Capítulo 26

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Carla

- Quando você ficar boazinha, a vovó vai fazer um doce, um doce se leite que só a vovó sabe fazer. E você vai fazer igual sua mãe.

- Mia, mamãe?

- Sim. Sua mãe. Ela comia e se sujava todinha. Ficava lambuzada de doce pelo corpo todo - Mamãe passa as mãos pelos ombros, barriga, rosto, fazendo Ana e eu darmos gargalhadas.

- Ieu quelo!

- Então a mocinha trate de ficar nem o quanto antes. Assim a vovó vai poder te encher de beijos e fazer o doce.

Ana abre um sorriso tão lindo, que sinto meu coração se encher de esperança.
Mais uma vez os resultados  exames indicaram que minha mãe também não é compatível com a Ana, e o doutor ficou de conversar com a gente na sala de espera.

- E u bobô?

- Seu avô... Ah, meu amor, ele é turrão. Mas não se preocupe, logo você conhecerá ele.

Ana balança a cabeça assentindo e faz uma careta de dor, imediatamente caminho até ela e pego sua mãozinha, colocando minha mão sobre o local que ela sente dor.

- Esta doendo?

- Zim... Ai...

- Ei... você é uma menina forte - Mamãe acaricia a mão de Ana. - Finge que essa dor não esta ai, e abre um sorriso lindo pra vovó?

Ela tenta, mas não consegue, vejo algumas lágrimas abandonando seus olhinhos castanhos e ela se contorce reclamando de dor.
Não consigo conter as minhas lágrimas, ver Ana morrendo de dor acaba comigo, quero que tudo o que ela esta sentindo passe para mim, e eu sinta a dor no lugar dela. Meu Deus... minha filha é tão pequena.

- Vou chamar a enfermeira...

Aperto o botão que fica em cima da cabeceira da cama, me volto para Ana tentando acalmar ela, e tentando fazer ela parar de se contorcer, logo a enfermeira entrou no quarto.

- Ela esta sentindo dores novamente!

- Ta duendo...

- Senhoras, peço que saíam por gentileza. Iremos amenizar as  dores dela e logo o doutor irá conversar com vocês.

- Não. Eu vou ficar. Sou a mãe dela - falo sem soltar Ana.

- Querida, ela vai ficar bem. A gente precisa saber do doutor como anda o quadro dela. Por favor, vamos... vamos?

Olho para minha filha, com os olhos fechados, com uma expressão de dor e lembro que eu preciso saber o quadro dela, a cada dia que passa, as dores dela aumentam mais e eu sei, bem lá no fundo, que isso não é bom.
Balanço a cabeça assentindo, dou um beijo demorado na testa dela e sussurro em seu ouvido que logo estarei de volta, ela não me responde, as dores que ela sente acabam deixando-a sem reação ao que esta acontecendo no ambiente.


- O que o senhor quer dizer com "temos que correr contra o tempo"?

Pergunto com a voz embargada.

- Se não conseguirmos um doador em 78 horas, Ana Clara pode vir a ter um quadro extremamente grave, podendo levar ela a morte... - ele pronuncia a última palavra com a voz falhando.

Entre Mentiras - Completo - Em Revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora