Naquele dia, Tiago saíra de casa ainda mais cedo, pois chovia forte e ele teria que segurar a muleta com uma mão e o guarda-chuva com a outra.
Ele estava bem melhor com as massagens e exercícios do doutor Álex, mas ainda estava inseguro de sair apenas com uma das muletas, por isso, foi andando bem devagar.
O rapaz prometera às amigas que pegaria um táxi, mas foi apenas para não preocupá-las. Elas não podiam saber que o dinheiro dele já estava quase no fim e, por isso, ele economizava ao máximo na esperança de voltar a trabalhar antes que ele acabasse. O táxi teve que ser descartado.
Tiago estava concentrado em andar devagar e não cair, quando percebeu um carro parando perto dele.
O rapaz parou imediatamente e o coração quase veio à boca ao ver Donato ao volante.
_Quer uma carona?_o mecânico falou sem olhar para a cara dele.
Imagens de Donato acelerando o veículo assim que ele entrasse e, na sequência, o arremessando para fora do carro o atingiram.
_Não...obrigado. Posso me virar sozinho._gaguejou.
Tiago interpretou aquela expressão como escárnio:
_Estou vendo. Suas amigas não te deram dinheiro para o táxi?_a voz tão amada fez o peito do rapaz doer de saudades, mágoa, mas o pânico superava todas as outras sensações.
Tiago respirou fundo e recomeçou a andar. Melhor seria ir embora e não arriscar-se a falar algo que o irritasse.
De repente, pisou em falso, cambaleou e caiu no chão, numa poça de água.
Assustado, ouviu Donato abrir a porta do carro.
Sem olhar para trás, o rapaz concluiu que ele viria acabar o que começara naquela noite na oficina. A rua estava vazia por causa da chuva forte e seria fácil jogá-lo, sem que ninguém visse, dentro do carro e, após acelerar, o arremessar no asfalto, ou coisa pior, pensava Tiago.
Tentou levantar-se rapidamente e o resultado foi ainda pior, pois tropeçou num hidrante e voltou a cair.
Já no chão, olhou para trás e a visão que teve o deixou apavorado: Donato pegara a muleta e vinha em sua direção com passadas rápidas.
Tiago encolheu-se da melhor forma possível e cruzou os braços sobre a cabeça, esperando o golpe.
O golpe não veio e ele olhou para ver o que tinha detido Donato: doutor Álex Toledo segurava firmemente o braço de Don.
Donato era alto e forte, mas o médico também não ficava atrás e, por isso, os dois se encararam sérios na mesma altura.
_O que pretende fazer?_o médico perguntou com seu tom de voz autoritário.
Don puxou o braço com violência, libertando-se:
_Só queria devolver a muleta para o rapaz._disse o mecânico sem saber quem era aquele que o questionava com tamanha autoridade.
_Informou isso a ele ou deixou que ele pensasse que você terminaria o serviço que começou naquela noite?_agora a voz adotara um tom ameaçador que deixou Donato em alerta.
Percebendo as roupas brancas, intuiu que aquele fosse o filho do doutor João Pedro, o tal fisioterapeuta que cuidava de Tiago numa clínica ali perto.
Talvez Tiago tenha assustado-se mais do que Donato, pois não sabia que o médico já descobrira a verdade.
Um minuto de silêncio invadiu os três ali, no meio da rua, onde algumas pessoas transitavam sem se dar ao trabalho de observar a cena.
Recobrando-se do susto, Donato olhou para Tiago, ainda segurando a muleta com mão firme, pensando que fora um tolo ao pensar que o seu filho adotivo realmente não o denunciaria pra ninguém.
O mecânico encarou o rapaz que estava largado no chão, molhado até os ossos pela chuva fria.
Tiago percebeu um ódio quase palpável vindo do pai adotivo:
_Tenho nojo de você...nojo!
A muleta foi arremessada em sentido oposto ao que o rapaz estava, mas, mesmo assim, ele assustou-se pelo impacto que ela provocou.
Donato partiu sem olhar para trás, em alta velocidade, apesar da chuva, deixando médico e paciente sozinhos na rua.
Dr Álex olhou para seu prometido visivelmente preocupado:
_Você está bem, Tiago?
O rapaz tentou fazer com que os dentes parassem de tremer, mas o resultado não foi bom:
_Acho que sim, doutor Álex.
_Machucou o pé?_perguntou em alerta, ao que o rapaz negou com a cabeça, repetindo que estava tudo bem.
Foi só quando o médico estendeu a mão para ele se levantar, que o rapaz deu um grito, ao perceber que não conseguia levantar o braço.
_Droga! Devo ter machucado o ombro na queda!_desabafou.
Tiago assustou-se com a facilidade que o médico abaixou-se e o pegou em seus braços, erguendo-o do chão e o levando para o seu carro.
O rapaz sentiu-se como uma criança sendo carregada daquele jeito, colocada no banco do carro e presa ao cinto de segurança.
Fizeram o restante do trajeto em silêncio, mas Álex notou o quanto Tiago estava desfeito e trêmulo. O médico não soube avaliar se era frio, medo ou dor (talvez as três coisas juntas), mas sabia que, definitivamente, Tiago não estava bem.
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O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gay
RomanceTiago Hernane vivia um conflito: deveria lutar pelo amor de Donato, o seu pai adotivo que salvara a sua vida, mas que o desprezava por ele ser homossexual, ou deveria dar uma chance para Álex, um homem enigmático, cercado de mistérios e capaz de in...