Capítulo 26

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Márcio


Precisei me afastar de Pérola, porque sabia que não conseguiria manter minha decisão vendo o quanto ela estava sofrendo. Senti algo morrendo dentro de mim a cada palavra que saía da minha boca, mas não podia mais viver daquela maneira. Não faria bem a nenhum de nós dois.

Por diversas vezes quis abrir aquela porta e dizer que nada do que tinha acontecido importava mais. Não quando isso a levava para longe de mim. Não quando eu me perdia sem ela. Busquei forças para não correr e me ajoelhar implorando que esquecesse tudo o que tinha ouvido.

Fiquei me sentindo sufocar pela dor dentro daquele banheiro e quando saí ela não estava mais lá. Desabei me sentindo aquele menino sozinho. Ali naquele chão eu senti todo o abandono me invadir. Chorei por mim. Chorei por ela. Chorei por nós. Chorei.

Mesmo que eu soubesse que não tinha mais como seguir, eu me sentia morrer, porque sem ela nada era vida pra mim. Temi pelos meus dias sem ela. Sem o seu sorriso. Sem seu cheiro aguçando meus sentidos. Meu corpo era frio, faltava o seu calor. Faltava ela.

Permaneci preso em mim até que o dia foi findando. A noite anunciava a sua chegada e o vazio crescia dentro de mim. Por diversas vezes ouvi meu celular tocando, mas permaneci imóvel. Não queria falar com ninguém. Teria permanecido assim se batidas incessantes na porta não tivessem me posto em alerta. Levantei sentindo meu corpo doer. Não um dor física, mas a dor de tudo dentro de mim ter se quebrado. Abri a porta e Alex entrou sem que fosse convidado para isso.

Alex: Pensei que estivessem mortos? - ele parecia realmente preocupado. - A Pérola melhorou?

Márcio: O que você tá querendo dizer com isso? - perguntei sem entender - A Pérola deve estar em casa.

Alex: Sem gracinhas, irmãozinho. - riu percorrendo o lugar com os olhos - Eu estava na Maria Alice desde ontem e lá a Pérola não apareceu.

Márcio: Como não? - senti minhas pernas fraquejarem - Ela... ela...

Alex: Márcio, cadê a Pérola? - praticamente me jogou contra a parede. - Fala, porra!

Márcio: Eu não sei! - um fio de voz saiu

Alex: Como assim não sabe? Ela veio pra cá com você ontem! - ele gritava

Márcio: Nós terminamos e ela foi embora. Isso foi de manhã. - meu Deus! O que eu tinha feito? deixei Pérola sair daqui sozinha.

Alex: A Pérola sumiu, Márcio! Eu vou matar você! - senti meu rosto queimar com o murro que veio a seguir. - Você só tinha que mantê-la segura! Ela agora pode estar... - não completou o pensamento me largando e andando com as mãos na cabeça em círculos. Nesse momento eu vi sua bolsa ainda no mesmo lugar que eu tinha posto ontem.

Márcio: Eu preciso encontra-la - não esperei por mais nada e saí em total desespero.

Andamos por muito tempo. Vasculhamos as ruas como se procurássemos uma agulha e nada. Nem sinal dela. Alex já tinha se comunicado com Maria Alice e fiquei sabendo que meu pai e Gabriela estavam a procura dela nos hospitais da cidade. A culpa me consumia. Me matava a cada vez que entrávamos em algum lugar e saíamos de lá sem ela. 

Os personagens noturnos já tomavam seus postos. Bêbados dividiam calçadas e mulheres vendiam prazer nas esquinas. A cada barulho de sirene da polícia meu coração disparava. a noite trouxe o pavor do que poderia ter acontecido. 

Vencidos pela falta de notícias fomos para o apartamento de Rosália e nem que eu viva cem anos eu serei capaz de esquecer a dor que vi nos olhos da madrinha de Pérola. Era a mesma dor que eu estava sentindo.

Teus Olhos ( PEROMAR )Onde histórias criam vida. Descubra agora