CAPÍTULO 70-ANDREAS

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Andreas olhou aquele belo homem calado ao seu lado e, realmente, sentiu-se incomodado.

Ouvi-lo chamar, com tamanha adoração e desejo, o nome de outro homem no meio de seus delírios noturnos provocou pensamentos lascivos, excitados no Touro Negro, entretanto reconhecia que teria que ser discreto para não espantar "a presa".

_Sou casado, porém, fico muito tempo fora de casa, viajando pelo país e levando minhas cargas. Minha pequena e doce Danuza deixou de me atrair já no segundo ano de casamento, mas, como gostava dela, continuei casado por mais de trinta anos por comodismo, acredite. Com o passar dos anos e as cobranças dela na cama, fui me tornando cada vez mais impotente.

Aquela palavra ainda incomodava Donato.

_Tomei Viagra suficiente para me provocar dois infartos. Quando saí do hospital pela segunda vez, decidi deixar os negócios nas mãos de meus filhos. Eu tinha uma pequena empresa que prestava serviços de contabilidade. Como juntara um bom dinheiro com os negócios, pois sempre fui bom administrador, abri minha transportadora que, graças a Deus, deu muito certo. Tenho vários caminhões rodando pelo país e mais de 30 funcionários. Porém, gosto de dirigir de vez em quando e, nessas andanças, confesso que vi e ouvi histórias bem parecidas com a minha de caminhoneiros que estão fugindo de casamentos fracassados. 

Andreas parou um pouco. Aquela era a deixa pra Donato se abrir, mas ele, mais uma vez, imaginou que não havia necessidade de falar sobre a sua vida, já que logo estaria fora dali...porém, daquela vez, surpreendentemente, um desejo de se abrir quase veio à tona.

Andreas encheu mais uma vez o copo do mecânico, imaginando que ele precisaria de mais um incentivo para quebrar aquele gelo.

_Realmente, esta bebida é muito boa._elogiou o médico, finalmente. _De que é feita?

_Ervas que aquecem um homem em dias frios pelos caminhos solitários deste país. Não se preocupe, doutor Donato, já disse que não tem álcool.

Donato estranhou quando as primeiras palavras saíram de sua boca:

_Não sou médico, apenas estudei medicina, mas não exerci a profissão.

Estranhamente, a mesma razão que levara Don a ficar calado até aquele momento agora o fazia pensar em falar: se iriam separar-se em breve, por que não abrir-se com aquele homem que estava sendo tão gentil com ele? Quando cada um seguisse o seu caminho, ele nem se lembraria do que tinha escutado ali, pensou Donato virando mais um pouco daquele estimulante.

_Estudei medicina, mas não atuei na profissão por um só dia. Talvez por me sentir culpado por ter ajudado os meus colegas da faculdade a espancarem um rapaz. Sei que estávamos todos bêbados...só tínhamos dezoito anos, mas é como se o sangue dele estivesse em minhas mãos. Resolvi seguir, então, a minha segunda vocação que era ser mecânico. 

Andreas voltou a encher o copo de Donato, quando ele estendeu-lhe o caneco.

_Há mais de dez anos, fui acordado no meio da noite por um rapaz de 15 anos que fugia de uma tragédia familiar. Criei o garoto como se fosse o meu filho. Ele era o meu orgulho, até que, um dia, durante uma tentativa de assalto na minha oficina, ele, já com mais de vinte anos,  se jogou entre mim e o ladrão, para me defender. Ao repreendê-lo pela imprudência, pois o ladrão poderia ter atirado nele, Tiago declarou-se apaixonado por mim. Espanquei o meu filho adotivo violentamente e o expulsei de casa. Hoje ele mora com o namorado num apartamento no centro da cidade. Depois que Tiago deixou minha vida, me tornei impotente. Não conseguia mais ficar com as garotas. Durante um acidente de trânsito, sequestrei o rapaz, algemei e torturei. Confesso que estava sob o efeito da bebida, mas não consigo me esquecer da expressão dos olhos dele me olhando e implorando para que o libertasse. Agi como um monstro.

