Renato
Lembro como se fosse hoje a primeira vez que segurei Ana Clara em meus braços, uma bebêzinha pequena, indefesa e linda, quando a tive em meus braços, eu jurei para mim mesmo que cuidaria dela pelo resto da minha vida.
Mas veio a vida, e atrapalhou todos os nossos planos...
Ana esta morrendo...
E com ela está indo toda a minha ideia de ser pai, não sei como serei o pai dessa criança que Carla espera, sonho com isso há tempos, mas agora, é como se tudo o que aprendi sendo o papai Lenato da Ana tenha se apagado. Eu não vou conseguir ser pai novamente, não vou.
Mas é como Carla diz, a gente precisa aceitar isso que esta acontecendo, Ana só esta morrendo por um motivo, eu ainda não sei qual, mas descobrirei.
Minha menina veio ao mundo, viveu por quase 5 anos com alguma missão para ser cumprida. Eu não acredito nisso, mas também não desacredito.De noite, eles irão desligar os aparelhos dela, ainda não sabemos o que vai acontecer, e sinceramente, eu não quero pensar nisso. Queria poder ficar ao lado dela a todo minuto, até o último momento de vida da minha pequena criança.
Mas infelizmente na UTI é permitida apenas duas vizinhas, Richard e Carla estão com ela.
Não me achei no direito de tirar esse momento de Richard, ele já perdeu a vida da filha e eu não quero tirar esses últimos momentos dele, Richard é um bom homem, não merece isso e eu tenho certeza que ele tem sofrido mais do que eu.O doutor permitiu que todos nós da família estivéssemos presentes na hora em que fossem desligados os aparelhos, mas não sabemos que Ana nos deixará na hora, ou se demorará algum tempo.
Me sento em um dos bancos do lado de fora do hospital, estão todos tensos, com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, e eu não consigo ficar naquela sala de espera de forma alguma. Isso tudo já esta doendo, e ainda vendo o quanto Ana é amada e o quanto a morte dela vai doer nas pessoas da nossa família, eu me sinto pior do que já estou, me sinto um caco.
Tomo um gole do meu suco de maracujá, que dona Thais me deu para ver se eu me acalmo, o que não esta funcionando, respiro fundo e encosto levantando minha cabeça, fechando meus olhos e sentindo o vento tocar meu rosto.
Sinto que alguém senta ao meu lado, continuo com meus olhos fechados e sentindo o vento em contato com meu rosto, deve ser algum paciente ou familiar, que assim como eu necessita de um vento no rosto.- Meu pai dizia que quando estamos sofrendo, precisamos dizer a alguém. Extravasar!
Abro meus olhos e fito a moça que gerou o filho de Richard, Laura, Alex me falou dela.
Ela abre um sorriso fraco, faço o mesmo e digo:- Tenha certeza que eu já extravazei... Minha casa é a prova disso - falo em um tom irônico.
- Me chamo Laura...
Nos cumprimentamos com um aperto de mão, e ela com um sorriso meigo e carinhoso nos lábios, tambem sorrio para ela.
- Sou a mãe do Daniel, filho do Richard - ela completa.
- Sou Renato - falo. - Sou o pai de coração da Ana Clara...
- Ela é uma menina linda... Eu fiquei muito encantada por ela.
- Isso porque você não a conheceu acordada. Ativa. Falante. Ana era uma criança muito proativa. Como minha mãe diz, um trem desgovernado - dou uma gargalhada baixa lembrando de Ana Clara correndo e brincando.
- Eu posso imaginar a dor que todos estão sentindo. Ela é tão pequena...
Respiro fundo assentindo com a cabeça, sinto algumas lágrimas brotarem em meus olhos.
- A morte vem para todos nós. Para algumas pessoas vem cedo. No caso da Ana. Muito cedo - minha voz embarga. - e para outras, vem beem tarde!
- Eu sinto muito...
- Eu também sinto muito. Também sinto pelo Richard Bittencourt. Imagino o quanto ele deve estar sofrendo...
- Ele tem sofrido muito - ela fala abaixando a cabeça e assentindo com a cabeça. - Esses dias em que estou aqui no Brasil eu percebo ele meio desnorteado. As vezes chorando... Mas ele quer se mostrar forte. Acho que pela Carla... Meu Deus, eu posso imaginar a dor dela.
- Os dois são fortes! São pessoas completamente extraordinárias. E eles dão forças um ao outro. Mesmo sem perceber... - falo sentindo meu coração despedaçar, e tento entender o porque, mas não consigo.
- Sei que acabamos de nos conhecer, mas eu quero que você sabia que eu estou aqui para o que você precisar...
A encaro sentindo uma admiração por ela me invadir, como alguém pode ser tão bondosa assim?
Sorrio e ela também abre um sorriso largo e acolhedor.- Obrigada!
♡
- Senhor Renato Augusto?
Uma mulher me aborda no corredor do hospital, me viro e ela sorri fraco, ela esta segurando um papel, logo a reconheço.
- Não sei se lembra de mim. Sou a Dra. Leticia. Da ala da maternidade - ela diz.
- Acho que lembro... Lembro...
- Sua filha como esta?
Ela abre um sorriso esperançoso.
- Morrendo.
- Eu - seu sorriso desfaz. - eu sinto muito! De verdade... - ela olha para o papel em suas mãos, depois me olhar com uma expressão cheia de pena.
- No que eu posso ajudar doutora?
- Isso nunca aconteceu. Nunca. Foi a primeira vez. Já estamos tentando entender o porque disso e...
- Por gavor! Diga!
- Quando sua esposa. A Carla. Passou mal, nós realizamos uns exames nela. Por uma coincidência infernal, uma mulher, chamada Carla, também havia passado mal e o outro obstetra da ala pediu os mesmos exames. E o nosso estagiário trocou os exames delas...
- E o que isso quer dizer?
- Que sua esposa não esta grávida. Quem está grávida é a outra Carla. A outra paciente...
- Meu Deus...
- Eu sinto muito. Essas coisas nunca, nunca aconteceram aqu...
- E agora? Como? Como eu vou dizer isso a Carla? Essa, meu Deus, essa criança estava trazendo para ela paz no meio desse caos...
Ela fica queita.
- Nossa filha vai morrer a qualquer momento e você quer que eu diga que ela nunca esteve gravida?!
- Eu entenderei se vocês quiserem processar o hospital ou a mim, o erro foi nosso, senhor! E estamos dispostos a pagar pelo dano que causamos...
- Meu Deus... Meu Deus...
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Boas tardes!!
Até daqui a pouco
💕
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Entre Mentiras - Completo - Em Revisão
RomanceAtenção: Plagio é crime. Todos os direitos dessa obra são reservados à autora. Quando Carla Figueira descobriu que estava grávida, tudo o que passava em sua cabeça era saber qual seria a reação de seu pai, Alberto Figueira, um homem que vive com os...