MANHATTAN NÃO PARECIA tão movimentada à noite, quanto antes. Só parecia-se com uma cidade fantasma. Talvez até pudéssemos levar o crédito por ter feito essa cidade ficar basicamente abandonada quando o sol baixava, mas isso não era por nossa culpa.
Era tudo por culpa de Drake.
Aquele filho da mãe queria estar sempre um passo à frente, e sendo mais velho e mais experiente, sempre conseguia. Ele deveria ter algum braço direito que nos conhecia muito bem, afinal, fora ele quem chamara todos os caçadores de Sleepy Hollow. Fora ele que marcara nossa morte verdadeira.
O prédio tão conhecido apareceu logo à frente, e sem nem ao menos pedir permissão ao porteiro me direcionei ao andar que já estava acostumado a visitar.
Fui diretamente à segunda porta do andar, e entrei sem bater. Ouvi uma música sendo assoviada vinda da cozinha, e reconheci como sendo a de uma de suas refeições.
Passos pesados surgiram, e então uma figura alta e esguia, de cabelos castanhos. Seus olhos azuis claros pararam em mim e ele sorriu, mostrando os dentes perfeitamente brancos e alinhados.
— Kaus, como é bom lhe ver. – ele disse.
A animação não alcançou sua voz 100%, e eu não o culpava, afinal, quem gostaria de ver uma pessoa que havia tentado matar, viva em sua frente.
Drake me indicou o sofá para eu sentar, e se sentou numa cadeira de couro vermelho. Apesar de todo o piso ser claro, como as paredes, aquele lugar era a definição de prisão domiciliar. Não que manter suas refeições presas fosse um hobby, na verdade, ele nem as mantinha vivas, quanto mais trancafiadas. Nos dias em que ele se revoltava contra todos – o que acontecia com frequência de uns tempos para cá – Drake escolhia uma refeição para drenar, e se sentir menos "infeliz" com a imortalidade que lhe fora concedida.
Não, ser um demônio não era um trabalho fácil e muito menos agradável, mas havia maneiras de contornar o que havia sido feito.
— Então, diga-me, o que veio fazer aqui? – Drake perguntou, agora sem o entusiasmo falso de antes.
Sorri enquanto sentava confortavelmente no sofá, e lhe encarei.
— Estava por perto e resolvi fazer uma visita.
Ele riu.
— Nós dois sabemos que isso é uma mentira. – ele disse.
Tive que reprimir a vontade de fechar a cara e fiz um bico com a boca, de uma maneira sarcástica. Tão sarcástica que eu mesmo quis me socar.
— Drake, não tente passar a perna em mim. Nós dois sabemos que não posso morrer, de fato.
O sorriso que se encontrava em seus lábios, se alargou. Ele estalou os dedos, e uma menina ruiva magricela demais, e cheia de marcas de mordidas pelos braços, e pernas, apareceu vindo em nossa direção. Ela se sentou em seu colo, e tirou o cabelo da nuca.
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A Caçadora
RomanceHelena Jameson é de fato uma adolescente fora dos padrões. Não tem amigos, não se enturma, e nunca deixa que as pessoas se aproximem demais por causa de seu segredo sombrio. Ela é, na verdade, uma caçadora de criaturas místicas. E estar apaixonada p...