Andreas esperou ele continuar. A fala não ocorreu.

_Tomou quanto tempo de cadeia?

_Essa é a ironia de tudo: Tiago não me denunciou nem na primeira e nem na segunda vez em que o ataquei, acredita? Acho que, assim como me castiguei por matar o rapaz na faculdade...também me castiguei, me tornando impotente, após sequestrar Tiago e fazer tudo aquilo com ele.

Um longo silêncio tomou conta dos dois, até que, quando Donato pediu mais um pouco daquela bebida, Andreas recusou-se a atendê-lo:

_Já é o bastante para a sua primeira vez, mecânico. Eu já estou acostumado a este chá e não sinto mais os seus efeitos.

Donato piscou várias vezes, percebendo que o rosto do caminhoneiro parecia meio embaçado.

_Que efeitos? Não senti nada de desagradável, pelo contrário. Me sinto tão leve, solto, descontraído...

Andreas chegou atrás de Donato a tempo de evitar que o mecânico caísse no chão. 

Donato pode sentir aquelas mãos enormes e fortes amparando suas costas.

Andreas o ajudou a chegar até a sua barraca. Entrou junto com Donato, mas, ao contrário do que ele esperava, Andreas não foi embora e sim fechou o zíper da barraca atrás de si, protegendo os dois do frio lá fora.

Donato ficou estático quando percebeu que o negro o estava despindo lentamente.

No momento seguinte, percebeu que o caminhoneiro também estava se despindo.

O mecânico sentia a cabeça leve e calma e achava que algo estava errado ali, naquela situação: dois homens completamente nus dentro de uma barraca pequena como aquela.

Como se fosse em câmera lenta, Don viu o caminhoneiro aproximar-se lentamente, até tocar o seu corpo o envolvendo com aqueles braços musculosos.

Donato sabia que deveria empurrar o outro, afastá-lo de forma enérgica, exigindo que ele o deixasse em paz, que ele fosse para a sua barraca...mas, ao contrário disso, o mecânico continuou sentindo as mãos de Andreas passearem pelo seu corpo, deixando uma corrente de fogo em cada lugar que passava. 

Mais tarde, Don iria admitir que, naquele momento, ele não pensou em mais nada. Só lembrou de chamar pelo nome de Tiago diversas vezes.

Quando Donato acordou no outro dia, sentiu um gosto estranho na boca...um gosto que nunca sentira em sua vida e algo lhe dizia que era o gosto de algo proibido.

Imaginou que, talvez, a bebida tivesse um sabor diferente, com o passar do tempo.

A cabeça parecia aérea...vazia...relaxada...o mecânico admitiu que estava sentindo-se muito bem.

Donato assustou-se ao perceber que estava completamente nu.

Não demorou a perceber algo totalmente estranho naquele cenário: a sua impotência havia desaparecido.

_Meu Deus!_deu um salto dentro da barraca._O que aconteceu aqui?

Se não estivesse em posição tão estranha e constrangedora, teria ficado feliz por perceber que resolvera o seu problema.

Tentou lembrar-se do que acontecera na véspera: ele bebera demais aquele chá estranho que, ele imaginou, parecia ter algum alucinógeno.

Lembrou-se que tombou para trás, porém, não se lembrava de ter atingido o chão.

Forçou  a memória e lembrou-se que sentiu um par de mãos enormes e firmes em suas costas, o que evitou que ele caísse e se machucasse sério.

Teve que reconhecer que aquelas mãos só poderiam ser de Andreas!

Flashes vieram a sua mente: era uma mistura de mãos, bocas, braços, pernas...SEXO!!!

Donato ficou apavorado por lembrar-se de ter repetido o nome de Tiago várias vezes enquanto cavalgava em Andreas que gemia excitado debaixo dele.

O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora