Domingo. Três horas da madrugada.
Donato levou um susto quando o telefone fixo da oficina tocou e o acordou no meio da noite.
Rezou para que tivesse ouvido errado, para que , devido ao cansaço, tivesse se enganado com algum outro som.
Sabia que, naquela hora, uma ligação só poderia significar uma coisa: alguém precisando de socorro porque o carro não pegava.
Era sempre a mesma coisa: eles bebiam demais e, quando iam pegar o carro, ele não ligava. Na maioria das vezes, não havia defeito algum no veículo e sim no motorista que estava bêbado e se confundia com os controles da máquina.
Realmente, com o barulho que a chuva estava fazendo nas carcaças de carros velhos e de motores que espalhavam-se pelo pátio de sua oficina, ele poderia simplesmente fingir que não estava ouvindo o aparelho, mas, Donato tinha o coração muito bom. Ele sabia que não conseguiria dormir imaginando que poderia ser algum parente seu ou mesmo de Amanda, sua namorada, pedindo ajuda.
As pessoas costumavam ligar para a professora primária, que namorava com o mecânico, para pedir que ela intercedesse junto ao namorado para que ele fosse socorrê-los.
A vida de um mecânico não era fácil em uma cidade grande como aquela. Certamente, havia outras oficinas, mas a sua era considerada a melhor da região!
Bem que dona Olga, sua mãe, queria que ele fosse médico ou professor, para manter as mãos mais limpas, como dizia ela...ou para seguir os passos do avô, que fora médico, ou do pai, que fora professor. Mas Donato parecia ter nascido com gasolina e não sangue nas veias, tanto que, aos 12 anos conseguiu ligar o carro do pai escondido e, entre gritos de reprovação e blasfêmias, dirigir em linha reta da garagem até o portão da casa, que ficava há uns duzentos metros.
Isabel, a irmã mais velha, advogada de 32 anos, concordava com a mãe: mecânico era uma profissão para alguém que não tinha formação universitária, era apenas um hobby. A outra irmã, Marcela, 29, já achava o máximo ver o irmão mais novo enfrentar os pais e, mesmo tendo feito medicina, para agradar a mãe, depois fazer mecânica, para satisfazer um sonho de infância dele mesmo.
Sob protestos dos pais, Donato saiu de casa e alugou aquele prédio de dois andares, abrindo o seu próprio negócio.
Rapidamente a fama do mecânico formado em medicina cresceu e ele teve que contratar ajudantes, comprar grandes máquinas para equipar aquela, que se tornou a maior oficina mecânica da cidade.
Com o tempo, a família foi respeitando a escolha do filho caçula que comandava uma equipe com seis funcionários, sendo um deles uma garota.
Donato levantou-se e decidiu ir à cozinha beber um pouco de água, como se isso fizesse o telefone parar de tocar. Realmente, houve um pequeno intervalo, mas, logo depois, o aparelho voltou a berrar.
O mecânico de 25 anos, bonito, moreno e forte, ficou irritado ao ver na bina, que ligavam de um telefone público e ainda a cobrar! Puxou o próprio aparelho da tomada.
_Ligar a cobrar já é demais! Gente folgada...Que se danem! Se realmente for alguém próximo a mim, irá ligar para o meu celular, pronto!_falou entre dentes voltando a se enrolar nos cobertores na cama confortável.
Deveria estar fazendo uns dez graus ou menos, naquela noite, pois os três edredons não estavam sendo suficientes.
O mecânico achou estranho não conseguir voltar a dormir e revirar-se na cama. Deitara-se tão cansado, pois o dia fora cheio. O dia seguinte prometia ser mais atarefado ainda e eles teriam que recusar clientes e trabalhar de portão fechado.
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O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gay
RomansaTiago Hernane vivia um conflito: deveria lutar pelo amor de Donato, o seu pai adotivo que salvara a sua vida, mas que o desprezava por ele ser homossexual, ou deveria dar uma chance para Álex, um homem enigmático, cercado de mistérios e capaz de in...