Capítulo 29

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4 DIAS DEPOIS

Carla

Ana Clara esta morrendo...
Morrendo... Ana esta morrendo a cada segundo que passamos nesse hospital a espera de um doador de figado.
Ela esta respirando com aparelhos e quase não fica acordada, o doutor disse que será assim, mas ele tem certeza que enquanto ela dorme, ela pode ouvir tudo o que falamos para ela.
Ainda não contei que ela terá um irmãozinho, não consegui, quando Renato e eu chegamos aqui naquele dia, Ana havia tido uma parada respiratória e estavam encaminhando ela para a Unidade de Tratamento intensivo.
E ela ainda esta nessa ala...
Quando Ana nasceu, eu sabia que teria dias em que ela estaria doente, e eu teria que levar ela para um hospital, mas eu nunca, nunca pensei que ela sofreria um acidente e ficaria entre a vida e a morte, assim... Aliás, nenhuma mãe pensa que isso irá acontecer com um filho.
Mamãe tentou convencer Alberto a fazer a doação, mas aquele monstro simplesmente sumiu, Dora disse que surgiu um caso criminal nos Estados Unidos e ele não pensou duas vezes em aceitar.

- Carla...

Olho para Renato, ele fecha a porta do quarto e caminha até mim, selando seus lábios em minha testa, respiro fundo e levanto o abraçando.

- Você precisa comer algo.

- Sim... - sussurro e o bip do aparelho me assusta, fazendo Renato e eu nos afastar. Respiro fundo pegando minha bolsa.

- Eu fico com ela...

- Qualquer coisa me chama ta?

Ele balança a cabeça assentindo e coloca um tufo do meu cabelo atrás da minha orelha, sorrio e selo meus lábios nos dele.
Viro-me para Ana Clara e dou um beijo em sua bochecha.

- A mamãe não demora.

- Nunca imaginei que Richard Bittencourt era um homem religioso!

Falo adentrando a capela do hospital e fito Richard sentado em uma das cadeiras, olhando para o crucifixo. Ele abre um sorriso fraco, me sento ao seu lado e juntos olhamos para o crucifixo.

- Acha que ela vai se salvar?

- Não sei... Eu já não sei de mais nada, Richard - minha voz falha.

- Eu tive tão pouco tempo com ela... Não vive com ela o que eu queria ter vivido.

Sinto lágrimas brotarem em meus olhos, respiro fundo.

- Eu quero poder viver com ela tudo o que um pai tem que viver com sua filha.... Mas, - a voz dele embarga. - mas eu sei que ela não pode ficar aqui do jeito que ela esta, Carla!

Já não contenho minhas lágrimas, Richard também esta chorando.

- Ela é uma criança e é muita injustiça para ela ficar da forma com que ela esta, Carla. Em uma cama. Mal. Doente. Uma criança da idade ela, sorri, brinca, corre... meu Deus - ele afunda seu rosto em suas mãos e chora como uma criança ao se machucar.

O abraço, deitando minha cabeça em seu ombro e também chorando, os dois.
Ele tem toda razão, não podemos simplesmente pedir e implorar para Ana ficar com a gente, pensando em nós. O banco de doação de órgãos tem muitas pessoas, e minha filha esta sofrendo, enquanto não aparecer um doador, ela estará sofrendo.
E a gente não pode simplesmente pedir que nossa filha fique e sofra.

Entre Mentiras - Completo - Em Revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora