Capítulo 26

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**Marcela**

A vista do deque da praia é linda, sentir a brisa do mar bater no meu rosto é uma delícia, eu nunca aproveitei a praia dessa forma. Fico olhando Ben enquanto ele conversa com G um pouco mais a frente. Fico remoendo não ter um celular para falar com os meninos, pode parecer ridículo, mas me sinto culpada por aproveitar um dia de praia enquanto Beth permanece desaparecida, faz praticamente um mês que não temos nenhuma notícia dela e cada vez mais eu percebo que Nicolas está se afundando em sua tristeza e não há nada que possamos fazer.

- Ben não deve ter aprendido todas as boas maneiras que sua mãe tentou ensinar a ele – Uma voz feminina me alcança. Levanto meus olhos para ver a garota de cabelos castanhos repicados, linda e deslumbrante.

- Meu nome é Gabriela – Ela senta ao meu lado.

- Irmã do G?

- Infelizmente – Ela sorri – Ainda somos gêmeos dá para acreditar? – Me recordo de Ben me falar dela, de como os dois são parecidos fisicamente.

- Vocês são muito parecidos - Me volto para o moreno alto e forte que está ao lado de Ben.

- Você gosta dele?

- Sim, seu irmão é um cara legal – Rebato.

- Não do G, estou me referindo ao Ben - A pergunta me pega desprevenida – Você realmente gosta dele?

- Se eu não gostasse não estaria aqui você não acha? – Me irrita a petulância de uma garota que nem me conhece vir questionar os meus sentimentos.

- Sim – Ela suspira – Ah merda isso não saiu do jeito que eu queria. Eu só quero saber se você gosta dele de verdade ou se é apenas um caso sabe.

- Desculpe Gabriela, mas eu não acho que isso seja a sua conta, não te conheço para falar de coisas intimas dessa forma.

- Ele é como um irmão pra mim – Ela me responde irritada – Eu só quero garantir que você não irá magoa-lo.

- Entendo – Respiro fundo para não ser rude com ela – Não está na minha lista fazer o Ben sofrer, pode ter certeza disso – Quando me volto para ele, Ben está nos encarando de uma forma estranha, seu olhar entre mim e Gabi é tenso, novamente ele passa as mãos pela cabeça e eu já sei que isso é sinal preocupação. Ele vem andando em nossa direção.

- Está tudo bem? – Ele questiona voltado para mim.

- Claro – Gabi salta da espreguiçadeira e passa por ele – Porque não estaria?

- Gabi – Ele repreende.

- Relaxa Ben! – Ela corre em direção à praia balançado seu vestido branco de renda fazendo eu me encolher ao olhar o meu velho vestido de malha azul.

- Ela pode ser cansativa às vezes, posso me sentar com você?

- Claro – Me afasto do encosto da espreguiçadeira e ele senta atrás de mim, confortavelmente me aconchego em seus braços. A sensação de paz que sinto quando estou com ele é inexplicável, eu simplesmente me sinto leve. Nunca mais pensei em Heitor, ele nunca mais apareceu e começo a acreditar que ele realmente irá cumprir a sua palavra. Depois do dia da estrada, nunca mais deixei as coisas entre nós passarem de beijos e caricias, preciso ter certeza de que estou limpa quando realmente entrar na fase do sexo, realizei um exame no posto de saúde perto do meu prédio e estou angustiada esperando os 20 dias que me deram para aguardar o resultado. O medo de ter contraído alguma doença me atormentava, meu pai morreu de AIDS, isso sempre irá me assombrar por toda a minha vida. Não é fácil manter as coisas calmas com Ben, um simples toque, um simples beijo nos leva a mais, é como se jogássemos gasolina em uma fogueira quase apagada, ela pega fogo em segundos.

- Eles vão servir o almoço daqui a pouco – Ben fala acariciando a lateral do meu braço, beija suavemente meus cabelos, minha orelha, quando chega em meu pescoço começo a ficar ofegante.

- Ben!

- Oi anjo.

- Pare com isso, estamos em uma praia e os pais do seu amigo estão a poucos metros de nós.

- Não estou fazendo nada demais – Ele beija mais o meu pescoço – Apenas aproveitando a praia com a minha garota, eles nem devem estar olhando pra gente – No mesmo instante olho ao nosso redor e ele tem razão, os pais de G estão entretidos conversando, mas quando alcanço Gabi ela nitidamente está nos encarando, quando nossos olhares se cruzam ela desvia o olhar e acende um sinal de alerta em mim – Você teve alguma notícia da sua amiga? – Ben fala no meu ouvido ainda acariciando meu braço.

- Não – Me aperto em seus braços – Ainda não, falei com os meninos a dois dias, não consegui passar para conversar com eles depois.

- Anjo – Ele fala me puxando para que fiquemos nos olhando – Você não pode ficar sem celular por muito tempo, para a sua segurança e a dos outros.

- Vou comprar um mês que vem – Falo sabendo que é mentira, porque irei precisar pagar dois meses de aluguel para cobrir o rombo que Heitor me causou.

- Eu posso te emprestar um – Ele fala afagando meus cabelos – Inferno, eu posso te comprar um.

- Não – Meus músculos se enrijecem – Eu não quero que você me compre nada, isso só iria complicar as coisas.

- Complicar como? – Ele rebate – É pra sua segurança, pra você poder saber se quem você ama está bem, eu não estou te dando uma casa Marcela, é um simples celular.

- Pra mim tem o mesmo impacto Ben, eu iria me sentir mal.

- Por quê?

- Não parece claro pra você?

- Não, me explique, quero entender.

- Olhe pra isso aqui – Me levanto da espreguiçadeira e abro os braços olhando ao meu redor – Essa é a vida que você está acostumado, pra você é a coisa mais normal, mas pra mim não é.

- Eu sei – Ele se levanta e fica em pé diante de mim – Mas, uma coisa não tem nada a ver com a outra, eu só quero te ajudar.

- Eu não sou seu projeto de ajuda tá legal? – Explodo – Eu odeio que me olhem como uma coitada, eu não sou uma coitada, eu odeio que as pessoas pensem que precisam me dar as coisas ou me ajudar porque eu não sou capaz de me cuidar sozinha, mas eu vou te avisando, eu sou, sabe por quê? Porque o meu pai me ensinou a pessoa que eu quero ser, eu não quero me aproveitar de ninguém.

- Você não está se aproveitando de mim Marcela, Deus – Ele nitidamente está irritado – Eu só quero que você tenha um celular para poder falar comigo, saber se seus amigos estão bem, depois você me devolve quando comprar o seu.

- Preciso ir ao banheiro – Me afasto para pensar – Onde fica?

- Entra de volta na casa, acho que é a terceira ou a quarta porta a esquerda.

- Eu já volto Ben – Ando em direção a casa deixando ele nitidamente irritado, a última coisa que eu quero é brigar com Ben, prefiro me afastar e respirar um pouco. Passo pelo deque e entro na construção digna de uma revista de casas fantásticas, mas não estou com humor para aproveitar a vista. Entro no corredor, passo pelas primeiras portas e abro a terceira, é um quarto grande e branco, fecho e abro a próxima porta, não é um banheiro. Mas antes de fechar a porta novamente meus olhos caem em várias fotos, sou impulsionada entrar. Ben, está em várias delas. Gabi também. Lindos em lugares que nunca imaginei conhecer, tem uma foto dos dois se beijando, pelo que posso entender é em Paris, meu coração quebra. Minhas inseguranças vão a mil, estou no quarto dela, no quarto onde ela guarda memórias com Ben.

Entre o medo e as estrelas - Série Perfeição Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora