CAPÍTULO 15-O FUNDO DO POÇO

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Um dia,  após a consulta em que Tiago conhecera o filho do seu médico, ele deu a notícia às amigas, na mesa do almoço:

_Estou pensando em começar a fisioterapia logo pra ver se volto a trabalhar o mais rápido possível. Meu dinheiro está acabando, gente. Vocês duas poderiam vender o meu carro pra mim?

Mesmo sabendo que Tiago estava zerado e sem condições de dirigir por um longo período, a notícia assustou as garotas:

_Vender o carro que você ganhou de aniversário, Tiago?_Norma não escondeu o espanto._Mas você ama aquele carro!

Tiago arrastava a comida com o garfo de um lado a outro do prato, fingindo comer, como acostumara a fazer após o espancamento. 

Poderiam dizer que era por causa dos dentes que lhe faltavam, mas Norma sempre fazia os alimentos batidos no liquidificador para facilitar. Mesmo assim, ele mal comia.

_Não tenho outro recurso, Norma. O dentista já passou o orçamento dos implantes e vai ficar caríssimo. As economias que eu tenho não vão dar nem pra entrada. Além do mais, emagreci muito e minhas roupas estão caindo em mim.

Andreia, que permanecera calada até aquele momento, interveio:

_Nós podemos lhe emprestar o dinheiro, Tiago. Não há necessidade de vender o carro. Posso olhar com o banco...

_De jeito nenhum, meninas._ele disse enfático._ Serei eternamente grato pelo que têm feito por mim, mas não vou pegar dinheiro com vocês. Sem previsão para pagar e vocês sabem disso. Além do mais, olha só o trabalhão que eu já estou dando aqui, comendo de graça...sem contar no incômodo de transformar a sala de vocês em meu quarto.

_Deixa disso._argumentou Norma._Você não está dando trabalho algum e come menos do que um passarinho, Tiago. 

A mecânica pegou a mão dele sobre a mesa:

_Reavalie a possibilidade de Donato pagar o seu tratamento, filhote...

Tiago engoliu, fazendo uma careta, como se aquele nome o ferisse profundamente.

_Nem pensar. Já falamos sobre isso. Além do mais, nem sei quando voltarei a dirigir e assim que eu arranjar um emprego, poderei começar a juntar dinheiro pra comprar outro carro.

O rapaz levantou-se sem mexer na comida:

_Por favor, olhem isso pra mim, está bem?

_Mas você não vai comer de novo..._começou a bombeira preocupada.

_Licença. Vou me deitar, pois me sinto um pouco cansado._atalhou saindo sem olhar pra trás.

Andreia também parou de comer, suspirando desanimada:

_Este garoto não está bem...olha o que eu estou falando...nada bem mesmo!

Norma não pode discordar da namorada.

Quando conseguiram vender o carro, mais da metade do dinheiro foi para o dentista. O restante, Tiago dividiu entre algumas roupas e guardou o restante para  as consultas ao fisioterapeuta.

Aconselhado pelas amigas, Tiago concordou que não deveriam contrariar doutor João Pedro, que já se recusara a cobrar as consultas dele após o espancamento. Ele também sabia que o médico dera um jeito de reduzir ao máximo o valor dos medicamentos. Foi por isso que o rapaz aceitou consultar o filho de seu médico, mesmo sabendo que uma consulta naquela clínica particular estaria muito além de suas posses.

Considerando que o médico já tivesse sido informado pelo pai sobre toda a vida pregressa de Tiago, o rapaz pensou também que esse fato evitaria ele ter que ficar dando muitos detalhes de sua vida.

O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora