Capítulo 53

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Márcio


Dois anos depois...


Depois daquela noite em que assumimos um compromisso com o nosso amor tudo se encaminhou até aqui. Muitas coisas mudaram. Nosso amor só ficou mais forte e com ele vieram mais sonhos a serem alcançados. Segundo Pérola, nós dois somos uma verdadeira máquina de sonhos. Alguns já dão indício de uma realidade e outros tornaremos com o tempo.

Maria Alice e Alex seguiram caminhos diferentes. Ficou a amizade que une duas pessoas mesmo depois da desilusão. E isso pode quebrar mágoa ou qualquer sentimento ruim que se instale depois de um término. 

Meu pai e eu, bem... estamos aprendendo com o tempo que a força do querer tudo pode. Hoje temos uma relação baseada na cumplicidade. Demorou um pouco para que eu pudesse entender que o erro é o reflexo do medo, mas graças ao tempo, tudo ficou como sempre deveria ter sido.

Agora estou diante do espelho tentando acertar o nó da gravata. Foram dois anos de ensaio para a vida que nos espera. Aprendi que o tempo não para esperando que tenhamos certeza do que queremos. Ele corre. Muda. Parece muitas vezes traiçoeiro, mas nunca para.

Rafael: Tá difícil aí? - meu pai entrou no quarto e quando me virei para responder, vi em seus olhos marejados, orgulho.

Márcio: Vou conseguir. - sorri confiante.

Rafael: Você sempre consegue, filho. - sentou na minha cama e continuou me olhando.

Márcio: Dar um nó na gravata? - parei o que estava fazendo e o fitei.

Rafael: Não. - sua voz era um indício que estava difícil falar. - Vencer tudo o que a vida coloca no seu caminho. Sabe, Márcio, quando você veio dessa vez eu senti que seria diferente. Não sei porque, mas algo me dizia que eu estaria aqui como estou agora. Vendo meu filho pronto para enfrentar o mundo adulto. Eu só não sabia que também cresceria junto com você.

Márcio: Se eu venci é porque não estava só nessa batalha. - sentei ao seu lado colocando a mão em seu ombro. - Por muito tempo eu achei que me bastava, mas aqueles olhos, pai. - a lembrança do dia em que vi Pérola pela primeira vez passou como um filme diante de mim. - Eles me disseram que eu era um tolo por pensar assim. Faltava ela. Aí eu entendi que foi como se a vida tivesse me trazido pra cá. Pros braços dela, porque ela é o meu lugar. Não um país, uma cidade, uma casa. Ela, pai. A Pérola é o meu lar.

Rafael: Eu sei. - me olhou com ternura. - E é por isso que eu tenho certeza que para onde quer que a vida te leve, você nunca estará só. Não mais.

Márcio: Acho que nunca estive. - o olhei mais firme - Esse amor sempre esteve aqui - passei a mão no peito, sentindo as batidas do meu coração. - Eu só não sabia disso. - nos abraçamos. Não era uma despedida. Era apenas o começo de uma nova etapa. E assim como Pérola era o meu lar, meu pai era meu abrigo.

Hoje estaríamos nos despedindo do colégio, mas dando boas vindas para outro caminho. Amigos ficariam. Outros também partiriam. Lições nunca seriam esquecidas. A vida seguiria e só caberia a nós decidir para onde.

Com a expansão da empresa alimentícia de Pérola e Rosália para São Paulo, assumimos a responsabilidade de fazer lá o que Maria Alice e Rosália ficariam fazendo aqui. Não foi uma decisão fácil. Sair de casa, da proteção de quem amamos nunca é, mas estaríamos juntos e isso era tudo que precisávamos.

Junto com essa decisão veio a de morarmos juntos. Não como fazíamos aqui. Agora quando discutíssemos não teríamos mais outro lugar para esfriar a cabeça. Teríamos que resolver os dois, no nosso apartamento. Dava um pouco de medo. Um medo de magoar o outro e de ser magoado, mas maior do que isso é a certeza de que tudo ficará bem.


