BATI A MÃO NA testa lembrando-me de uma coisa importantíssima: Eu tinha o liberado para entrar na empresa!
Enquanto saíamos da sala de reuniões, senti meu braço ser puxado com certa brutalidade, me fazendo tropeçar e quase cair, se não fosse pela pessoa me segurando.
Fui empurrada para uma sala bastante conhecida, e a pessoa trancou a porta.
— O quê? — perguntei brava.
Não foi surpresa nenhuma me deparar com Fitch.
— Você desligou o telefone na minha cara. — ele esbravejou.
Meu rosto ficou vermelho.
— Eu já tinha terminado de falar com Claire. — me justifiquei.
Ele me ignorou.
— O que você viu ontem?
Franzi o cenho em confusão.
— Como assim?
Fitch bufou como se estivesse conversando com uma criancinha de cinco anos mimada.
— Você quer dizer dos seus olhos? — perguntei. — Ou do seu surto quando deu um soco na parede?
Peguei sua mão que antes estava machucada e a examinei, ela estava enfaixada, mas parecia inteira.
Ouvi Fitch engolir seco, e esperei ele me dar uma boa explicação para a crise ridícula de ontem.
— Eu quis dizer dos olhos.
— Vi o que te disse. Seus olhos estavam mais escuros, mas tenho certeza de que foi somente o reflexo dos óculos. — menti querendo fugir de quaisquer perguntas que ele tinha para me fazer.
— Helena...
— Não, Fitch, eu não quero saber. – o cortei.
Ele assentiu e ficamos nos encarando em um silêncio absurdamente constrangedor.
— Hmm... Como está a mão? — acrescentei tentando evitar explicações futuras sobre os olhos dele.
Ele sorriu e arrumou os óculos.
— Estão bem... Quer dizer, bem machucadas. — e riu.
Dei um sorriso de canto e Fitch ficou sério novamente, pensativo.
— Helena, me responda uma coisa...
Fiz que sim com a cabeça e o esperei continuar, torcendo para que não entrássemos no assunto de 'você viu meus olhos ou não', porque eu mentiria de novo!
— Sim?
— Você realmente acha que eu seria tão baixo de bater em você?
Fiquei em choque com a pergunta, mas sim, quando ele ficou irritado, pensei que fosse bater em mim. Olhei-o nos olhos, e vi que eles demonstravam dor, e vergonha.
— Nem por um segundo. – sussurrei.
Ele se aproximou de mim, e passou os braços por minha cintura, me puxando mais para perto. Senti meu coração acelerar com isso, seu gesto fora tão forte, mas ao mesmo tempo delicado e preocupado.
— Fitch... — seu nome quase não saiu de meus lábios.
— Shh — ele implorou.
Seus olhos estavam claros e brilhando.
Dei uma olhada na sala escura, vendo que todas as cortinas estavam fechadas, como se para nos dar certa privacidade.
Fitch me levantou fazendo com que eu ficasse de pé em seus próprios pés, me deixando com que pelos menos uns cinco centímetros a mais. Ele moveu uma das mãos de minhas costas passando os dedos de leve em meu rosto, traçando-o com cautela por conta dos machucados que ainda estavam se cicatrizando.
— Desculpe. — desabafei
Ele, que antes tinha a atenção total em meus lábios, agora olhava profundamente dentro de meus olhos, surpreso até, eu diria.
— Pelo que?
— Por ter te irritado tanto ao ponto de você socar uma parede. — disse olhando para baixo, um tanto envergonhada para o encarar diretamente.
Para minha surpresa, ele riu.
Eu estava me desculpando por ter enchido o saco dele e tê-lo feito se machucar e a única coisa que ele fazia era rir da minha cara?
Saí de seu abraço e desci de seu pé, mas não consegui fazer meu caminho até a porta, pois os braços de Fitch estavam a minha volta novamente, me prendendo em seu corpo de um jeito possessivo e nada amigável.
— Você riu da minha cara! — o acusei, virando para encará-lo.
Fitch estava perto demais, e sua barba roçava em meu rosto e eu tinha certeza absoluta que minha bochecha se encheria de bolinhas vermelhas de irritação.
— Não foi de você, Helena. Estava rindo porque você pensou que eu tivesse socado a parede por sua causa.
E então riu de novo.
Eu sabia que tentar fugir novamente seria inútil e eu gastaria meu tempo. Portanto, a única coisa que eu podia fazer naquele momento era cruzar os braços e vê-lo rir da minha cara. Mais uma vez.
— Eu não fiquei bravo com você, mas com a situação. — ele disse.
Descruzei os braços.
— Você gritou comigo. — tentei argumentar.
Foi a vez de Fitch revirar os olhos e passar os dedos por meu rosto, segurando meu queixo, mordendo os lábios.
— Já te disse, Helena; não posso perder a única coisa que me mantém são. — sua voz tinha se tornado aveludada.
— E eu sou tudo isso? — perguntei fechando os olhos.
Fitch se inclinou sobre meu corpo e me puxou para cima, nos colocando novamente na posição que eu tinha à pouco fugido.
— Tudo isso. — ele confirmou.
Abri os olhos o suficiente para lhe olhar mais atentamente e o peguei já com os olhos fechados. Sua boca estava muito perto da minha, num roçar leve e era possível sentir o calor que seu corpo emanava para o meu. Tudo na sala de Fitch tinha se tornado quente demais.
— Prove.
E esta foi a palavra mais imbecil que poderia sair de minha boca naquele momento, porque a próxima coisa que eu conseguia raciocinar era: a boca de Fitch estava sobre a minha. Sua mão segurava minha nuca em um ato desesperado e cheio de sofreguidão.
Eu estava beijando meu chefe que tinha um comportamento levemente bipolar.
Eu estava realmente beijando meu chefe!
Mas apesar do desespero inicial, a única palavra que aparecia em minha cabeça era:
Finalmente.
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A Caçadora
RomanceHelena Jameson é de fato uma adolescente fora dos padrões. Não tem amigos, não se enturma, e nunca deixa que as pessoas se aproximem demais por causa de seu segredo sombrio. Ela é, na verdade, uma caçadora de criaturas místicas. E estar apaixonada p...