Capítulo 11

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** Marcela**

Merda, merda. Estou com fome, mas estava pensando em parar em um lugar qualquer comprar um salgado e um suco e gastar no máximo 15,00 afinal é tudo o que tenho no bolso. Nunca devia ter concordado em vir com ele, é claro que ele iria me levar em algum lugar caro. O peso do mundo parece estar nas minhas costas, nunca me senti envergonhada diante de ninguém, não ter dinheiro nunca foi um motivo de vergonha pra mim, eu sempre me banquei, mas esse mês tive custos extras com o carro e um o tênis que precisei comprar porque o meu havia rasgado. Sinto meu sangue ferver, jogo um pouco de água no rosto e percebo que estou no banheiro a mais de dez minutos, preciso voltar senão ele irá pensar que morri no banheiro ou que estou com problemas mais constrangedores do que não ter dinheiro. Saio do banheiro e quando me aproximo da mesa, percebo que ele se lavou, não vejo mais sinal de graxa em lugar algum.

- Eu fiz nosso pedido.

- Tudo bem – Puxo o celular do bolso para garantir que não recebi nenhuma mensagem dos meninos, e de tabela vejo que Arthur também não me mandou nada. Ficamos alguns minutos em silencio, até que o garçom chega com o pedido de Ben. Ele coloca um lanche incrivelmente grande diante de mim, um refrigerante e a minha água.

- Desculpe, mas você trouxe o pedido errado – Falo entregando de volta o lanche – Eu pedi apenas uma água. – O garçom olha para Ben como se estivesse confuso.

- Pode deixar o lanche Bruno – Ben fala se voltando pra mim – Eu pensei que você estivesse em dúvida do que pedir, por isso pedi pra você, o mesmo que eu irei comer. – Começo a suar frio, merda, ele não fez isso.

- Eu não estava em dúvida de nada Benjamim, eu somente não estou com fome, queria mesmo apenas uma água.

- Erro meu então – Ele fala dando uma mordida no lanche, meu estomago ronca e o cheiro começa a me torturar.

- Melhor pedir para devolver – Falo – Pegando o lanche e me voltando para o garçom.

- Marcela – Benjamim segura em meu braço e de imediato sinto seu toque percorrer todo o meu corpo – Coma.

- Ben, eu...

- Eu quero que você experimente esse lanche, é o mais gostoso da região, estou te convidando. Em agradecimento. Por minha conta.

- Agradecimento do que? Você que me ajudou a trocar o pneu, eu que preciso te agradecer se esse for o caso.

- Estou te agradecendo por me fazer companhia – Ele toma um gole do seu refrigerante – E por me ensinar a trocar um pneu, foi uma aula muito instrutiva, preciso te agradecer. O meu agradecimento também dá direito a uma sobremesa. – Ah Deus! Eu amo doce, quando olhei o cardápio minha boca salivou quando vi um brownie com sorvete, mas a bagatela de 35,00 não é para o meu bolso. Tento não me entregar à tentação e manter a fachada de que não estou com fome, mas o cheiro está me matando. Ben está comendo seu lanche com tanta vontade que eu não resisto. A primeira mordida é cautelosa, mas depois me rendo ao lanche mais gostoso que comi na minha vida. A ideia de mentir que não estava com fome escorreu por água abaixo, quando percebo o lanche praticamente acabou, não falei uma palavra se quer com Ben, apenas comi, uma mordida depois da outra. Levanto os olhos do lanche e percebo que ele me observa. Ótimo, agora ele pensa que sou dura e morta de fome.

- Dá gosto de ver você comer – Ele fala – As meninas que convivem comigo geralmente comem apenas salada e essas coisas de dietas sem gosto.

- Se eu comer apenas salada com o tanto que trabalho irei desmaiar no segundo dia.

- Com toda certeza, a sua rotina exige muito mais nutrientes do que a de uma pessoa que mantem o corpo mais inerte, você queima muitas calorias, precisa repor.

- Parece que estou falando com um médico – Sorrio.

- Meio que está mesmo na verdade. Me formo na faculdade em dois anos e depois tenho mais três anos de residência – Ele vai ser médico, vai usar um jaleco branco e me lembra um ator de seriado médico, ok, estou surtando.

- Você gosta de seriados? – Não contenho a pergunta – Tipo esses seriados médicos?

- Gosto por quê? – Ele me questiona visivelmente se divertindo com a minha pergunta.

- Posso parecer idiota, mas você é a cara de um personagem.

- De Grey's Anatomy – Ele me interrompe – Você não é a primeira pessoa que me fala isso.

- E ainda vai ser médico?

- Yes!

- Cara, você vai fazer muito agente ter alucinações. – Falo no mesmo momento que me arrependo amargamente, porque ele sorri como se eu estivesse dizendo, "vem que estou sem calcinha".

- É uma coisa que eu não posso evitar - Quero me estapear, mas ele mantem as coisas tranquilas. Conversamos sobre várias coisas, ele me conta que já precisou explicar que não era ator em uma viagem que fez e que depois foi assistir o seriado para entender o que estava acontecendo. Meu celular vibra me trazendo de volta a realidade. Puxo e surpreendentemente encontro uma mensagem de Nicolas me pedindo para eu ir busca-los.

- Eu preciso ir.

- Tudo bem – Ele fala levantando no mesmo instante que pego a minha bolsa. – Como eu falei nenhum minuto a mais depois que te chamarem.

- Obrigada pelo lanche Ben, estava realmente maravilhoso. – Saio da lanchonete rapidamente, não quero uma despedida que possa dar a ele a impressão errada de mim.

- Que placa engaçada – Ben fala se aproximando de mim – KCT 4569.

- Nem me diga – Sorrio, abro a porta e me volto para ele – Já sofri muito com essa placa, um zilhão de piadas idiotas.

- Imagino – Ben se aproxima de mim e surpreendentemente beija meu rosto – Boa noite Marcela, dirija com cuidado. - Ele me olha nos olhos por alguns segundos e permanece assim por um tempo e depois se afasta. Não consigo responder, apenas fico olhando para ele. Andando em direção ao seu carro Benjamin me faz querer ter outra vida, ser outra pessoa, uma pessoa que no mundo normal poderia ser amiga dele, conviveria com ele, seria alguém com que ele não sentisse pena e precisasse comprar um lanche. Uma lágrima escorre no meu rosto, olho para o céu e ele está repleto de estrelas, decido esconder em algum lugar o sentimento que cresceu dentro de mim quando olhei dentro dos olhos dele. A sensação de estar entre as estrelas, ele me levou para longe, mas por um segundo percebi que existe muito mais ali, o meu medo de querer ser quem não sou, quem eu nunca poderei ser.

Entre o medo e as estrelas - Série Perfeição Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora