Capítulo 6

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Pérola



Não levem a mal o que vou falar, não é ingratidão, muito pelo contrário. Eu realmente fiquei muito feliz com a festa surpresa que meus amigos prepararam para mim, mas uma pontinha de desapontamento por Márcio não está ali surgiu mesmo que eu tentasse camuflar. Poxa! Era meu aniversário. Um dia importante para mim e ele nem tinha feito questão de fazer parte? Melhor tirar logo esse garoto da cabeça, porque pelo visto não fazia a mínima diferença para ele a minha existência.

Procurei conversar com a galera e tentar esquecer. Eu amo dançar e foi isso que fiz. Estava realmente me divertindo e sentindo o quanto eu era importante para os meus amigos e isso já era suficiente para voltar a sorrir. O Márcio que fique com sua bipolaridade que eu vou é me acabar de dançar.

Jade: Amiga, sua festinha está ou não está MA RA VI LHO SA? - a louca falava aos pulos enquanto fazia uns passos no mínimo estranhos com Michael. 

Pérola: Claro né meu amor, aqui estão os melhores amigos do mundo! - falei abraçando meus amigos .- Agora preciso ir ao banheiro. antes que minha roupa fique encharcada de suor. Vem comigo amiga?

Jade: Eu até iria, mas acabei de ver o Érico sozinho ali. - apontou para um canto onde Érico estava com os olhos vidrados no celular. - Sabe como é né? Vou socializar.

Michael: Se pegar agora trocou de nome? - esse não economizava no quesito passar na cara.

Jade: Ué, coisas diferentes com o mesmo propósito. - riu

Pérola: Então deixa eu ir antes que você queira socializar comigo também.

Saí dançando feito doida no meio do povo e deixei Jade e Michael as gargalhadas com os meus movimentos nada ritmados. Esses dois tinham o dom de me fazer  sentir pra cima. Somos tão diferentes e são essas diferenças que nos completam. Acabamos por ser o ponto de equilíbrio um do outro. 

No banheiro depois de secar um pouco o suor e me acalmar um pouco tive a ridícula ilusão de achar que Márcio devia ter mandado uma mensagem, já que a anterior havia sido apagada antes mesmo de eu ter a chance de ler. Foi só mais uma idiotice que fiz. Nenhum sinal. Nada!

Pérola:  Já chega né Pérola? - falei me olhando no espelho, porque quem sabe assim eu entenda de vez que loucura já basta a minha. Não preciso de mais um cheio delas. - Ele é só um garoto assim como muitos. Vai dançar e aproveitar com seus amigos e amanhã nem vai mais se lembrar que Márcio Porto existe.  

Realmente eu estava decidida a fazer isso. Ia mostrar que eu também era boa em ignorar. Talvez eu até fosse boazinha e indicasse meu terapeuta pra ele. Quem sabe não era isso que ele estava precisando? Normal aquela criatura com certeza não é. Mas como um raio a minha decisão se perdeu ao sair daquele banheiro. Lá estava ele vindo em minha direção e tudo ao meu redor sumiu. Desapareceu fazendo que só ele importasse.

Eu estava esperando tudo, menos ser levada a outra dimensão por um beijo. Já ouvi dizer que quando se está inconsciente lutando pela vida era como se alma saísse do corpo, mas foi aquele beijo que fez isso comigo. Ali eu soube  o real sentido do que é estar em casa. Aqueles braços que me me mantinha de pé eram o meu abrigo. A minha casa. Era como se por muito tempo eu tivesse vagado em busca do meu lugar no mundo e agora eu tivesse encontrado.

A maciez daquela língua que explorava cada canto da minha boca me acendeu, me fez sentir viva mais do que nunca. Os dedos que se emaranhavam em meus cabelos me aqueciam. O gosto que se misturava ao meu era o meu preferido a partir de agora. Era insano. Louco. Envolvente. Era tudo que eu queria pra mim.

Quando senti sua boca se distanciando da minha me vi desesperadamente sozinha, mas foi a intensidade do olhar que me penetrou por inteira que eu busquei e me segurei como se fosse meu oxigênio.

Márcio: Eu juro que tentei - ele falou enquanto passava o dedo carinhosamente em meu rosto. - Mas a batalha tinha sido perdida no momento que entrei naquela sala e o seu olhar encontrou o meu.

Pérola: Márcio... eu ...eu... - sabe quando tudo te foge a mente? Eu estava assim.

Márcio: Não precisa falar nada agora. - ele sorriu e foi como o nascer do sol . - Tenho muito o que te dizer, mas não aqui. Não agora. A propósito, feliz aniversário! 

E novamente nos beijamos. 


Márcio


A minha sentença tinha sido decretada e dela eu não ia mais conseguir escapar. Na verdade eu queria uma pena perpétua se o castigo fosse sentir tudo o que eu senti com aquele beijo. Tanto tempo buscando algo que eu nem sabia o que era e foi só sentir Pérola em meus braços para ter a certeza que era ela quem eu procurava.

Engraçado como tudo acontece e não temos o controle sobre nada. Somos meras peças de um destino que muitas vezes brinca com a gente, mas do qual não conseguimos escapar. Aquela garota foi como uma flor que brotou numa rocha. Num terreno infértil. A dureza com que eu vejo a vida se desfez para que ela florescesse em mim.

Eu não sei o que os dias futuros reservam para mim, mas no momento eu não quero mais lutar contra. Eu não quero deixar de sentir o que só ela foi capaz de despertar. Louco? Inconsequente? Eu não sei, mas se tiver direito a um palpite eu diria apaixonado.

Márcio: Agora vem que eu quero dançar com a garota mais linda dessa festa. - a chamei depois de alguns beijos trocados. 

Pérola: Você querendo estar no meio de toda essa gente que parecia  te assustar? - ela me olhou curiosa

Márcio: Agora eu não estou mais sozinho. - falei beijando sua testa e ouvindo o que eu mais queria naquele momento.

Pérola: Nunca mais estaremos sozinhos. - disso eu tinha certeza.

E a noite não poderia ter outro fim para mim. Sob alguns olhares de espantos e outros de felicidade, nós dançamos juntos. Hora agarrados. Hora rindo, mas na maioria nos olhando e nos beijando. Ali com ela em meus braços e cercado dos seus amigos eu não podia estar mais feliz.

Teus Olhos ( PEROMAR )Onde histórias criam vida. Descubra agora