Capítulo 20

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** Marcela**

Porque ele tinha que aparecer novamente? Porque ele não pode desaparecer e se tornar apenas um sonho? Ben fica reaparecendo na minha vida como se fosse um raio de luz, mas eu sou apenas escuridão ultimamente. Entreguei para Heitor na noite passada 6 mil. Consegui vender o Branquelo por 4 mil, o comprador achou o carro muito bem conservado e pagou a vista assim que aceitei a oferta. O dinheiro na minha bolsa parecia uma rocha que estava me levando para o inferno de tão pesada. Nele estavam as lembranças do meu pai, os meus momentos felizes, tudo resumido em notas de 100. Juntei com o meu pagamento de ontem e o dinheiro da venda do celular que eu passei um ano pagando e entreguei tudo em um envelope para aquele desgraçado. Ele me garantiu que nunca iria divulgar nada, mas quando ele me deu as costas me senti a pessoa mais idiota do mundo, não tenho garantias, o medo e o desespero não me deixaram raciocinar, eu sempre fui tão cautelosa e quando me vi em um problema real agi como uma idiota. Eu me apeguei a ideia de ele cumprir a palavra e rezo para que ele não ferre com a minha vida novamente.

Deixar meu carro pra trás foi uma das maiores dores que senti na vida, dormir era impossível, não tenho mais lágrimas para chorar e a minha cabeça doí demais. Fiquei apenas com 100,00 que gastei com macarrão, algumas coisa de higiene pessoal e uma barra de chocolate que comi enquanto chorava. Preciso arrumar um bico para conseguir dinheiro para pagar a condução, senão irei precisar andar todos os dias quarenta minutos para ir ao trabalho e repetir o caminho exausta para voltar para casa. Espero o aviso do corte de água e luz em duas semanas, li no meu contrato que seria despejada apenas se não pagasse dois meses do aluguel, sendo assim mês que vem irei precisar pagar os dois meses, o que irá me manter na mesma merda por mais um tempo. Vou dar um jeito quando ficar sem luz, é só tomar banho gelado, mas ficar sem água será complicado, mas eu sei que irei conseguir dar um jeito. Lucas e Nicolas estão atordoados com o sumiço de Beth, eu não posso levar mais problemas para eles. Laura mal pode se manter e arcar com os custos de criar Clara que sempre está doente, preciso resolver meus problemas, afinal são meus.

Respiro fundo e passo pela porta de saída dos funcionários, já passa das dez da noite. Quando avanço pelo estacionamento vazio de imediato vejo um carro preto e silhueta de um homem apoiado, quando Ben levanta os olhos pra mim meu coração traiçoeiro dá um pulo.

- Gostaria de saber se você me acompanha em um lanche – Ele fala assim que paro diante dele.

- Estou cansada Ben, preciso ir para casa.

- Eu te levo para casa então – Ele sorri – Não vejo o Branquelo por aqui. – Meu coração se aperta em pensar no meu carro.

- Não precisa – Falo me afastando dele.

- Marcela – Ele me chama enquanto segura meu braço – Por favor, conversa comigo – Começo a suar frio, só o toque dele me faz tremer.

- Sobre o que Benjamin? Sobre o que você quer conversar comigo?

- Sobre qualquer coisa, sobre o tempo, sobre política, sobre filmes, sobre qualquer coisa que você queira conversar comigo, por favor, não me afaste. – Oh Deus – Quero saber o porquê você sempre corre de mim.

- Eu não corro de você – Rebato

- Corre sim – Ele me puxa para mais para perto e seu cheiro me atinge, um perfume fino e sexy – O que eu posso fazer pra você entender que eu quero conhecer você, que eu gosto de estar com você?

- Você não pode me falar essas coisas – Minha respiração acelera por causa da nossa proximidade, não consigo olhar direito nos seus olhos, mantenho meus olhos no botão da sua camisa cara.

- Estou falando o que eu sinto, mas se você me falar que o clima que aparece toda vez que estamos juntos é loucura da minha cabeça, eu vou embora e não te procuro mais. Se você me falar que não pensa em mim como eu penso em você então eu vou entrar dentro desse caro e não vou mais te incomodar, mas eu preciso que você me fale. – Nenhuma frase coerente se forma na minha mente, eu só consigo sentir o calor do corpo dele emanar próximo ao meu, em todas as vezes que nos encontramos ele nunca falou nada como isso, sempre foi atencioso, mas nunca deixou claro o que queria e merda, isso muda tudo, eu não posso negar para mim mesma que não esperei por uma atitude dele.

- Podemos conversar – Olho direito nos olhos dele e o sorriso que emana do seu rosto me faz sorrir pela primeira vez em dias.

- E comer alguma coisa?

- Que mania que você tem de querer ficar comendo o tempo inteiro – Me irrito em pensar que irei novamente passar pela mesma situação da hamburgueria.

- Hoje você escolhe – Seu sorriso aumenta – Como um cavalheiro eu pago, mas você escolhe. – Um alivio percorre o meu corpo, não por comer alguma coisa sem ser macarrão instantâneo, mas porque o seu sorriso aquece alguma coisa dentro de mim.

Entre o medo e as estrelas - Série Perfeição Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora