Capítulo 3

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** Marcela **

Estou ensopada de cerveja. Que ódio! Aquele bêbado idiota ferrou com a minha noite, além de cansada estou molhada e irritada. Ainda bem que a noite acabou, sentada no lado de fora do clube já são quase quatro horas da manhã. Só de imaginar que meu turno na cafeteria vai começar às 10 horas da manhã tenho vontade de chorar. Sarah se aproxima com o meu pagamento em um pequeno envelope branco.

-Aqui – Ela me entrega o envelope – Você parece exausta.

- Estou exausta – Falo abrindo o envelope e conferindo o valor – Muito obrigada pela indicação.

- Imagina – Sarah sorri – Eu já te falei que posso te arrumar alguns bicos que vão pagar muito mais do que você ganha servindo café.

- Prefiro servir café a ser servida para qualquer babaca Sarah, você sabe que eu não topo esse tipo de coisas.

- Mas quem disse que você precisa transar com os caras? Eu faço muitas despedidas de solteiro onde as meninas só dançam e flertam, quem quiser ir além disso, que vá, não é obrigatório. Você é linda, tem um corpão, não temos nenhuma morena como você. Seria um diferencial, os caras iriam adorar, você poderia ganhar uma boa grana e voltar pra sua faculdade – Não nego que a vontade de voltar para a faculdade me faz pensar, mas por apenas dois segundos, depois me lembro da promessa que fiz ao meu pai e a mim mesma. Nunca irei me vender, não importa que a vida foi uma merda pra mim, que eu precise me matar de trabalhar pra me manter, eu nunca irei ultrapassar essa linha.

- Valeu Sara de verdade, mas eu passo – Coloco meu pagamento no bolso, vou em direção ao meu carro. Olho para a única recordação que meu pai me deixou, além de uma pequena poupança que foi usada para pagar a minha estadia na casa do Alves. Logo depois que meu pai morreu, fiquei sem ter para onde ir, nenhuma família, nunca conheci minha mãe. Branquelo. O carro velho, não vale muita coisa, mas o fusca branco faz parte de tantas recordações que nunca pensaria em me desfazer dele. Teve mês que gastei mais com peças dele do que com aluguel, precisei passar o mês comendo macarrão instantâneo, mas o importante sempre foi olhar pra ele e ver meu pai me buscando na escola, ou me lavando para brincar no parque.

- Belo carro – Heitor fala se aproximando de mim – Original.

- Era do meu pai – Aliso o capô – É parte da família.

- Era do seu pai? – Ele me questiona olhando para o interior do carro.

- Ele morreu quando eu tinha 14 anos.

- Eu sinto muito – Ele se volta para mim – Eu sei como é difícil perder quem amamos. Morei com uma tia por três anos, minha mãe morreu quando eu tinha 15 anos e nunca conheci meu pai.

- Nunca conheci minha mãe.

- Realmente somos muito parecidos Marcela – Ele acaricia meu braço e me arrepio – Eu gostaria de te conhecer melhor – Com o coração acelerado respiro fundo quando ele se aproxima mais de mim.

- Eu também gostaria – Falo olhando-o fixamente. Ele me beija sutilmente e sinto meu rosto corar. Gosto da nossa conexão, ele me beija mais e adoro me sentir desejada.

- Vamos – Ele fala separando nossos lábios – Precisamos dormir afinal amanhã temos que ir trabalhar certo?

- Certo, me dá o seu celular – Ele sorri e me entrega o aparelho. Adiciono meu nome nos contatos – Me liga.

- Pode ter certeza que eu vou ligar – Entro no carro enquanto ele permanece me olhando – Não seria melhor eu te levar pra casa? Está tarde.

- Eu sei me cuidar – Ligo o carro – Não levo desconhecidos para minha casa.

- Eu não sou um desconhecido – Ele grita quando acelero o carro.

- É sim, um desconhecido lindo, mas é um estranho pra mim – Saio do estacionamento e vejo que ele fica me olhando enquanto desapareço na estrada.

Gosto de flertar com os caras, até mesmo porque não sou uma freira. Mas, leva-los pra casa é um passo muito importante, tenho como regra nunca levar ninguém para casa até conhecê-lo bem, apenas dois caras dormiram na minha casa e ambos depois de vários encontros. Quando estou finalmente na minha cama, meu celular vibra. Uma mensagem de número desconhecido.

- Você está livre na quinta-feira? Cinema topa?

Um sorriso idiota se espalha pelo meu rosto. Amo filmes, amo ir ao cinema, mas lembro de que tenho turno duplo na cafeteria na quinta.

Eu : Estou livre só depois das 22

Heitor : Tenho certeza que conseguimos alguma sessão.

Começamos a conversar por mensagem sobre filmes e coisas sem importância, quando percebo já é praticamente 6 horas da manhã. O sono me consome, mas estou empolgada com o papo. Geralmente converso apenas com os meninos mais velhos da casa de acolhimento que morei por quatro anos. Nicolas e Lucas são gêmeos, vi aqueles meninos se tornarem rapazes estupidamente lindos e Beth, nossa princesa dos cabelos avermelhados, fecha o trio com perfeição. Eles são os únicos que me conhecem de verdade, muitas vezes sinto falta de tê-los comigo.

Quando o despertador do celular grita percebo que adormeci entre a troca de mensagens. Levanto ainda dopada de sono e me arrasto para o chuveiro. Afinal, não posso me dar o luxo de voltar a dormir.

Entre o medo e as estrelas - Série Perfeição Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora