Márcio
Fiquei a noite toda naquele quarto sozinho. Alex se recusou a estar no mesmo quarto que eu. O que realmente entendia, porque também queria distância de mim. Assim que o dia amanheceu eu saí de casa. Não queria ter que magoar mais ninguém.Já estava difícil de mais de suportar.
Parei na esquina do prédio de Pérola. Eu só queria vê-la de longe e deixar meus olhos demonstrarem o meu amor. No colégio eu teria que ser duro e indiferente. Enquanto fiquei parado ali minhas lembranças dos dias que vivemos juntos naquele apartamento me fizeram companhia.Vi quando ela saiu com Alex e Maria Alice. Ela estava abatida e isso me cortou como lâmina.
Fiquei mais um pouco parado em busca de coragem. O próximo passo seria magoar Rosália também. E só de pensar que causaria isso em quem me acolheu como um filho eu me amaldiçoei. Andei em passos lentos tentando adiar o momento e quando me vi parado de frente a sua porta quase perdi a coragem e me virei para voltar por onde tinha vindo, mas a porta se abriu como se ela soubesse que eu estava ali.
Rosália: Você veio me dizer o que está acontecendo ou veio mentir para mim também? - falou me olhando com ternura embora eu não merecesse.
Márcio: Eu não menti pra ninguém. - tentei me manter distante da ternura com que me recebeu - Eu vim só buscar minhas coisas. Não quero mais incomodar.
Rosália: E esperou a Pérola sair por quê? - falou me dando passagem para entrar.
Márcio: Não quero mais nada com ela, mas também não quero ter que ser grosso com ela.
Rosália: Não quer ser grosso ou não quer ter que mentir mais uma vez pra mulher que ama? estava ficando difícil. Olha Márcio, eu entendo de poucas coisas da vida. Fui criada no interior e no meu tempo não se era tão livre para certas coisas, mas de amor eu entendo. Eu sei muito bem duas pessoas que se amam. E sei reconhecer também um sacrifício.
Márcio: Realmente não estou entendendo. Eu gostei muito da Pérola, mas toda essa situação acabou abrindo meus olhos. Não é isso que quero pra mim. Sacrifício seria ficar preso a ela.
Rosália: Agora você pode estar pensando que o sacrifício que está fazendo ao ficar separado dela vale a pena - pegou em meu braço me puxando para sentar com ela no sofá. - Mas será que vale mesmo? Será que ferir quem ama é justificável? Eu mais do que ninguém quero que ela fique segura, mas fazer ela sofrer mais ainda não está incluído nesse querer. Quem tá fazendo tudo isso já tirou muito dela, não permita que tirem o amor também. - tentei me segurar,mas me senti despido diante dela. Eu precisava colocar tudo para fora ou iria sufocar.
Márcio: Se eu tenho que pagar esse preço pra que ela fique bem, eu pago. -soltei entre as lágrimas.
Rosália: E ela? - pegou em meu queixo fazendo com que eu a olhasse - Você deu o direito de escolha? Deixou que ela decidisse a própria vida. Eu também queria que ela esquecesse tudo. Seguisse a vida e largasse o passado, mas eu amo demais aquela menina para não deixar que ela escolha seu próprio caminho.
Márcio: E se esse caminho for o fim?
Rosália: Será escolhido por ela e não por nós, meu filho. Você não ver que é a força dela? É com você que ela conta para seguir mesmo que acabe descobrindo coisas ainda piores sobre os pais. É o seu amor que faz ela acreditar que pode e que é capaz de passar por cima da dor. Não tire isso dela, ou melhor, não tire isso de você.
Márcio: Não tem mais como voltar atrás. - lamentei
Rosália: Sempre se pode voltar atrás quando se realmente quer. Nada é definitivo que não possa ser mudado. Pensa nisso, tá? - concordei
