Estranho - £ (Helena)

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QUANDO CHEGUEI À SALA, Jason estava estirado no sofá e ressonava tranquilamente, como se estivesse muito cansado

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QUANDO CHEGUEI À SALA, Jason estava estirado no sofá e ressonava tranquilamente, como se estivesse muito cansado. O fiquei observando por alguns minutos e pensando comigo mesma: como eu havia conseguido me afastar por tanto tempo? Jason havia virado um homem e eu não conseguia tirar a imagem de um menino inocente que tinha deixado com o coração partido, na varanda de casa.

Mas eu não tinha realmente ido tão longe.

Só mudado para uma cidade pequena e antiga.

Ele poderia muito bem ter me visitado todos esses anos, mas mesmo assim não o fez.

Algo nesta afirmação dolorosa fez meu coração palpitar mais forte, e recuei levemente.

Se Jason iria ficar em casa, teríamos de aprender a conviver com nossos erros, pois o passado, já tinha passado, e nada poderia mudar o fato de que eu o abandonara com aqueles monstros.

Sob a camiseta branca pude ver a bandagem que cobria seu peito machucado, e seu pescoço inteiramente roxo como o que parecia ser marcas de uma tentativa de enforcamento. Não era uma visão que eu gostaria de presenciar, e me fazia querer afundar o nariz no cérebro de quem havia feito aquilo com ele.

Meu estômago roncou de fome e percebi que não ingeria nada desde a festa de ontem à noite, e tentei me lembrar do que havia acontecido. E mais uma vez, a dor de cabeça fez com que eu tivesse que me apoiar na parede para não cair no chão.

Edward passou por mim e foi diretamente para a cozinha. Ele não parecia chateado e nem nada disso, mas algo em seu semblante me incomodava muito. O segui e sentei-me à bancada, esperando ele terminar de caçar algo pelos armários para comer, assim como a geladeira. Supus que, pelo tempo que ele deveria ter ficado sozinho em casa, Edward com certeza deveria ter vasculhado minha cozinha, pois ele sabia onde estavam coisas que nem eu, que morava ali fazia um bom tempo, sabia onde ficava. Ele acabou pegando os ingredientes para fazer um sanduíche simples e se virou para mim com um pedaço de pão nas mãos.

— Quer um?

Sorri assentindo e ele pareceu satisfeito.

— Me desculpe por ter sido grossa. – sussurrei.

Pude ver seus ombros balançarem para cima e para baixo enquanto ele ria suavemente. Minhas bochechas coraram de leve, e eu encolhi os ombros.

— Não é nada que eu já não esteja acostumado.

Ergui as sobrancelhas.

— Sua namorada tem muitos ataques de loucura? – perguntei tentando fazer graça.

Desta vez sua risada foi mais alta e relaxada, como se eu tivesse acabado de fazer a piada do ano.

Então a namorada dele tinha ataques de loucura.

— Se eu ao menos tivesse uma. Mas não é por isso. Cresci numa casa com quatro irmãs que me maquiavam e me obrigavam a brincar de bonecas.

Foi minha vez de rir.

Era impossível imaginar Edward, todo grandalhão e com porte atlético e de garoto popular, cheio de sombra e batons, brincando com uma Barbie.

— Pode rir, isso é vergonhoso! – ele murmurou voltando sua atenção ao sanduíche incompleto.

Depois de uns bons minutos rindo sozinha parei para pegar ar, vendo um sanduíche grande e parecendo apetitoso ser esticado em minha direção. Peguei o prato sem hesitar, e segurei o lanche como se fosse a última refeição que eu faria, dando uma mordida grande o suficiente para engasgar várias vezes antes de engoli-lo. Com sorte, Edward não estava olhando para mim quando quase morri asfixiada com um pedaço de pão, o que tornou as coisas menos embaraçosas.

Ele encostou as costas na bancada e comeu seu próprio sanduíche sem dizer mais nada.

Quando terminamos – ainda num silêncio absurdo – limpei a garganta e entrelacei os dedos, segurando a mão firmemente.

— Edward, o que aconteceu? – perguntei.

Seu corpo tensionou enquanto ele ligava a torneira para lavar a louça que havíamos usado.

— Como assim?

Mordi o lábio.

— Você sabe por que Fitch está estranho.

— Não. – ele respondeu rápido demais.

Revirei os olhos.

— Isso não foi uma pergunta. Quero saber o que ele tem.

Edward suspirou, e terminou de lavar o último prato, fechando a torneira e se virando para mim com os olhos tristes.

— O que aconteceu com ele? Ele está bem, não é? – minha voz se elevou alguns oitavos somente com a possibilidade de Fitch estar machucado cruzar minha mente.

Ele deu um sorriso de canto.

— Fitch está bem.

Cruzei os braços em cima do peito.

— Então por que ele foi grosso comigo? – insisti.

Ele deu de ombros.

— Isso cabe a ele contar, não eu.

Meu desapontamento era visível em meu rosto.

Senti os dedos de Edward levantar meu queixo para olhar para ele, e seus olhos escuros pareceram mais gentis do que eu jamais havia visto.

— Eu sei que pode parecer egoísmo não te dizer, mas é uma coisa dele, Helena. Não minha. Eu só estou aqui para te proteger, e ser seu companheiro. Quando ele voltar poderá te explicar tudo direito.

Sua voz soava tão convincente, que por alguns minutos uma chama de esperança se acendeu em meu peito, queimando delicadamente.

— Tem certeza?

Eu estava cheia de perguntas para lhe fazer, mas como Edward havia dito, não cabia a ele responde-las. E sim à Fitch.

— Ed, - o chamei mais uma vez, quando ele saía da cozinha. Ele se virou para mim, e aproximou-se novamente. – nada de falar de nossos trabalhos para meu irmão.

Um traço de confusão apareceu em suas feições e eu sorri.

— O cara no sofá...

— Ah! Ele. É, eu já ia perguntar mesmo quem era ele.

Meu sorriso era muito mais relaxado do que eu havia esperado.

— Seja bom com ele, ok? Jason já passou por muita coisa.

Edward enfiou a cabeça para fora da cozinha para dar uma espiada no ser humano estirado em meu sofá e deu uma leve risada.

— Ele parece doente.

Meu estômago se retorceu desconfortável.

— Acabou de ter alta do hospital e vai vir morar com a gente.

Percebi que falei "com a gente" ao invés de "comigo", e Edward sorriu.

— Isso deve ser engraçado. – ele murmurou, e depois completou, mais para ele mesmo do que para mim. – Ou talvez não.

A CaçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora