar isso precipitado, ou não, já que não se lembra, mas eu lembraria de você mesmo onde não há memória. Eu seria a alma pecadora, mas não arrependida.

Eu lembraria de você até o fim da minha vida.

As marcas que existem em você, são motivos de lembranças, de pensamentos, de reflexão. Você às viveu para tê-las, lembre-se disso! Lembre-se de quem você foi, lembre-se das lembranças, lembre-se de lembrar para lembrar! Não lembre de lembrar para não esquecer.

Esquecimento, não esqueça-se de mim, pois, mesmo com a idade avançada, com o tempo ultrapassado, eu lembro de você, e lembro do que me faz doer o coração; você não lembra mais.

Mas lembre-se, porque eu não esquecerei.

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De: Lembrança
Para: Esquecimento