Capítulo 2

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Márcio


Estou aprendendo a mais uma vez recomeçar a minha vida. Dessa vez tendo que encaixar uma madrasta e três irmãos. Depois que ficou claro que eu meio que era uma bola nas mãos dos meus pais essa passou a ser minha realidade: ficar de um lado para o outro até que as responsabilidades de criar um adolescente ficassem pesadas demais para alguém deles e a velha desculpa do você tem que conviver mais com seu pai, ou sua mãe sente sua falta me fizesse arrumar novamente as malas e deixar s laços que estava construindo para trás. Se eu achava isso normal? Claro que não! E a maneira que encontrei de não sofrer com isso foi me mantendo distante de todos e tendo em mente que eu era meu único amigo.

O resultado dessa decisão foi a terapia que meus pais insistiram que eu fizesse o que acabou sendo mais uma vez a minha passagem para a casa do meu pai, mas dessa vez não seria somente nós dois. A minha madrasta e seus filhos também teriam que ser ignorados por mim. O que acabou sendo difícil, porque se tratava de pessoas legais com quem eu estava convivendo há quase um mês e de quem eu fiz questão de manter distância.

Não era fácil me isolar no quarto quando as risadas chegavam aos meus ouvidos e eu sentia falta de um convívio que não fosse somente com meus medos. Meu pai tentava fazer com que me entrosasse, mas do que adiantava criar vínculos com aquelas pessoas se no final eu seria mandado mais uma vez para longe? 

Doía me sentir tão só, mas nada se comparava com a dor que eu sentia a cada vez que era chamado para uma conversa séria com a desculpa de que estavam pensando somente em mim e no meu bem estar.

A minha madrasta acabou por escolher onde eu iria estudar, o que para mim era até mais fácil. Assim talvez fosse um colégio que eu não gostasse e não correria o risco de sentir falta quando partisse.

Vendo todas aquelas pessoas conversando por cada corredor que eu passava me fazia lembrar que eu não tinha ninguém para contar o que vivi nas férias. O que não foi de todo mal. afinal o que eu contaria?

Logo as vozes vão silenciado e entendo que o início da aula acabou por levar o entusiasmo para lugares específicos: as salas de aula, o que me alerta para o meu atraso. Me parabenizo por ter demorado tanto tentando não ser percebido e tendo agora a certeza que os olhares se voltariam para mim.

Assim que localizo minha sala, respiro fundo e digo para mim mesmo que não durarei muito tempo ali. Chego a sala e vejo minha madrasta ser ouvida em total silêncio por uma plateia em total admiração. penso que é um ótimo momento para entrar e não ser notado, mas sou logo o alvo dos olhares que tanto temi. Procuro um ponto onde possa fixar meu olhar e não parecer tão nervoso e cometo o erro de me encontrar nela. A cada segundo que corre junto com seu movimento virando o rosto de encontro ao meu, sinto as pessoas desaparecerem e apenas aqueles olhos me fazem companhia.

Teus Olhos ( PEROMAR )Onde histórias criam vida. Descubra agora