Capítulo 34

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Carla

Abrir o papel em que escrevi um texto que encontrei em uma página no facebook para mamães que perderam seus pequenos, senti mamãe me abraçar de um lado e Alex do outro, então sorri e olhei para o papel, acho que Ana adoraria ouvir ele, ainda segurando duas rosas brancas, comecei a ler:

- É da semente do amor que floresce a saudade, é da colheita do fruto que surge algo que chamamos de laços e é quando a vida os desata que chamamos de perdas... Perdas irreparáveis; perdas que não têm nome, dor que dói só de pensar, dor que um dia ouvi ser equiparada a um parto inverso. Devolver o filho(a), sem ao menos nos perguntar se damos essa permissão, lágrima que não sai, choro que nos falta o ar. Medo de viver, medo que o medo nunca saia de nosso coração, medo do medo! Vontade louca de voltar segundos, ou talvez milésimos dele, para gritarmos para nosso filho(a): saia daí, ou desvie o carro, ou não ande por essa rua, mas nada é possível, o chão é roubado, o coração parece parar, e borboletas voam angustiadas pela nossa alma. O sonho de que tudo seja mentira, que a notícia recebida foi engano, que o nome dito era homônimo. Amentira se faz verdade, o nome querido pensado com tanto carinho antes mesmo do nascimento, é trocado por alguém que já o chama de "corpo", seu leito se torna forrado de flores, flores estas que sonhávamos para sua formatura ou casamento, e agora o acompanha para emoldurar seu semblante que parece estar em um sono profundo, olhos que não abrem mais, mãos que não nos afagarão mais, voz que não nos dirá que está com fome ou que quer aquele doce que só você sabia fazer, o momento de dor intensifica, a cena nos tortura, ao invés de nos acalmar. Ele(a) ainda está aqui, mesmo que já não mais em vida, mas é hora do último adeus. Devolver o filho(a) tão amado e esperado(a), devolver o que não quer ser devolvido e uma multidão de abraços e consolos nos afaga, tentando nos distrair desse momento que não tem como reverter, e uma procissão de familiares, amigos e curiosos, acompanham sua partida. A cabeça meio que atormentada nos impulsiona a dar o último beijo, o último afago, e vem a frase: Vá com Deus, filho(a) amado! O quarto do filho(a) se esvazia de tudo, as coisas ficam; as roupas fora do armário, o computador ainda aberto, anotações e sonhos ainda por realizarem. O armário insiste em deixar o cheiro do ser amado, tentando nos convencer de que ele saiu e logo volta. As gavetas nos revelam tantos pertences, tantos bilhetes e tantas lembranças e a foto do porta retrato, que antes enfeitava o quarto, se transforma em altar sagrado da triste lembrança de que tudo realmente aconteceu, mas alguma coisa surge em nosso interior, um vazio que nos invade e a sensação de estarmos anestesiados começa a tomar ciência de nossa realidade e esse estado de torpor, tenha certeza, são lenitivos de Jesus, tentando acalmar os corações dilacerados, mas amparados. Ele nunca desampara um filho, ainda mais nessa hora; hora essa que Jesus também fez passar sua Mãe, quando O retiraram da cruz e O colocaram em seus braços. Ele sabe de tudo, Ele sabe o que aconteceu e o que irá acontecer... Ah, se pudéssemos ver o trabalho de Deus nesse momento, se pudéssemos ver Deus tomando em Seu colo nosso filho(a), antes mesmo dele(a) sentir qualquer dor na hora de sua partida, se enxergássemos a legião de anjos guardiões o recebendo,
compreenderíamos que o momento da perda, já havia acontecido perante os olhos de Deus. Por isso tenhamos fé saibamos que o propósito de Deus por mais injusto que nos pareça, tem um motivo e sempre embasado na lei do amor, ser forte não é não chorar; e chorar não é uma demonstração de pouca fé. Somos humanos. Quando Jesus dizia "Vinde a mim os aflitos que Eu vos aliviarei", Ele já sabia que as dores da alma tem seu tempo de manifestar e Deus nos respeita, dando-nos o momento do luto. Há tempo para tudo na vida, até para chorar. Viva esse tempo, mas com a certeza de que ele passará, e outro tempo chegará cheio de respeito, para acalmar o coração, fará com que a saudade não seja mais dolorida, fará que os momentos felizes continuem compartilhados nos almoços de domingo e nas festas de aniversário, Deus trará novamente a vontade de viver, vontade de viver em homenagem à seu filho(a). Viaje por ele(a), faça graça por ele(a), retome a vida por ele(a)! E essa alegria contagiará os seus corações, tornando-os eternamente em uma comunhão de amor e ternura. Deus não machuca ninguém. Não desampara 99 ovelhas para socorrer uma. Ele com sua onipresença também estará com as outras ovelhas. Mas quero que hoje, você se sinta como Sua ovelha predileta. Sinta-se em Seu colo, recebendo Dele toda ternura e consolo de Pai. Seu filho(a) já está de volta à Sua casa e a certeza de que ele foi apenas à frente, nos faz crer que ainda fazemos parte deste jogo da vida, até Deus achar que atingimos nosso objetivo, que Deus ampare todas as mães e pais que hoje choram ou irão chorar a ausência de um filho(a), dando a eles a certeza da vida eterna e do tão esperado reencontro... - limpo minhas lágrimas. - Texto de Walter Hassin! Vai com Deus meu amor...

Entre Mentiras - Completo - Em Revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora