CAPÍTULO 6-DONATO AGRIDE TIAGO

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Tiago não saberia dizer que horas seriam aquelas, pois já estava dormindo profundamente quando percebeu que o mecânico voltava do encontro com a namorada.

O rapaz acompanhou os movimentos do amigo: Don desligou o carro. Demorou a descer, Tiago estranhou. Depois, o rapaz ouviu barulho que ele mexia na cozinha. Talvez fosse tomar um copo de leite ou mesmo de água.

Longos minutos se passaram, após os movimentos cessarem estranhamente. 

Os quartos ficavam no segundo andar e a cozinha no primeiro, por isso era possível ver, através da janela de vidro,  o reflexo da luz lá embaixo.

Tiago decidiu fingir que não fora acordado pelo pai adotivo, visto que não queria deixá-lo constrangido pelo incômodo. Porém, esperou longos minutos e percebeu que Don não fora para o quarto. Estava tudo estranhamente quieto.

"Será que eu me distraí e ele já foi dormir?", imaginou Tiago confuso.

O rapaz notou que a cozinha estava silenciosa, mas a luz ainda estava acesa. Ficou preocupado. Decidiu investigar.

O órfão levou um grande susto quando percebeu que a porta da cozinha estava escancarada e que a luz  realmente ainda estava  acesa. 

Tiago olhou para o cômodo vazio. Donato não estava na cozinha. Talvez tivesse voltado lá fora, imaginou. Poderia ter se esquecido de algo no carro, pensou. Quando foi até a porta, notou que o carro estava estacionado enviesado, de uma forma totalmente irregular. Os faróis ainda estavam acesos e a porta aberta. 

Tiago saiu da cozinha e procurou o mecânico também na garagem e não  o encontrou.Apagou os faróis e fechou o carro.

Voltou preocupado, pensando que talvez ele estivesse no banheiro, mas, por que não teria fechado a porta do carro ou mesmo a porta da cozinha? Don era sempre tão cuidadoso...não entendeu.

O som de alguém vomitando atraiu sua atenção para o banheiro.

O rapaz entrou devagar, ressabiado. A visão o chocou imediatamente: Donato estava sentado no vaso e com a cabeça entre as pernas. Olhava a poça de vômito que estava no chão, entre as suas pernas.

O cheiro forte de álcool provocou uma náusea insuportável em Tiago, que lembrou-se logo  das bebedeiras do próprio pai. 

Observou o amigo confuso: Donato nunca bebia, pois era contra os cigarros e o álcool.

Tiago aproximou-se lentamente do mecânico, que parecia estar dormindo. Temia que ele pudesse se desequilibrar e cair.

_Don...você está bem?

Não obteve resposta.

_ O que houve? Você bebeu?

O rapaz levou um susto enorme, quando Donato ergueu o punho com violência e desferiu um murro em seu rosto, acertando em cheio o olho esquerdo do jovem. 

_Que isso, Don?_gemeu o rapaz._Eu só quero ajudar!

Tiago sentiu o olho queimar e parecia ver estrelas diante da vista agredida.

A voz de Donato estava enrolada, mas foi possível entender o que ele dizia:

_Ninguém está pedindo a sua ajuda, moleque!

Donato levantou-se ruidosamente e empurrou Tiago para fora do banheiro pequeno e simples.

_Vá dormir e não encha o saco, enxerido! Seu intrometido!

Tiago olhou para a porta que se fechara atrás de suas costas, querendo abri-la novamente, mas temendo que  o outro se irritasse com ele.

Esperou um pouco. O som de vômito repetiu-se mais duas vezes, antes dele se decidir a pedir a  ajuda de Norma e Andreia.

Assim que explicou a situação, as duas mulheres avisaram que estavam indo socorrê-lo, apesar de já passar das duas da manhã.

Tiago decidiu sentar-se numa cadeira em frente a porta. Temia que Donato saísse e fosse pegar o carro ou mesmo voltasse para a rua.

Nos longos minutos que se passaram, o rapaz ficou olhando fixamente para a porta, como se temesse que Donato saísse sem que ele o visse.

Aliviado, Tiago percebeu que as amigas chegavam.

Norma foi a primeira a entrar, ainda de pijama e vestindo  um roupão rosa por cima. Assustou-se ao ver o rosto do rapaz e aproximou-se:

_Tiago, o que foi isso? 

Tiago não respondeu pensando como esconder das duas o que o amigo fizera.

_Meu Deus! O Don te bateu?_adiantou-se Andreia colocando as mãos no rosto e arregalando os olhos sem acreditar.

Tiago assentiu e deu um gemido quando Norma o examinou.

 A bombeira foi até a geladeira e pegou alguns cubos de gelo. Enrolou-os num pano  de prato limpo e mandou Tiago segurar sobre a área afetada pela agressão de Don.

_Acho melhor pedirmos reforços, porque ele está que nem um touro bravo aí dentro, gente._alertou o rapaz.

Norma ignorou o comentário e não se afastou de Tiago, olhando-o penalizada:

_Isso vai ficar feio, daqui a algumas horas...ah se vai...

Andreia foi bater na porta do banheiro:

_Don! Abra logo esta porta ou eu vou arrombar!

Perceberam que o mecânico não havia trancado a porta.

Donato estava  sentado no vaso e havia encostado a cabeça na parede de azulejos decorados e dormia profundamente.

_Hugh!_gemeu Andreia._Tem certeza de que este vômito todo é só dele, Tiago? Tem merda aqui pra uns três!

_Meu Deus...o Donato enlouqueceu, gente. O cara nunca bebe álcool e agora faz esta lambança toda?_Norma também foi olhar a cena deprimente.

Andreia suspirou e entrou no banheiro, verificando o amigo. Ele não acordou.

_Isso só tem um nome, gente...decepção amorosa, posso apostar! Sujou a camisa, braços, pernas...vai ter que ser um banho.

_Vamos dividir as tarefas: eu e a Andreia damos banho nele e depois você limpa o banheiro, Tiago. Por enquanto, continue a segurar este saco de gelo no olho, ok?!

Apesar dos  protestos de Don, que dizia que já tomara banho naquele dia, Norma e Andreia o despiram e puxaram o chuveirinho para dar um banho nele ainda sentado no vaso.

Terminaram tudo depois das três da manhã, quando Donato já estava limpo, de  pijama e deitado na cama.

As garotas, temendo que ele viesse a causar mais  problemas para Tiago, decidiram dormir ali mesmo.

Tiago deitou-se, mas não conseguia dormir. 

O órfão reconheceu que arrependeu-se por ter chamado as garotas, pois, se elas não estivessem ali, talvez ele tivesse conseguido acalmar Don...convencido ele a deixá-lo dar banho nele...Tiago poderia tocar naquele corpo que ele aprendera a amar e também poderia dormir na cama de Donato, para o caso dele precisar de algo.

O rapaz sentiu o corpo imediatamente arrepiar-se imaginando os dois juntos numa cama. Recriminou-se: Donato era o seu pai adotivo. Talvez o seu pai biológico estivesse certo e ele fosse um garoto dos diabos. 

Ao invés dele, Andreia decidira dormir com o amigo, enquanto Norma dividia a cama com Tiago.

Um desejo indiscreto invadiu a mente de Tiago e nela permaneceu, até que ele conseguiu dormir: torceu para que Donato e Amanda tivessem terminado o namoro.

O rapaz sentiu-se arrependido por desejar aquele sofrimento para o pai adotivo que amava a namorada.







O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora