Pérola
O dia já estava dando os primeiros indícios de sua aparição. O rubro já se misturava com o que antes era leve escuridão. Deitada no peito de Márcio eu sentia a sua respiração ditar a minha. Estava aninhada a seu corpo que mantinha o meu aquecido e protegido.O que tinha mudado em mim era mais profundo do que algo físico. Eu me sentia diferente agora. Era como se tudo o que antes estava perdido dentro de mim, tivesse se encontrado.
Márcio: O que está te deixando tão inquieta? - sua voz foi como um sopro de ar nos meus ouvidos.
Pérola: Nada... - suspirei me agarrando ainda mais em seu corpo. Eu estava a procura de algo que nem sabia do que se tratar. - Só não consegui dormir.
Márcio: Olha pra mim! - pegou meu rosto fazendo com que eu o erguesse para fitá-lo - Vamos prometer uma coisa?
Pérola: O quê?
Márcio: Não importa a dimensão ou até mesmo o que irá causar. - seu olhar penetrou em mim - Mas sempre seremos verdadeiros um com o outro e acima de tudo com nós mesmo. A única certeza que eu carrego aqui - falou colocando minha mão em seu peito e pude sentir o compasso das batidas de seu coração - É que o que estou vivendo com você é algo que nunca vou abrir mão. Então, eu desejo que aqui - colocou a mão em meu peito - Esteja querendo o mesmo que eu.
Pérola: É exatamente isso que me assusta. - fui sincera - É muito forte e intenso que nem sei explicar
Márcio: Talvez porque não precise ser explicado ou não tenha explicação. Também me assusta , mas ao mesmo tempo aguça a minha vontade de viver isso. De sentir o que eu sinto quando você me olha. Quando sinto o calor das tuas mãos me tocando, me deixando vivo. Quando o teu sorriso de repente para tudo ao meu redor. Então não procura explicação. Não tenta entender, porque eu acho que não vamos conseguir. Só vive isso comigo. - ele tinha razão. Pra quê procurar um sentido na intensidade em que tudo aconteceu se eu sinto que nunca serei capaz de sentir pro outra pessoa algo igual? Como se lesse os meus pensamentos ele sorriu , me beijou e assim como o dia despertava fizemos amor.
(...)
Depois que demos um " até logo" para o lugar que nunca mais seria esquecido por mim, voltamos para a casa de Márcio. Valéria pareceu sentir que iríamos estar morrendo de fome, havia preparado uma mesa linda e farta de café da manhã. Pela maneira como olhava com encantamento para o filho, ela sabia que algo tinha sido vencido por ele. Aqueles olhos que antes eram vagos, agora transpareciam segurança em estar ali. Eu só pedia que a conversa entre eles significasse um novo começo assim como estava sendo com o Rafael. Pensando nisso eu me ofereci para lavar a louça e Márcio entendeu o meu recado, chamando a mãe para conversar. Já estava quase acabando quando o padrasto do Márcio entrou na cozinha me assustando. Ainda não tínhamos sido apresentados, mas os porta-retratos expostos por toda a casa confirmavam que se tratava de Eduardo.
Pérola: Ai que susto! - falei segurando firme a xícara que quase tinha deixado cair pelo susto.
Eduardo: Você de ser a namorada do problemático. - segurei a xícara com forma antes que a arremessasse na cabeça daquele idiota.
Pérola: Não. - o encarei enquanto ele passeava os olhos por todo o meu corpo. Que nojo! - Eu sou a namorada do Márcio.
Eduardo: Não queria ofender a esquentadinha, mas logo vai ver que tenho razão. - sentou a mesa e pelo modo como quase colocou um pão inteiro na boca dava pra ver que educação não era seu forte. Fiquei me perguntando como uma mulher como Valéria tinha casado com um grosso desse. Gosto né? Fazer o quê? - Aquele garoto é muito estranho. Eu vivo dizendo pra Vavá que uma clínica psiquiátrica ou um bom corretivo resolveria, mas não! Ela acha que eu exagero.