CAPÍTULO 3-HERANÇA INDESEJÁVEL

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Os três caixões estavam alinhados lado a lado na capela velório simples. Havia apenas uma coroa de flor que Andreia aconselhara o mecânico a comprar.

Pouquíssimas pessoas compareceram ao enterro dos três familiares de Tiago.

O gênio violento de Afonso afastava as pessoas, inclusive a família de Elizabeth, mãe de Tiago.

Duas irmãs de Elizabeth choravam ao lado dos caixões. O pai e um irmão de Afonso permaneceram calados, apenas marcando presença e sem interagir com ninguém. 

Foi estranho como nenhum dos parentes aproximou-se de Tiago, como se o evitassem a todo custo.

Amanda, namorada de Donato, estava junto com o namorado, que não tirava a mão do ombro do adolescente órfão, como se temesse que ele não suportasse a dor da perda e voltasse a desmaiar.

O velório foi curto, pois o estado dos corpos estava péssimo e o dia estava muito quente.

O tragédia acontecera há quase dois dias, tempo em que a polícia examinou o caso atentamente, além de examinar as mãos de Tiago procurando vestígios de pólvora para descartar o envolvimento do rapaz em algum dos assassinatos.

Donato ficou indignado, mas disseram a ele que era o proceder padrão examinar as mãos de um possível suspeito. Melhor descartar logo a participação de uma segunda pessoa nos crimes, então.

A presença de álcool numa dose cavalar no corpo de Afonso comprovou que ele não devia estar em seu estado normal quando praticou os crimes e se matou.

Aos poucos, todos foram indo embora, inclusive Amanda, que precisava dar aulas. 

Donato permaneceu até o fim com o adolescente e, num dado momento, o mecânico percebeu que restavam apenas os dois no cemitério vazio.

_Tiago, você viu pra onde foram os seus tios e o seu avô?_perguntou Donato desconfiado.

_Acho que voltaram para as suas casas, pois nada mais os prendia aqui._o adolescente respondeu com os olhos fixos nas três sepulturas.

Donato o convidou para que fossem saindo e o rapaz não se opôs. Ao chegar do lado de fora do cemitério, Tiago começou a olhar para o fim da rua, em silêncio, na direção em que morava.

_Os seus parentes combinaram algo com você? Eles vão te buscar depois ou mesmo te mandaram encontrá-los em algum lugar, Tiago?_indagou o mecânico esperançoso.

Precisava voltar logo para a oficina, pois haviam muitos serviços pendentes. Acreditou que, no velório, iria separar-se do garoto órfão, mas começou a achar que avaliara errado.

O garoto voltou a falar, ainda olhando para o fim da rua:

_Por que fariam isso? Eles não me conhecem direito. Meu pai abandonou a família, pois brigou com todo mundo e ao mesmo tempo, ele não deixava a minha mãe entrar em contato com a dela, Don. Quando minhas tias descobriram que a minha mãe estava me esperando, foram até o hospital e a chamaram de irresponsável, minha mãe me contou um dia, justificando por que elas não nos visitavam. Todo mundo sabia que o meu pai era violento e aí aconselharam a minha mãe a fugir comigo e com a Mia, quer dizer, Sofia. Meu pai descobriu o que elas haviam aconselhado, expulsou os parentes da minha mãe e disse que se minha mãe tentasse fugir conosco, mataria nós três. A gente morria de medo do meu pai, Don.

O garoto passou a língua pelos lábios ressecados, antes de continuar:

_Ouvi os meus parentes conversando, quando fui ao banheiro e eles haviam se reunido no fim do corredor, Don. Meu tio dizia  que nem com a venda da casa e  da caminhonete vai dar pra pagar as dívidas que o meu pai deixou e ainda tinha largado pra trás  um filho pra eles terminarem de criar. Acho que todos os outros concordaram.

O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora