Álex não entendeu o porquê Alberto trouxera aquela criatura com ele.
O rapaz era quase uma moça, com seus traços finos e quase angelicais. Uma pele de pêssego, lábios infantis, olhos melosos e um ar dos anjos daquelas esculturas barrocas. Cabelos úmidos, anelados delicadamente, olhos azuis, lábios róseos e que parecia saído de um conto de fadas. As roupas pareciam de um Romeu contemporâneo.
Alberto o apresentou como Átila, um amigo dele que aparecera em sua casa quando ele já estava saindo e assim, decidira-se a trazê-lo, sabendo que o namorado não se importaria.
O fisioterapeuta achou melhor assim, imaginando que o namorado já estava interessado naquela boneca de louça e que seria mais tranquilo, quando fosse descartado.
Álex não deu muita importância àquela figura e teria percebido algo mais naquela atitude de Alberto, caso não estivesse tão preocupado com o atraso de Tiago. Ligara pra ele mais cedo e o rapaz só lhe informara que se atrasaria, pois estava preso no trânsito.
O médico, porém, atento ao seu discípulo, sabia que não estava enganado em sua intuição: Tiago não estava bem.
Quando Tiago finalmente chegou tentando aparentar tranquilidade e simpatia, foi cumprimentado pelos homens que estavam espalhados pela sala enorme sentindo-se como se tivesse um aviso bem grande tatuado na sua testa: "veado pronto para o abate".
"Acorda, feiozinho da muleta! Quem te disse que algum desses bacanas está querendo transar com você?", recriminou-se. Talvez fossem resquícios do tempo com os homofóbicos na oficina de Donato, que viviam dizendo que gay só queria dar pro outro ou comer o outro.
Tentou afastar logo aquela impressão preconceituosa, pois logo estaria no refúgio de seu quarto e não precisaria mais olhar para aquelas pessoas. Porém, o último casal que cumprimentou quase o levou ao vômito: realmente achava a presença de Alberto desagradável, mas a figura que o acompanhava superou, e muito, o mal estar que o namorado de Álex lhe causava.
Tiago ficou feliz por poder se apoiar nas muletas, pois, se assim não o fizesse, certamente teria caído no chão, tamanha foi a vertigem que sentiu ao cumprimentar Átila.
Evitando encarar Álex, a fim de que ele não percebesse que algo estava errado, pediu licença e esgueirou-se logo para o seu quarto, fechando a porta atrás de si.
_Seu funcionário dormirá aqui esta noite, Álex?_perguntou Alberto de forma inocente.
_Estão pintando o apartamento dele e como ele é alérgico, me pediu pra dormir aqui hoje. Com licença, pois ele está com algumas fichas atrasadas e eu preciso dar algumas instruções pra ele._disse saindo rapidamente.
Álex encontrou Tiago remexendo no armário do banheiro.
_O que foi? Você não parece bem.
_Não foi nada, acredite. Apenas uma dorzinha de cabeça. Acho que o dentista usou muito flúor. Pretendo tomar um comprimido e dormir logo.
_Tem certeza que é só isso?
_É só isso, não se preocupe._Tiago não encarou o patrão, sentindo a dor de cabeça persistir forte.
_Tiago, olhe pra mim. Sei quando está mentindo. Seja sincero comigo._insistiu Álex.
O rapaz, que tinha ainda o cheiro de Alberto ao seu redor, agregada à visão insuportável de Átila, e a cabeça explodindo, perdeu a paciência e respondeu ríspido, na tentativa de se livrar logo de Álex:
_Ah, você quer sinceridade, então lá vai. Seu namorado hoje está ainda mais irrespirável, mas a figura que o acompanha quase que me derruba no chão.
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O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gay
RomansaTiago Hernane vivia um conflito: deveria lutar pelo amor de Donato, o seu pai adotivo que salvara a sua vida, mas que o desprezava por ele ser homossexual, ou deveria dar uma chance para Álex, um homem enigmático, cercado de mistérios e capaz de in...