FORAM 40 MINUTOS de pura exaustão, onde Claire não calava a boca. Ora cantava uma música boba e conhecida que a fazia dar um de seus gritinhos peculiares, e aumentar o volume. Ela quase explodia as minhas caixas de som, que já não eram aquela coisa, e cantava no ritmo, parecendo uma taquara rachada.
A cidade ia tomando conta de nossa volta conforme nós nos aproximávamos de Manhattan. Primeiros surgiram os prédios baixos, largos e cinzas que pareciam ser utilizados para fim industrial, ou algo assim. E logo após, os prédios antigos de tijolos substituíram a paisagem morta daquele lugar, dando certa alegria à Manhattan.
A cada lugar que passávamos, as pessoas andavam apressadas de um lado para o outro, e estavam sempre correndo, o que era absurdamente perturbador. Eles nunca paravam?
Me peguei pensando em como seria morar ali. No meio daquela cacofonia toda, tendo que estar com um relógio perto para contar cada segundo que eu perderia se parasse para tomar um café em algum lugar. Tendo que contar até mesmo os minutos que poderia dormir para não me atrasar.
Esse pensamento me fez estremecer. Sim, eu havia vindo de um lugar como esse, mas isso não significava – nem em um milhão de anos – que eu gostaria de voltar para uma cidade tão agitada, e muito menos trabalhar atrás de um computador, como a maioria das pessoas faziam nos dias de hoje.
Não. Eu não fora feita para ficar presa em um escritório. Eu precisava de ação. De espaço. Liberdade.
Isso era uma coisa que a cidade grande não podia me conceber.
Depois de nos perdermos algumas vezes, e pedir informações para pessoas, conseguimos chegar ao hospital.
Senti que não pertencíamos àquele lugar assim que estacionei o carro na rua, já que não havia trazido mais do que quatrocentos dólares, e sem dúvidas, o estacionamento deveria variar entre algo nesta faixa de preço.
A fachada do prédio geométrico era inteira feita de tijolos claros, dando uma aparência de limpa ao local e via-se as inscrições claras: The Mount Sinai Medical Center no topo de um conjunto de portas de vidro automáticas que intimidavam até mesmo as pessoas mais importantes que passavam por ali.
— Uau. – ouvi as primeiras palavras de Claire que não eram berradas ao ritmo da música.
Ela havia tirado as palavras de minha boca.
"Uau" era pouco para aquilo.
Algumas pessoas – que supus serem médicos por conta do jaleco branco – saíram do prédio, e nem ao menos se importaram de nos lançar algum olhar amigável, ou para qualquer pessoa que estivesse sentada perto das portas – indo diretamente pela calçada, até o carro estacionado do outro lado da rua.
Ri de leve.
Nem os próprios médicos tinham condições de pagar pelo estacionamento ali. Ou talvez ele fosse de graça, mas a preguiça de descer até o subsolo os impedia.
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A Caçadora
عاطفيةHelena Jameson é de fato uma adolescente fora dos padrões. Não tem amigos, não se enturma, e nunca deixa que as pessoas se aproximem demais por causa de seu segredo sombrio. Ela é, na verdade, uma caçadora de criaturas místicas. E estar apaixonada p...