Pérola
Mais um início de ano letivo e mesmo que queira mostrar empolgação o cansaço deixado pelas férias agitadas com meus amigos me fez chegar atrasada. Olho para aquela faixada branca que nunca muda do Sapiência e me pergunto o que me reserva esse ano. torço para que sejam surpresas boas, porque de complicação eu espero ter deixado no ano que passou.
Tenho certeza que muitos dos meus amigos ainda se perguntam como é para uma menina que sempre teve tudo, dividir agora o pouco que resta.Essa resposta nem eu mesma saberia dar, mas não sei se por necessidade ou não ter escolha mesmo, acabei por aceitar bem o que agora era minha realidade.
Minha madrinha ao me acolher só apenas não me deixou sozinha no mundo, como também me fez ver que sempre tem um amanhã para quem acredita que as coisas podem melhorar. Hoje eu, ela e sua filha Maria Alice dividimos além de um pequeno apartamento, muita cumplicidade e amor. Sentimentos que por muito tempo foram substituídos por meus pais por viagens e futilidades.
Dizer que parte de mim não se foi quando soube da morte deles era mentira, mas acredito que tenha ido também um pouco do orgulho que eu sentia ao saber que não se tratava apenas de mais uma viagem corriqueira. Era uma fuga na qual eu não estava incluída. Eles iriam deixar junto com a vergonha e dezenas de famílias que perderam seus sonhos pela ganância dos dois uma filha: EU.
Não sinto vergonha de ser quem eu sou, isso nunca esteve em questão para mim. Afinal se de alguns eles roubaram dinheiro, de mim roubaram um pouco a crença que eu tinha no ser humano.
Com esses pensamentos caminho pelos corredores onde os novos se misturam com os antigos. Avisto minha melhor amiga toda falante contando mais uma de suas maratonas de compras parisiense. Jade também me ajudou muito durante toda a transição que passei de filhinha de papai agora para apenas a Pérola. Ela soube me confortar mesmo não tendo a mínima noção do que eu enfrentava quando tudo ficava escuro e eu tinha medo até de sonhar.
Jade - Amiga! - o grito de Jade me tira de meus pensamentos trazendo um largo sorriso em meu rosto. - Acredita que não estamos na mesma turma? Eu quase tive uma síncope, não sei como passarei esse ano todo longe de você.
Pérola - Vejo que trouxe na bagagem mais uma dose do exagero Jade de ser. - não contenho o riso - Não será uma parede que impedirá o amor que tenho por você. Pensa que no intervalo a saudade será aplacada em nossas conversas.
Jade - Pensando por esse lado até passa um pouco a tristeza, mas só um pouquinho. - falou fazendo carinha de choro. Eu amo essa criatura!
Pérola - Então só me resta a turma B. Deixa logo eu encarar as feras que me acompanharam esse ano. - falei a abraçando para logo em seguida entrar na minha sala.
Lá vi caras que fizeram eu rir. Alguns de meus amigos contavam as aventuras vividas, enquanto outros ensaiavam um cochilo mostrando que aproveitaram até o último minuto das férias, Entre os que eu já conhecia estavam alguns rostos novos. Entrei procurando uma cadeira vaga e logo Alex me notou, vindo me abraçar e dizer o quanto sentiu saudade. O que foi irônico para alguém que me viu quase todos os dias. Ele namora Maria Alice e consequentemente é quase um morador do nosso apartamento.
Não demorou muito para a professora Gabriela entrar já fazendo menção a algum poema e me fazer lembrar que aqui é o lugar onde eu mais me sinto a vontade. é a diferença entre nós que nos faz tão iguais.
Gabriela - Bom dia, meus alunos! Para quem é recém chegado nessa louca aventura que é esse colégio, eu me chamo Gabriela e vou dar a vocês a honra de embarcar no mundo da literatura. Seremos mocinhos, pensadores, vilões. Só caberá a nós escolhermos o papel mais apropriado que viveremos. Conheceremos obras nunca esquecidas, mas espero que cada um de vocês possa escrever sua própria história esse ano. - enquanto Gabriela fala chamando a atenção da sala e fazendo com que olhos curiosos a observem vidrados, vejo Alex olhar para a mãe com admiração e tento lembrar de algum momento desse que tive com meus pais e nada me vem a cabeça.
Volto minha atenção agora para as lembranças e vejo que morar com minha madrinha não foi nada de novo para mim. Era para a casa dela que sempre meus pais me mandavam com a desculpa que para que eu vivesse como uma princesa a ausência deles era necessária.
Gabriela - Vejo que mais alguém resolveu se juntar ao nosso bonde literário. - Gabriela fala fazendo com que meus olhos sejam completamente fisgados para a intensidade daquele olhar.