Donato parou o carro num mirante de onde se via toda a cidade lá embaixo. Baixou a cabeça que explodia como se tivesse enchido a cara com alguma bebida vagabunda!
Tiago não podia ter deixado aquele sentimento nascer em seu peito, pensou.
Don lembrou-se de tudo, desde o início...desde a primeira vez em que o vira chegar com o pai, o menino raquítico, assustado, agarrado a um carrinho sem rodinhas.
Quantos anos ele tinha na época? Dez? Nove? Ele sempre aparentava ser mais jovem...sempre...como agora...aos 25 anos.
Don lembrou-se de um episódio que ocorrera na véspera do velório da família de Tiago.
O garoto estava na oficina, esperando liberarem os corpos e Andreia tentava aplicar um pouco da psicologia que aprendera na faculdade com ele. Os dois não perceberam que Donato estava ouvindo a conversa e talvez Tiago já estivesse pressentindo que seria rejeitado por todos, inclusive pelo mecânico.
_Venha. Vamos rezar._disse Andreia carinhosamente.
_Não. Não quero rezar._retrucou dando um passo atrás e evitando pegar, de braços cruzados, a mão que ela lhe estendia.
_Por quê? Sua mãe não te ensinou a rezar, Tiago?
_Ensinou, mas eu não vejo por que rezar.
_Devemos rezar para agradecer a Deus pelas coisas boas...para pedir que Ele ouça os nossos apelos...
_Ele nunca atende o que eu peço...e eu não tenho nada para agradecer.
Fez-se silêncio e Andreia pareceu ficar chocada.
_Não acredito em Deus. Ele não existe._finalizou o rapaz.
A televisão estava ligada, pois acharam que ele se animaria com tantos canais de TV a cabo, mas ele não olhara para o aparelho uma única vez.
Neste momento, começou a passar uma propaganda dos Médicos sem Fronteiras mostrando as crianças negras morrendo de fome na África.
Tiago olhou para a tela e apontou:
_Veja aquilo ali. Veja todas aquelas crianças com fome...doentes...onde Ele está que não as ajuda?
Andreia sabia que era comum as pessoas se revoltarem contra Deus quando estavam sofrendo.
_Deus as ajuda sim, Tiago.
_Ajuda é? Se Ele fosse tão bom assim, elas nem precisariam ficar pedindo ajuda...Ele não deveria deixar acontecer estas coisas ruins com elas...Ele não deveria deixar coisas ruins acontecerem com ninguém!
_Tiago, pelo amor de Deus, peça perdão por falar assim de Deus!_apelou Andreia chocada por ouvir um garoto tão revoltado.
_Não...não vou pedir. Lembro de minha mãe ouvindo a missa num radinho de pilha todos os dias e o padre falando"agradeço pelo sofrimento, porque é ele que me aproxima de ti, ô Senhor". Não! Eu não agradeço pelo sofrimento, por tudo que vivi, por Deus ter nos dado um pai como o meu...um pai que me batia e me fazia dormir pelado no inverno, quando eu não conseguia fazer o que ele mandava. Não! Não vou agradecer a Deus...não vou pedir perdão! Deus não existe!_gritou.
Donato achara melhor intervir, afinal, fora ideia dele deixar o garoto ali até que chegasse o momento do enterro.
_Tiago, pare com isso._o mecânico falou autoritário assim que entrou no quarto.
O garoto o olhou assustado, percebendo que Donato tinha ouvido o que ele dissera contra Deus.
Tiago começou a chorar:
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O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gay
RomansaTiago Hernane vivia um conflito: deveria lutar pelo amor de Donato, o seu pai adotivo que salvara a sua vida, mas que o desprezava por ele ser homossexual, ou deveria dar uma chance para Álex, um homem enigmático, cercado de mistérios e capaz de in...