Dois dias depois...
Márcio
A sedação de Pérola havia sido retirada na madrugada e sua transferência para o quarto foi imediata. Graças ao meu pai, conseguimos uma licença especial para que eu e Rosália ficássemos com ela. Nós dois não arredamos os pés desse hospital desde que Pérola deu entrada aqui. Meu corpo já estava mostrando sinais de cansaço e aquele banho que tomei salvou minha sanidade.
Ela permanecia dormindo e segundo o médico não se podia precisar com exatidão quando ela despertaria. Eu não tirava os olhos dela e tratei logo de colocar uma cadeira ao seu lado. Queria ser o primeiro a olhar em seus olhos.
Alguns de nossos amigos iram vir à tarde depois do colégio visitá-la e outros a noite. Meu pai tinha chegado a poucos minutos e segundo ele, nada ainda tinha sido esclarecido sobre o atropelamento. Mesmo que tenha sido provado que de fato era o carro do pai de Fabiana, a apresentação dos álibis acabavam descartando os dois como possíveis condutores do veículo na hora do acontecido.
Márcio: Mas se o carro é dele, não o torna responsável?
Rafael: As coisas não funcionam assim, filho.
Márcio: Não funcionam de jeito nenhum, quer dizer né? - eu estava irritado com a possibilidade de ninguém ser responsabilizado.
Rafael: Filho, eu prometo que vamos descobrir o que realmente aconteceu.
Rosália: Rafael... - ela parecia preocupada - Eu estou muito preocupada com a permanência da Pérola aqui.
Rafael: Você não está segura com os profissionais daqui? - meu pai quis saber - Me fala
Márcio: Aconteceu alguma coisa e você não quis nos contar, Rosália? - fiquei me perguntando o que poderia ser.
Rosália: Não é isso - ela parecia sem jeito. - É que...
Márcio: Fala, por favor!
Rosália: Eu não tenho como pagar tudo isso. - falou abrindo os braços e mostrando ao seu redor. - A Pérola até tem um dinheiro guardado, mas é para os estudos dela. Não quero nem imaginar o que vai ser pra ela abrir mão disso.
Rafael: E nem vai ser preciso. - meu pai se aproximou colocando a mão em seu ombro. - Deixa essa parte burocrática por minha conta.
Rosália: Não, Rafael. - ela se agoniou - É muito dinheiro e você não tem obrigação nenhuma.
Márcio: Eu tenho o dinheiro que meus avós deixaram para mim. É administrado pela minha mãe, mas eu dou um jeito nisso. - falei já pegando o celular para ligar para ela. Pela Pérola eu esqueceria tudo e não hesitaria até em voltar para a casa da minha mãe e resolver essa questão.
Rafael: Calma os dois! - meu pai sorriu - Ninguém vai precisar fazer nada. O dono desse hospital é um velho conhecido e já resolvi tudo com ele.
Rosália: Mais como? - eu também não estava entendendo
Rafael: Esse hospital tem um programa que atende crianças de outras cidades diagnosticas com a síndrome de Turner. E elas precisam de algumas terapias para o seu desenvolvimento associadas ao tratamento. Então a ONG ficará encarregada de introduzir essas crianças em terapias ocupacionais.
Márcio: Obrigado, pai! - fui ao seu encontro muito emocionado.
Rafael: Ninguém tem que agradecer nada. - bagunçou meus cabelos - Tanto a Pérola quanto essas crianças terão o tratamento que precisam e ganhamos todos. A minha nora nos deu um susto, mas acabou dando esperança a muita gente.