Álex sabia que o primeiro passo agora era dispensar Alberto, antes que ele soubesse da existência de Tiago. Porém, estava tão afoito por preencher todo o seu tempo tentando convencer Tiago que ele era o seu discípulo, que foi procrastinando o encontro com o namorado.
O médico mostrou toda a casa para o rapaz e deu a ele toda a liberdade dentro de seu apartamento, só proibindo o acesso a um dos quartos que ficava no final de um corredor. Não tinha como ele não se encantar, mais uma vez, com a discrição de Tiago que não insistiu em saber o porquê daquela restrição.
Uma semana depois, o rapaz já estava familiarizado com o trabalho na clínica e Álex adiantou a licença maternidade da sua secretária. Com sorte, quando ela voltasse, Tiago já teria abandonado aquela ideia fixa de trabalhar na clínica.
Discretamente, o fisioterapeuta começou a oferecer alguns livros "interessantes" para Tiago ler e, como era de se esperar, ele ficou fissurado no conhecimento que aqueles livros traziam. Era bom, à noite, sentados à mesa, conversarem sobre todo aquele aprendizado adquirido dia a dia.
Os dois se revezavam na cozinha e, aos poucos, Álex pode mostrar a ele as vantagens da comida vegetariana e dos alimentos orgânicos. Tiago decidiu, então, seguir o exemplo do patrão e abandonou a carne, dando preferência aos alimentos mais saudáveis.
Aos poucos, Tiago pareceu não perceber, mas era visível para o médico que a imagem a sua frente estava bem próxima daquela que se perdera na noite em que Donato espancara o rapaz.
Durante o dia, o médico conseguia se controlar e comportava-se como o patrão e o fisioterapeuta que Tiago esperava dele, mas à noite, era irresistível não transgredir aquela norma.
Tiago dormia cedo, antes das onze. Felizmente, para Álex, o rapaz tinha o sono pesado e então, ele podia se dirigir ao quarto do seu prometido, com seus passos leves de um felino. O ritual era sempre o mesmo: ele chegava, se ajoelhava perto da cabeceira de Tiago, cheirava-lhe a nuca, afagava-lhe os cabelos e admirava aquele rosto que ele aprendera a amar. Era imprescindível, como um vício, sentir aquela presença todas as noites, antes de dormir.
Envolvido em doutrinar o seu futuro discípulo, Álex relaxou em sua percepção do perigo e deixou o tempo passar, sem perceber a inquietação que, com certeza, estava invadindo Alberto.
Um dia, cansado de ser ignorado pelo namorado, que sempre alegava estar muito atarefado, Alberto deu um basta e decidiu investigar a fundo o que estava acontecendo. Resolveu visitar a clínica de Álex.
Assim que chegou, percebeu o novo atendente. Achou o rapaz bonito, novinho e carismático, ao conversar com uma mulher sofisticada que estava na sala de espera. Porém, aquele estilo despojado, parecendo apenas um estagiário menor de idade, usando apenas calça jeans e uma camiseta branca, lisa, não seria, definitivamente, uma ameaça para o louro exuberante e bem vestido, pensou Alberto. Por isso, dirigiu um olhar blasé para Tiago e decidiu esperar para ver se chegava alguém suspeito...um cliente, talvez.
Sentou-se e começou a folhear algumas revistas desinteressadamente, quando Tiago o abordou:
_Boa tarde! O senhor está esperando pelo coronel Átlas? A sessão dele apenas começou e vai demorar um pouco. Deseja tomar alguma coisa ou mesmo ser anunciado?
Alberto nem levantou os olhos e respondeu com desprezo:
_Não, garoto. Já sou conhecido do seu patrão. Não precisa se incomodar.
Alberto não precisava ser simpático com um funcionário de Álex, pensou. Ainda mais vestido daquele jeito tão apagado.
Levantou-se e foi olhar o movimento em frente à clínica e um vaso enorme ocultou momentaneamente a sua presença.
