CAPÍTULO 57-O CASTIGO

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Álex decidiu avisar logo para as amigas de Tiago que ele fora encontrado.

Felizmente, o telefone não estava no viva-voz, assim, Tiago foi poupado de saber que Andreia ficara tão preocupada com o seu desaparecimento que teve uma crise de hipertensão e precisara ser internada.

Álex chegou na garagem de seu apartamento e desceu apressadamente. Deu a volta e pegou o namorado nos braços.

Tiago ainda estava mudo, o que deixou o médico mais apreensivo ainda, pois preferia que ele estivesse desabafando, chorando, expressando tudo o que estava sentindo. Daquele jeito, ele parecia estar em choque, ainda.

Álex subiu as escadas, abriu a porta e entrou. Dirigiu-se diretamente para o banheiro com o namorado nos braços.

_Agora você já pode me soltar, Tiago._disse o fisioterapeuta com a voz suave tocando o ombro do seu discípulo delicadamente.

Tiago baixou os olhos sem entender o que ele queria dizer  e, só neste momento, percebeu que, sem sentir, cravara as unhas no braço de Álex.

O discípulo retirou a mão lentamente e percebeu as marcas brancas e profundas que foram lentamente  tingindo-se de sangue devido à pressão ali colocada.

Foi só neste momento que Tiago começou a chorar com soluços altos e descontrolados.

Os joelhos dobraram-se e ele teria caído no chão, se não fosse o mestre para ampará-lo.

_Ei, meu amor...agora já está tudo bem, está tudo bem..._a voz do médico era calma e reconfortante._Eu vou cuidar de você, meu querido.

Aos poucos, enquanto a banheira enchia-se rapidamente, o discípulo pode perceber que o mestre lhe aplicava massagens relaxantes e o poderoso óleo de mestra Ogima.

Álex sussurrava palavras de carinho, enquanto dava pequenos beijos carinhosos no seu discípulo que ainda chorava inconsolável ainda não acreditando em tudo o que tinha lhe acontecido.

Porém, nem mesmo naquele momento, aquela voz monstruosa poupou sua vítima:

_Claus quer Minouse...

Aquilo foi demais para Tiago que agarrou-se ao mestre totalmente apavorado, por perceber que alguém, além deles, estava ali, na intimidade daquele banheiro.

_Não...eu não quero ouvir mais esta voz, Álex...eu não quero...

Álex o olhou aflito:

_O que você está ouvindo, Tiago? Por favor, me fale, meu anjo!

Tiago agarrou-se mais ainda ao mestre, em pânico:

_Ali...ali, Álex...aquela sombra! Ela está ali, Álex...ali!

O rapaz apontou para um ponto do banheiro. Álex olhou a direção indicada e não percebeu nada.

Tiago pegou a mão do mestre com urgência e colocou na própria testa:

_O toque, Álex...por favor...faça o toque em mim...eu não quero ouvir...eu não quero ver...eu não quero sentir este fedor insuportável...por favor...faça o toque, agora!

O mestre não protestou e atendeu o discípulo imediatamente, percebendo que ele já passara por provações suficientes para aquele dia.

O silêncio  tomou conta do aposento, quebrado apenas pelo som reconfortante da água que enchia a banheira.

O médico continuou a apoiar o corpo de seu discípulo recostado em seu peito.

De repente, lembrou-se que Tiago havia falado, lá na papelaria, que tinha colocado as palavras que estava ouvindo dentro do bolso da calça.

Álex estendeu a mão e alcançou a calça de Tiago, procurando ansiosamente pelo papel que desejava.

O fisioterapeuta Álex Toledo arregalou os olhos ao ver o que estava escrito naquela folha. O papel caiu de suas mãos, como se as queimasse.

O pânico tomou conta do mestre de Tiago:

_Não...não...não! Isso não pode estar acontecendo...de novo não, meu Deus! Não pode ser! Mestre Tanko, por favor.... não! O que foi que eu fiz?

Os braços envolveram o discípulo de forma protetora, como se, de repente, ele temesse que alguém viesse arrancá-lo de suas mãos.

O medo envolveu o médico que desejou que Tiago estivesse ali, lúcido, ao lado dele para lhe fazer companhia.

Subitamente, a água outrora quente e agradável, foi esfriando, esfriando, até gelar completamente. O banheiro pareceu uma geleira e Álex arrepiou-se mais assustado ainda, intuindo que alguém estava chegando.

Um pavor que beirava à insanidade tomou conta do médico quando ouviu uma risada que era sua velha conhecida.

Álex Toledo quase desmaiou de susto quando percebeu a sombra que se materializou ali, bem próxima à parede do banheiro e  bem na sua frente.

Uma figura sinistra encarou o homem assustado com um sorriso maldoso nos lábios deformados.

O ser não tinha mais de um metro de altura. A face lembrava a de um morcego deformado. Aquelas orelhas pontudas, os lábios parecendo leporinos ao se encontrarem daquele jeito  com o nariz, parecendo um orifício só. Os pelos negros em tufos pelo corpo, como se tivessem sido porcamente arrancados em locais alternados. A cabeça pequena e oleosa, como se alguém tivesse lhe passado óleo queimado...a ausência de roupas, que o fazia parecer também um macaco. As pernas estavam arqueadas e ele estava agachado, como se preparasse para iniciar uma corrida. O que mais causava repulsa eram aqueles olhos brilhantes e malditos que Álex conhecia muito bem.

Quando as mãos, que estavam encolhidas rentes ao peito, se esticaram para apontar um dedo longo e com unhas enormes e imundas  para os dois homens dentro da banheira, o médico apertou Tiago um pouco mais de encontro ao peito.

Definitivamente, não havia dúvidas: Álex conhecia aquele demônio de seus tempos com mestre Turano...Ojainerize havia atendido ao seu apelo!

_Minouse..._a voz era arrastada e feriu os ouvidos do médico acendendo lembranças malditas.

O ser se moveu em câmera lenta, como se fosse um felino que iria atacar a qualquer momento.

_Espero que tenha gostado do meu presente, Minouse. Gostou das algemas? Foi moleza influenciar aquele viciado para me dar uma mãozinha na minha recepção ao meu brinquedo favorito. 

Álex agarrou Tiago mais uma vez, ao ver o dedo longo e asqueroso do demônio apontar diretamente para Tiago:

_Eu quero ele, Minouse...eu quero..._um som gutural insuportável que mais parecia um rosnado saiu do fundo da garganta daquela coisa monstruosa._Vai ser uma delícia brincar com ele, Minouse.

Uma gargalhada encheu o banheiro enquanto a imagem se desfazia numa fumaça escura.

Foi só naquele momento que Álex percebeu que entoava um mantra em voz alta, enquanto  começava a chorar.

O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora