Capítulo 33

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Dias depois...


Márcio


Parecia que estávamos andando em círculos. As pistas sempre levavam ao mesmo destino: nada. Meu pai já não sabia mais o que fazer para nos tranquilizar. Estava difícil proteger Pérola sem saber do que e de quem. Eu fazia de tudo para que ela esquecesse tudo. Procurava sempre está ao seu lado. Até pensei em desistir do curso, mas ela foi irredutível nisso e ameaçou até se afastar de mim se assim eu fizesse.

Fabiana andava me rondando. Fingia não notar, mas eu sabia que seu bote seria apenas questão de tempo e eu precisava estar em alerta.Não podia deixar que ela escapasse dessa vez sem me dar maiores explicações. Suas insinuações já estavam enchendo o meu saco. Eu iria explodir a qualquer momento.

Pérola hoje não veio ao colégio. Acordou sentindo muitas cólicas e Rosália achou mais prudente que ela descansasse. Então vi a oportunidade de confrontar Fabiana sem que Pérola soubesse. Podia até ser um tiro no escuro, mas eu precisava tentar já que Fontes não havia feito nenhum avanço em suas investigações.

Márcio: Quero falar com você. - aproveitei um momento em que ela estava sozinha

Fabiana: Eu te avisei que você iria querer. - sorriu e meu estômago revirou de nojo. Saí e ela veio atrás de mim. Achei melhor irmos para o mesmo local que Pérola havia nos visto conversando antes.

Márcio: Você vai me dizer agora o que sabe sobre o atropelamento da Pérola. - fui direto

Fabiana: Isso tem um preço.

Márcio: Eu pago! - eu só queria ter as respostas que precisava

Fabiana: Mesmo que esse preço seja magoar a sua namoradinha? - senti meu corpo gelar

Márcio: Não estou entendendo.

Fabiana: Eu quero você! - o mundo parou naquele momento.

Márcio: Tá maluca? - quase gritei 

Fabiana: Maluca por você estou sim. É muito simples, você larga aquela ridícula e eu te conto o que quer saber.

Márcio: Fabiana você não pode está falando sério. - meu peito se contraiu porque eu sabia que era verdade. 

Fabiana: E tem outra condição - falou mexendo nos cabelos. - Tem que ser aqui no colégio. Na frente de todo mundo. Eu quero ver a Pérola humilhada por você aqui.

Márcio: Me pede a vida, mas não isso - senti o choro apertar na garganta.

Fabiana: Bem ... eu já disse o preço. Você avalia quanto vale a vida da sua princesinha. 

Márcio: Você não pode ser tão cruel assim. - senti uma lágrima solitária tocar meu rosto - Não com uma pessoa que nunca te fez nenhum mal.

Fabiana: Eu odeia aquela sonsa! Ela com aquele jeito doce me enjoa. - fingiu que iria vomitar. - Tão boazinha... argh!

Márcio: Ela não tem culpa que você é uma pessoa que destrói tudo ao seu redor. A culpada disso é você mesma.

Fabiana: Márcio, eu já disse o que queria. Você decide o que vai fazer, mas caso aceite eu quero que saiba que terá que ser amanhã.

Márcio: Pelo amor de Deus, Fabiana! Eu te imploro! - supliquei

Fabiana: Tic tac, gatinho. - imitou o som do relógio - O tempo acaba amanhã.

Saiu me deixando perdido. Não iria conseguir fazer uma crueldade dessa com a mulher que eu amo, mas eu precisava protegê-la. Eu queria gritar, mas sabia que não podia contar isso a ninguém. O que eu vou fazer, meu Deus? Eu precisava pensar e perto da Pérola isso seria impossível. Não iria ter a coragem que precisava se a sentisse em meus braços.

Liguei para ela e tentei agir o mais natural possível. Avisei que estava com um pouco de saudade do meu pai e tinha resolvido dormir essa noite lá. Sua voz parecia triste, mas ela disse entender e que sentiria saudade. Aquilo acabou comigo. Andei sem rumo e tentava de todas as maneiras gravar seu cheiro em mim. Fechava os olhos e ela surgia perfeitamente em minha mente. Não podia esquecer nenhum detalhe. Eu estava morrendo a cada minuto que passava, mas a minha decisão já estava tomada.

Quando cheguei a noite na casa do meu pai ele estranhou, mas respeitou o meu silêncio. Eu só precisava juntar forças para prosseguir com aquilo e pedia para que um dia ela me perdoasse, porque eu jamais iria.


Pérola


Não foi fácil dormir sem sentir Márcio ao meu lado, mas eu precisava entender que ele devia sentir falta de casa. Não podia ser egoísta e pedir para ele deixar o pai para trás. Márcio já tinha aberto mão de momentos com Rafael por mim e isso não era justo.

Mal acordei e já estava apressando Maria Alice para irmos pro colégio. Não conseguia esconder a ansiedade de ver Márcio. Acabei sendo o motivo das risadas dela e da minha madrinha. Tentei falar com ele antes de dormir, mas ele não me atendeu, embora tenha ligado mais de uma vez.

Assim que chegamos com Alex, eu vi Márcio sentado sozinho e corri ao seu encontro, mas na medida que a distância entre nós diminuía em meu coração eu sentia que ficávamos mais distantes. E o seu olhar me disse o que eu não queria saber.

Pérola: Tudo bem, amor. - falei sentindo meu peito apertar pela forma como ele me olhava.

Márcio: Tudo - foi seco.

Pérola: Liguei pra você ontem, mas não atendeu. - por mais que eu quisesse tocar nele, seu olhar vazio me impedia.

Márcio: Precisava respirar Pérola. Cuidar de mim, sabe? - o que era aquilo? - Estou cansado de me colocar sempre em segundo plano. Eu sou muito novo pra tá passando por isso. Eu preciso viver. - isso estava me magoando

Pérola: Márcio, eu nunca te pedi que deixasse sua vida de lado por mim. - minha voz saiu trêmula pela ameaça de choro. 

Márcio: Não, você não pediu, simplesmente me colocou nessa loucura junto com você. - ele se alterou me fazendo ficar confusa. As palavras saiam de sua boca, mas não era ele quem as dizia. - Eu tenho que cuidar de você o tempo todo. Não nasci pra ser babá de ninguém. Estou me sentindo sufocado.

Pérola: Fala baixo por favor. - pedi vendo que as pessoas já nos olhavam - Estão nos olhando.

Márcio: Não estou nem aí, Pérola. - ele debochou e nessa hora as minhas lágrimas se rebelaram contra mim abandonando meus olhos - Você vai chorar? - riu sem vontade - Haja paciência!

Alex: O que tá acontecendo aqui? - ele chegou com Maria Alice e puxou Márcio pelo braço. - Por que você tá alterado assim, Márcio?

Márcio: Por que eu estou de saco cheio. É isso!

Pérola: Márcio, vamos conversar em outro lugar? - tentei uma última vez entender o que estava se passando com ele.

Márcio: Não dá mais, Pérola. - deu o golpe final - Eu juro que tentei, mas sua vida é muito complicada. Você é muito complicada e isso eu não quero pra mim. Foi legal esse tempo que ficamos juntos, mas pra mim já deu. Acabou!

Eu tentava organizar aquelas palavras na minha mente, mas tudo se confundia. Olhei em volta e as pessoas me olhavam com pena. Vi Alex tentar segurar Márcio, mas ele se foi me deixando em pedaços. Pedaços esses que nunca mais eu conseguiria juntar. O amor me levou a voar, mas esse mesmo amor agora me destruía.

Teus Olhos ( PEROMAR )Onde histórias criam vida. Descubra agora