Capítulo 25

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Pérola


Acordei sentindo minha cabeça explodindo de dor e tudo dentro de mim se revirando. Flashs da noite anterior se embaralhavam na minha mente deixando tudo muito confuso. Mal abri os olhos e quando vi o lado da cama vazio lembrei das últimas palavras do Márcio para mim. 

Tentei não pensar o pior, mas a negação da resposta a minha pergunta fizeram eu ter a certeza que tinha ido longe no que tinha aprontado. Eu estava com raiva de ter que mudar meus hábitos por conta de um louco que era uma ameaça à minha vida e nesse processo de fúria não fui capaz de enxergar que Márcio só estava me protegendo. Será que era tarde para reconhecer meu egoísmo?

Levantei com dificuldade e constatei que eu estava sozinha naquele loft. O medo me consumiu. onde o Márcio estaria? Já ia sair a sua procura quando me dei conta que estava somente com minha calcinha. Procurei minhas roupas e as encontrei secando na área de serviço. Estava acabando de me vestir quando escutei o trinco ser aberto. Meu coração disparou e vergonha me consumiu por inteira. Não sabia como encara-lo. Na verdade não queria ver em seus olhos a decepção que sei que lhe causei.

Márcio: Trouxe analgésicos. - ouvi o barulho da sacola se chocando contra a mesa.

Pérola: Obrigada. - minhas palavras mal saíram. 

Márcio: Vou preparar algo para comermos. 

Pérola: Na verdade estou sem fome. - falei me aproximando de cabeça baixa. - Eu só quero mesmo é que você me desculpe por ontem.

Márcio: Não tem o que se desculpar. - suas palavras saíram duras - Você fez o que estava querendo e como mesmo disse, não me deve satisfação nenhuma.

Pérola: Eu não devia ter feito o que fiz. - falei derrotada. - Se pudesse voltar atrás...

Márcio: Mas não pode.  - foi em direção a cozinha me deixando sem saber mais o que dizer. - A Maria Alice ligou. 

Pérola: Depois falo com ela. - sentei na mesa e fiquei observando ele mexer nas coisas a procura de algo. - Posso te ajudar?

Márcio: Dou conta. - dispensou minha ajuda e tive certeza que seria difícil a conversa. Ele estava frio comigo e eu sabia que merecia, mas não deixava de doer.

Pérola: Márcio, eu realmente estou arrependida. Olha pra mim! - implorei  - Sei que só um pedido de desculpas não é o bastante, então me diz o que você quer que eu faça?

Márcio: Nada, Pérola. - finalmente me olhou e a mágoa estava em seus olhos. - Não precisa fazer nada. Não por mim, se quiser fazer, faça por si mesma. Por mais que eu goste de você não é a minha vida que está em jogo. É a sua e você parece não se importar. Ontem eu finalmente enxerguei que não posso te fazer entender que tudo que está acontecendo é sério .

Pérola: Eu sei que é...

Márcio: Sabe mesmo, Pérola? - sua frieza fez meu corpo tremer. - Acho que não. Você tem noção do que foi pra mim te ver se embebedar e não poder fazer nada? Já passou pela sua cabeça o quanto me doeu fazer papel de idiota?

Pérola: Eu precisava daquilo, Márcio.

Márcio: Por quê? Beber sabe-se lá o que vai resolver seus problemas? Para mim sua atitude só te trouxe mais um. Você acabou com a noite dos seus amigos. Amigos esses que se preocupam com você.

Pérola: Não queria acabar com a noite de ninguém. - ele estava sendo duro demais. - Eu só queria me divertir. 

Márcio: Então posso concluir que não faço parte da sua diversão, né? Porque você me ignorou a noite toda. Agiu como se eu te causasse mal. Pareceu ter nojo do meu toque. - nessa hora senti as lágrimas banharem meu rosto - Eu fui paciente o quanto pude. Me coloquei no seu lugar e tentei entender o quão difícil estava sendo pra você. Mas e eu? Você por um minuto sequer se colocou no meu lugar sendo rejeitado daquela maneira? - não consegui responder - Claro que não! Eu sou só o namorado chato e protetor que te impede de viver. 

Pérola: Você é o meu amor! - solucei não contendo o pranto. 

Márcio: Que forma de amar é essa que machuca? Que amor é esse que pisa?Isso não é amor, Pérola. Nunca foi.

Pérola: Não diz isso! Não é verdade!

Márcio: Pra mim essa é a única verdade que consigo ver. - isso não podia estar acontecendo. - Sabe o que mais me dói? - meneei a cabeça negando - Saber que você agiu daquela forma para me ferir. Era a mim que você queria atingir ontem e tenho que reconhecer que conseguiu. Quando eu te vi daquele jeito doeu. Doeu muito, mas finalmente eu vi o que há dias você esfregava na minha cara.

Pérola: Me dá a chance de consertar o estrago que eu causei. - me aproximei e ele recuou - Não se afasta de mim.

Márcio: Eu aprendi que certas coisas só pioram se tentarem consertar e isso é uma delas. Ontem foi um porre e amanhã o que será? O que você vai fazer quando se sentir sufocada novamente pela minha proteção? 

Pérola: Eu não vou mais fazer isso, Márcio. Acredita em mim!

Márcio: Não, não vai. Eu não vou deixar que faça. Não comigo.

Pérola: Onde você tá querendo chegar com essas palavras? - perguntei mesmo vendo em seus olhos a resposta.

Márcio: Eu te amo muito, mas não quero esse tipo de relação para mim. Eu passei o resto da noite em claro me perguntando onde tinha errado. Tentando ver em que momento o que tínhamos se transformou nisso que vejo agora e não consegui , Pérola. - lágrimas rolaram de seus olhos - Por mais que eu tenha tentado, eu não consegui.

Pérola : Não faz isso com a gente. - desespero tomou conta de mim.

Márcio: Me perdoa, mas pra mim não dá mais. Não quero amanhã te magoar e principalmente não quero ser o motivo de sua infelicidade. 

Pérola: Eu não vou conseguir sem você - chorei tudo o que estava preso dentro de mim. Nem sabia o quanto era capaz, mas chorei vendo Márcio sair e se trancar no banheiro me deixando ali.

Tudo escorria pelos meus dedos feito areia. Por mais que eu quisesse deter se esvaia diante de mim. Eu me sentia vazia. Sentia tudo perder o sentido e por minha culpa. Pela minha imaturidade eu fui capaz de ferir a pessoa que tinha dado tudo por mim.

Eu saí daquele loft me sentindo um completo nada. Andei pelas ruas e o ar queimava em meus pulmões. Vaguei sem rumo querendo me perder do mundo. Fugir de tudo e de todos. era como se as coisas estivessem desaparecendo ao meu redor. Eu estava sozinha. Havia perdido o que de mais puro e verdadeiro eu tinha na vida: o amor do Márcio.

Teus Olhos ( PEROMAR )Onde histórias criam vida. Descubra agora