MINHAS LÁGRIMAS NÃO paravam de escorrer. Eu podia sentir meus pulmões implorando por ar toda vez que eu voltava a soluçar. As mãos de Fitch envolveram minhas costas e ele puxou meu rosto para seu peito, não deixando que eu continuasse a encarar o cadáver de Anne.
Eu sentia que estava molhando toda sua camiseta de rímel e lágrimas, mas à essas alturas ele não estaria lá tão preocupado com ela, certo?
— Podem levar o corpo para Meredith. – ouvi Fitch dizer com a voz autoritária.
Mais lágrimas.
Ele tapou meus olhos quando tentei espiar o que estava acontecendo e sussurrou para mim:
— Está tudo bem, Helena. Estou aqui. Vai ficar tudo bem.
Seu aperto se afrouxou para que ele levantasse meu queixo e vi alguns médicos da região levarem o corpo dentro de uma sacola grande e azul. Um aperto em meu peito fez com que eu soltasse o ar.
Fitch limpou minhas lágrimas com os dedos e beijou minha testa. De tanto chorar minhas veias da cabeça estavam latejando, dando-me uma baita dor de cabeça.
— Nada vai acontecer com você, eu prometo. – ele disse.
Não era comigo que eu estava preocupada. Era com Charlotte. Anne estava morta por minha culpa, e se Charlotte também não estava, não demoraria muito para que encontrássemos outro corpo.
Fitch passou os braços atrás de meus joelhos e me sustentou. Afundei minha cabeça em seu peito e deixei que ele me carregasse para fora daquele inferno.
Meu rosto estava escondido em seu peito, e por onde passávamos as pessoas viraram a cabeça para olhar. Eu me sentia desconfortável naquela situação. Ainda mais quando tinha acabado de descobrir que Anne havia morrido, e que minhas palavras tinham sido da boca pra fora.
Ninguém veio falar conosco, muito menos meu irmão. Espiei rapidamente para vê-lo nos observando cautelosamente, mas quando Edward sussurrou-lhe algo vi suas feições relaxarem levemente. Agarrei-me à camisa de Fitch e senti seu coração batendo rápido sob minha palma suada. Ele beijou minha testa.
— Vamos para longe disso, ok? – aquilo não era uma pergunta, e mesmo que fosse eu não faria objeções.
Cruzamos toda a multidão e ele alcançou outro carro estacionado perto do meu, pegando a chave e destravando-o rapidamente. Ele me sustentou com uma mão só enquanto abria a porta e me baixava no banco do passageiro, afivelando meu cinto. Queria dizer que eu conseguia fazer aquilo sozinha, mas nada saía de minha boca. Nem um mísero som. Entrando pelo lado do motorista ele deu partida no carro, saindo pelas ruas cantando pneu. Apoiei a cabeça no vidro e vi Cali do outro lado da rua, fuzilando-me como se pudesse me matar somente com um olhar. Desviei os olhos e concentrei-me em brincar com meus próprios dedos.
Fitch segurava minha mão e não a soltava nem para mudar de marcha. Olhei-o e agradeci em silêncio, encarando a paisagem que passavam voando pelo vidro. Enquanto cortávamos os carros que insistiam em parar para ver o que havia acontecido, pude ver um rosto se destoar por entre todos os curiosos, fazendo meu coração se remoer dentro de mim. Kaus olhava para mim como se tivesse levado um tapa, ou pior, visto o amor de sua vida acabar de ir embora no carro com o inimigo. Em questão de minutos estávamos na frente da empresa. O prédio de tijolos vermelhos e tão conhecido nos saudando acolhedoramente, de uma maneira que eu não podia descrever. Ele parecia sagrado e imaculado, uma visão errada do que acontecia lá dentro, já que – querendo ou não – éramos uma empresa que criava assassinos. Mesmo que as pessoas acreditassem que as coisas que matávamos não existiam.
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A Caçadora
RomanceHelena Jameson é de fato uma adolescente fora dos padrões. Não tem amigos, não se enturma, e nunca deixa que as pessoas se aproximem demais por causa de seu segredo sombrio. Ela é, na verdade, uma caçadora de criaturas místicas. E estar apaixonada p...