(...)


Não faz muito tempo que chegamos. Pérola presenteou a turma com essa festa aqui no buffet. Ela me disse que era o mínimo de agradecimento depois de tudo que viveu com cada um deles. Eu entendo o que ela quis dizer. Também me senti integrado a uma família quando entrei pelo portão desse colégio. 

Alex: Não acredito que essa é a última noite que vou ouvir seus roncos. - brincou - Santa Pérola!

Márcio: Fala isso, mas sei que vai viver ligando me implorando pra voltar.

Alex: Obrigado! - falou do nada mudando o rumo da conversa. 

Márcio: Não sabia que gostava tanto dos meus roncos assim. - tentei brincar para não deixar que a emoção tomasse conta de mim. - Posso deixar gravado pra você.

Alex: Você já deixou gravado aqui - bateu no peito. - Algo muito maior, irmão. No começo foi difícil dividir a atenção com mais um, mas agora eu nem consigo lembrar de quando você não fazia parte da minha vida.

Márcio: Eu que te agradeço, irmão. - apertei sua mão. - Por dividir a atenção comigo. Por está sempre ao meu lado. - sentia o choro apertar na garganta. - Por não desistir de mim nunca.

Alex: Cuida bem dela. - olhamos para Pérola que dançava com os amigos. - Assim você vai estar cuidando de si. E sempre que precisar é só chamar. 

Márcio: Vou levar comigo tudo o que aprendi com você. Faz parte de quem eu sou agora, todas as broncas, brigas e conselhos.  - nos abraçamos.

Pérola: Momento amorzinho? - ela se aproximou sem que percebêssemos. - Também quero!

Alex: Márcio está só aqui se lamentando da louça que vai ter que lavar. - falou enxugando uma lágrima teimosa. - Mas não cai nessa carinha de pena dele, não. Coloca moral nesse vagabundo.

Pérola: Pode deixar! - riu sentando em meu colo. - Mas vão ficar aqui de conversa ou vão aproveitar o nosso último dia como inconsequentes?

Alex: O babaca aí eu não sei - apontou para mim e eu mostrei o dedo do meio rindo - Mas eu vou mostrar para esses filhotes de dançarinos como é que se conquista gatinhas com o rebolado. - levantou indo em direção a pista de dança e ficamos rindo.

Pérola: Se despedir dói, né? - passou a mão em meu rosto e eu concordei com um menear de cabeça. - Para mim foi muito complicado hoje.

Márcio: Rosália? - sua madrinha estava triste desde o dia que contamos a nossa decisão.

Pérola: Tudo. - deitou a cabeça em meu peito - É muito difícil crescer.

Márcio: Mas é inevitável. - acariciei seu cabelo - Sempre iremos nos despedir de algo, amor. Hoje está sendo do colégio. Amanhã será da faculdade e assim por diante. Cabe a nós levar sempre o que ficou de bom em cada etapa da vida. 

Pérola: Eu sei. - beijou meu pescoço. - Mesmo assim é como se algo deixasse de existir. Estranho, né?

Márcio: Muito, mas isso acontece para todo mundo. Olha lá! - falei e ela levantou a cabeça e olhou para a pista de dança onde nos amigos estavam. - Você acha que algum dia esquecerá deles? - ela negou - Sabe porque isso não vai acontecer?

Pérola: Acho que sei. - ela deixou que as lágrimas caíssem livres. - Porque cada um deles tem um capítulo na minha história.

Márcio: Isso. O tempo não apaga uma amizade, meu amor. A distância pode até separar por um tempo, mas eles sempre serão parte do que somos.

Pérola: O que te faz sempre falar as coisas certas?

Márcio: Teus olhos...



"Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teusResolvem se encontrar,Ai que bom que isso é meu Deus,Que frio que me dá o encontro desse olhar.  "

Teus Olhos ( PEROMAR )Onde histórias criam vida. Descubra agora