Capítulo 33

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Carla

"Quando uma mãe perde um filho, ela acaba precisando de encontrar uma nova forma de enxergar a vida"

Eu, sinceramente, não sei como a minha vida será depois da Ana Clara ir embora.
Não sei o que vou fazer, como vou agir, como vou voltar a viver da forma com que eu vivia antes, com ela no meu dia-a-dia me alegrando com seu sorriso inocente, com suas palavras ainda mau formadas, com seu chorinho manhoso quando quer um colo... Eu não sei como eu vou continuar vivendo sem a minha menina.
Acho que descobrir essa minha nova gravidez, foi uma tentativa de amenizar essa incerteza e essa dor que sinto em meu coração, mas como disse, apenas uma tentativa.
Porque eu vou amar essa criança, como ela deve ser amada, nenhum filho substitui o outro.
Mas uma coisa é certa, esse bebê vai me ajudar a não enloquecer.

Peguei a mãozinha de Ana Clara e me sentei na cadeira, ficando ao lado dela. Richard foi para o outro lado da cama, e também pega a mãozinha de Ana. Então sinto falta de Renato, me viro devagar e o fito encostado no canto da parede do quarto, chorando e olhando para nós.

- Renato...?

Estendo minha mão para ele, Renato olha para minha mão e depois olha em meus olhos.

- Eu não consigo, Carla...

Ele diz entre soluços e com a voz completamente embargada.

- Ela precisa sentir a gente. E você é o papai dela também - falo sentindo um bolo se formar em minha garganta. - Vem...

Ele limpa suas lágrimas e caminha na minha direção, logo ele pega minha mão e senta, devagar, na cama e soltando minha mão, acaricia a perninha de Ana Clara. Respiro fundo e sinto a mão de minha mãe acariciar meu ombro, como se ela dissesse: a mamãe esta com você, filha! Sorrio e balanço a cabeça, chegou a hora que eu pedi a Deus para não chegar, o doutor pergunta se pode começar e balançamos, todos, balançamos a cabeça assentindo.

Então tudo começa e eu fito meu olhar apenas nela, esqueço tudo, todos e fito meu olhar apenas no meu pinguinho de gente, o meu pedacinho de céu, a minha Ana Clara, a minha Clarinha...

FLASHBACK ON

- Amor e prote...

Minha mãe é interrompida quando a porta abre e uma enfermeira surge empurrando um bercinho com Ana Clara dentro.

- ...ção de mãe - ela termina.

- Oh meu Deus! Ela é muito linda, mãe! Olha isso...

Digo olhando para Ana Clara pela primeira vez, no berço do hospital, após aquela cesariana de emergência que eu achei que eu morreria. Ela esta com uma touquinha rosa, um macacão com detalhes rosas e enrolada em uma cobertinha.
Ela é tão perfeitinha...

- Me da ela... - falo. - me da ela!

- Calma, querida! Lembra que você está recém operada!

Dona Thais diz pegando Ana Clara do berço com cuidado, sorrimos olhando a beleza do meu pedacinho de céu, andando devagar mamãe trás ela até mim e coloca Ana em meus braços.
Eu não consigo parar de olhar para a minha pequena, tenho certeza que estou com o olhar mais bobo que uma mãe pode ter, toco o pequeno nariz dela, depois na bochecha, nas orelhinhas, nos lábios, olho cada detalhe dela, suas mãozinhas, todo o seu corpinho pequeno e sinto uma lágrima rolar por minhas bochechas.

Entre Mentiras - Completo - Em Revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora