VI UMA SOMBRA DESCER da cúpula em cima do altar e pousar sem ruído algum, bem na escada. Ela nem ao menos produziu um som abafado, e aquilo me deixou bem alerta.
A figura fina e esguia demais para ser humana entrou em contato com minha luz, e eu sufoquei um grito no topo da garganta. Não era somente uma criatura, e sim pelo menos dez delas, que desciam pelas paredes e vinham rastejando e arrastando os pedaços do corpo desproporcionais ao resto, pelo chão.
Eles lambiam o tempo inteiro sua língua fina e pálida e produziam um ruído característico quando tentavam se comunicar, apesar de não fazerem o menor barulho enquanto andavam. Espérers, estes eram as criaturas mais idiotas, porque vinham ao ataque sem nem ao menos pensar antes. Eram completamente irresponsáveis por seus atos, e matá-los era apelação demais, até mesmo para nós.
Os espérers passavam pelos bancos estreitos de madeira da igreja e procuravam não fazer mais barulhos do que o necessário.
— Esses eram os demônios? – sussurrei para Claire, que já atirava em um espérer que se encontrava perto demais.
Ela balançou a cabeça, negando.
— Não pode ser. Tem que ter outra coisa além deles.
Suspirei e comecei a atirar também.
Foi fácil demais, e cada um gastou pelo menos duas balas.
Ouvi um rosnado alto vindo de detrás de nós e um arrepio percorreu minha coluna.
Eles estão vindo, preste atenção e por favor, não atire em nós, a voz de Edward me avisou.
Percebi que ele disse "em nós", e não "nos lobos", e me tremi de leve. A ideia de ele ser um metamorfo ainda não havia entrado em minha cabeça, ele teria que ir mais devagar se quisesse que eu aceitasse aquilo tão simples. Alguns dos lobos pareciam desconfortáveis perto do lobo branco como neve, e querendo ou não, eu acabava me sentindo meio mal com aquilo, já que ele trocava o peso do corpo de uma pata para outra, impacientemente.
Fui para perto de Claire, já que Edward parecia muito ocupado com outra coisa, e sussurrei em seu ouvido:
— Eles estão vindo, não atire nos lobos em hipótese alguma.
Ela assentiu.
Por que eu estava fazendo aquilo? Nós éramos treinados para matar os metamorfos, e vice-versa. Por que eles estavam nos protegendo? Ou melhor, por que estávamos os protegendo?
Chequei quantas balas tinha restante ainda na arma, e Hugh me entregou a balestra que ele tinha, pegando a arma que eu tinha de minhas mãos.
Quando fiz uma cara de confusão, ele sorriu.
— Você é melhor com uma balestra do que com uma arma.
Fingi fazer uma reverência e revirei os olhos.
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A Caçadora
RomanceHelena Jameson é de fato uma adolescente fora dos padrões. Não tem amigos, não se enturma, e nunca deixa que as pessoas se aproximem demais por causa de seu segredo sombrio. Ela é, na verdade, uma caçadora de criaturas místicas. E estar apaixonada p...