Álex abriu a porta, minutos depois e, de onde estava, não percebeu a presença do namorado.
_Tiago, pode ir pra casa e colocar o pé pra cima. Você deve estar exausto. Pode deixar que, quando acabar aqui, fecho tudo, está bem? Repouse e pode deixar que hoje eu faço a nossa comida.
Álex preparava-se para voltar, quando o recepcionista anunciou Alberto.
Tiago não percebeu os olhares cheios de insinuações que os dois trocaram e ficou claro para Álex que Alberto tinha ouvido a conversa com Tiago.
O rapaz, alheio ao que se passava ali, devido a sua discrição, pegou as muletas e preparava-se para sair, quando, propositalmente, Alberto cruzou o seu caminho para alcançar Álex.
Álex não pode deixar de ver que Tiago ficara constrangido ao ver o beijo que Alberto dera nos lábios do namorado.
_Desculpe eu ter vindo aqui sem avisar, amor, mas você não quer atender as minhas ligações e eu estou morrendo de saudades, querido.
O rapaz desviou dos dois e saiu sem olhar pra trás.
_O que está fazendo, Alberto? Já não lhe proibi este tipo de comportamento aqui na clínica? Não vê que estou trabalhando?_sussurrou ríspido.
Alberto foi rápido:
_Ok...já vi que está de mau humor e eu não estou a fim de brigar. Nos vemos depois então.
O médico retornou logo para a sala de fisioterapia e não percebeu que o namorado dirigia-se rapidamente para a saída lateral, a fim de seguir Tiago.
O louro pode observar, revoltado, que Tiago abria a porta da casa com sua própria chave, que ele guardou no bolso da calça e entrou no apartamento como se fosse o dono.
Os ciúmes invadiram o louro de uma forma avassaladora.
Teve vontade de derrubar a porta a pontapés, por aquele cara pra fora à força, mas sabia o quanto o namorado odiava escândalos e aquilo iria depor contra Alberto.
Sabia como era perigoso irritar assim o namorado e, por isso, teve que engolir o orgulho e sair dali, deixando aquele outro lá dentro, na intimidade do apartamento de Álex.
A mente maquiavélica de Alberto já começara a trabalhar, quando ele chegou em seu carro.
Mesmo após anos de relacionamento, Álex nunca lhe dera as chaves de sua casa, muito menos o convidara para morar com ele.
Quem seria aquele rapaz que já tivera tanta liberdade assim?
Onde estava o médico que se dizia tão reservado a ponto de recusar-se a morar com o namorado?
Também tinha o detalhe que os dois estavam acostumados a "dividir a caça" em seus joguinhos sexuais. Quem era aquele então que Álex não lhe apresentara e decidira assumir sozinho?
O louro teve que parar o carro para esmurrar o volante e o painel do carro com ódio e ciúmes.
Alberto amava o namorado e se davam super bem na cama! Devia tudo a ele! Fora ele quem o tirara das drogas...fora ele quem lhe dera a galeria de artes no centro da cidade...investira em sua aparência, roupas caras, lhe dera o carro que estava dirigindo. Era do namorado que vinha o dinheiro que ele precisava para manter o seu negócio e também fora Álex quem lhe mostrara o prazer de ser rico, viajado, bem sucedido.
Alberto sabia que perder Álex lhe quebraria não só o coração, como a conta bancária, pois ele não sabia dirigir os negócios sozinho, admitia, e contava com os conselhos e os investimentos de Álex.
Quando ligou o carro novamente, Alberto já se decidira sobre o que fazer para afastar definitivamente o concorrente da vida do seu namorado.
_Ah, sua bichinha folgada...você nem vai saber o que te atingiu!_sussurrou com ódio.
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O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gay
RomantikTiago Hernane vivia um conflito: deveria lutar pelo amor de Donato, o seu pai adotivo que salvara a sua vida, mas que o desprezava por ele ser homossexual, ou deveria dar uma chance para Álex, um homem enigmático, cercado de mistérios e capaz de in...