No outro dia...
Márcio
Foi muito difícil me despedir da Pérola ontem a noite. Ficamos abraçados por muito tempo só ouvindo a respiração um do outro. Meu pai parecia pressentir e quando cheguei ele estava a minha espera na sala para conversar.
Segundo ele eu sou mais transparente do que penso. O que não concordo, porque muitas vezes nem eu mesmo consigo me decifrar. Jogamos um pouco de conversa fora e fui enfrentar a parte mais difícil que era não dormir sentindo Pérola em meus braços.
Acordei mais cedo do que era preciso. A cama pareceu grande demais. E não sentir seu cheiro me invadindo tirou meu sono. Alex pareceu também não ter tido uma boa noite de sono e não demorou para estarmos os dois parados de frente para o prédio de Pérola.
Subimos e como ainda era cedo ficamos à espera na sala. Logo ela veio andando com dificuldade devido ao gesso em sua perna. Havíamos combinado que agora iríamos juntos para o colégio.
Quando chegamos alguns alunos já se aglomeravam em frente ao portão e quase não me contive quando vi que entre eles estava Fabiana. Alex me olhou e silenciosamente pediu que eu me contivesse. O que confesso ter sido um esforço tremendo.
Fabiana: Alguém anotou a placa do carro que fez esse estrago em você? - a cínica ainda falou cheia de deboche. - A coisa foi feia, hein...
Alex: Você é sempre tão doce assim ou só deixou cair açúcar enquanto tomava seu purgante adocicado?
Fabiana: Pelo visto o amigo promovido a cunhado não acordou de bom humor.
Pérola: Qual o seu problema, garota? - falou séria - Gosta de provocar todo mundo e não aceita que te provoquem?
Fabiana: O meu problema é você. - se aproximou de Pérola e eu me pus na sua frente. - Ui! O namoradinho protetor também não tem senso de humor?
Márcio: Vaza garota! Procura alguém que te aguente.
Fabiana: Olha que se você me conhecesse melhor iria adorar. - aquela garota não tinha limites.
Pérola: Tá maluca? - tentou passar na minha frente, mas a segurei. Não iria deixar aquela louca perturbá-la.
Maria Alice: Sério que vamos perder tempo com essa aí? - falou puxando Alex - Deixa ela destilar o veneno para quem gosta.
Alex: Tchau, Fabiana! - passou por ela e tentamos fazer o mesmo, mas antes que isso acontecesse ela falou o que na realidade era sua intenção desde o início.
Fabiana: Toma cuidado, Pérola. - parei e a encarei enquanto Pérola segurou ainda mais minha mão. - Essa cidade anda muito perigosa.
Márcio: Vamos, amor! - a tirei antes que eu fizesse uma besteira.
Não tínhamos percebido, mas Michael e Kavaco já estavam se aproximando. Apesar de não termos revelado para nossos amigos que era o carro do pai da Fabiana que tinha sido usado no atropelamento de Pérola, todos sabiam da raiva que ela sentia da minha namorada.
Kavaco: Agora esse colégio voltou ao normal - chegou tentando tirar a atenção de Fabiana. - As férias antecipadas acabaram, Pérola. Agora é só ralação e ralação.
Enquanto eles conversavam com Pérola eu olhei para Fabiana que continuava parada no mesmo lugar e a encarei. Para ela poderia ser apenas uma rixa, mas para mim se tratava da vida da pessoa com quem mais me importo no mundo. E se for preciso eu passo por cima dela para proteger a Pérola. Esperei um pouco enquanto ela era cercada pelas meninas e assim que vi uma oportunidade fui até Fabiana.
Márcio: Vou ser direto - falei bem próximo ao seu rosto - Chega perto da Pérola e eu não respondo por mim. Ainda não acabou. Não sei como, mas eu vou provar que você está metida nisso.
Fabiana: Isso é uma ameaça? - mesmo tentando esconder eu notei que ela teve medo
Márcio: Eu não costumo ameaça, eu faço. - saí sem dar tempo dela falar mais nada. Eu iria descobrir quem mais estava metido nisso, porque com certeza ela teve ajuda.
Pérola
Depois do incidente com Fabiana no início da manhã, as coisas voltaram ao normal. Ela pareceu nem ter notado nossa presença em sala de aula e ficou na dela. Apesar que notei a tensão em Márcio depois do ocorrido e isso me deixava ainda mais certa que algo não tinha sido contado para mim. Eu precisava saber o que de fato eles sabiam. Não podia ficar alheia a essa situação.
Na hora do intervalo aproveitei para ir com Márcio na coordenação, faltamos muitos dias e teríamos quer correr atrás do tempo perdido. Perder em ano escolar não estava em meus planos. Precisávamos também entregar a autorização para o passeio cultural que aconteceria na próxima semana.
Ao voltarmos para sala demos de cara com Miguel, um aluno meio estranho do 3º ano, ele parecia estar a nossa espera. O que foi completamente estranho, pois só nos conhecíamos de vista. Nunca trocamos nem um aceno, dirá uma palavra.
Miguel: Que bom que você está bem. - ele tremia e isso me assustou. Olhei para Márcio e ele parecia querer socar Miguel. - Eu não queria... - ele nem chegou a terminar e Fabiana apareceu como fumaça.
Fabiana: Miguel? É esse seu nome, né? - disse olhando para Miguel de uma maneira estranha. Não estava entendo nada!
Miguel: Eu tenho que ir. - falou saindo apressado
Márcio: O que você queria com ele? - Márcio encarou Fabiana se aproximando
Fabiana: Só avisar que o Marcelo está procurando por ele faz muito tempo.
Márcio: Passamos todo o intervalo com o Marcelo e ele não parecia estar procurando ninguém.
Fabiana: Eu hein! Só vim dar um recado. - entrou na sala nos deixando ali parados.
Pérola: Muito estranho. - realmente parecia ter presenciado um aviso velado.
Márcio: Vamos esquecer isso. - beijou me testa e logo em seguida me ajudou a ir até a minha cadeira.
Pérola: Aulinha particular hoje? - falei ao sentar e ele sorriu
Márcio: Pensei que esse convite nunca viria. - se aproximou me olhando do jeito que me tirava o ar. - Foi difícil dormir essa noite.
Pérola: Você acha que me atrasei por quê?
Foi bom saber que eu não tinha sido a única a sentir falta.
