- Droga!
Gritei quando errei o mesmo exercício pelo que parecia ser a centésima vez. É claro, estudar medicina com zero foco nas aulas estava sendo um verdadeiro teste para mim, olhava o celular a todo momento na esperança de receber uma mensagem de Isabelle, qualquer coisa, mas sabia que isso não aconteceria.
Tudo que eu esperava era que ela não fizesse nenhuma besteira, ou que pelo menos ela não estivesse sozinha quando a fizesse. Eu tinha sido uma verdadeira idiota, tive certeza disso antes mesmo de terminar de gritar no apartamento dela, mas era só tão difícil... Eu a via se deixar ser engolida pela Emma e não fazer nada, alguém precisava tirá-la dali, trazê-la de volta a superfície, qualquer coisa!
Entretanto, sabia que tinha ido pelo caminho errado, não tinha o direito de julgar uma pessoa em depressão, ninguém tem esse direito. "Só vai embora" ela falou, e eu soube que era tarde demais. Queria ter voltado e me desculpado, queria ter abraçado ela forte e lembrá-la que não importava o que ela fizesse ou dissesse, eu ficaria ali, do lado dela, mas quando percebi o que tinha dito, a vergonha tinha sido grande demais.
Sempre que fechava os olhos me lembrava da expressão no rosto de Isabelle, a decepção aumentando a cada palavra que saia de minha boca. O que foi que eu fiz?
...
Definitivamente um trator tinha passado por cima de mim. Era segunda de manhã e eu tinha que me arrumar para ir trabalhar, mas meu domingo não tinha sido tão melhor que o sábado, e o álcool dentro de mim me lembravam disso com cada um dos efeitos deixados. Minha cabeça parecia prestes a explodir, cada músculo meu doía e o gosto em minha boca só me lembrava do momento em que eu colocara tudo para fora na noite passada.
Pensava em Isabelle e por algum motivo tudo que eu queria era ter certeza de que ela não descobriria sobre isso, não queria decepcioná-la. Mas talvez ela nem se importasse, afinal, que diferença faz na vida dela se sua professora passou o final de semana enchendo a cara? Eu a ajudara na última vez porque ela não tinha a Laura e em sua mente nós estávamos quites agora, então por que ela se importaria? Era hora de seguirmos em frente.
Olhava para meu celular velho despedaçado no chão, no mesmo lugar em que ele caíra quando o atirara na parede, não me dei o trabalho de recolhê-lo e não o faria tão cedo. Não sabia o que doía mais, as palavras da minha mãe ou o silêncio que se seguiu.
Me joguei de volta na cama soltando um grito abafado pelo travesseiro, precisava arrumar coragem e energia para sair dali, mas talvez eu pudesse esperar mais 5 minutinhos antes de fazer isso.
...
- HORA DE ACORDAR, ISABELLE! VOCÊ NÃO QUER SE ATRASAR PARA A ESCOLA, NÃO É?!
Acordei com alguém gritando na porta do meu quarto. Sentia meu rosto amassado e não precisava de um espelho para saber o quão destruída eu estava. Só conseguira dormir em algum momento de madrugada, mas aquelas poucas horas pareciam ter sido apenas alguns minutos. Entretanto, foram o suficiente para me fazer ver o rosto de Emma algumas vezes, aumentando ainda mais o embrulho no meu estômago.
Sentei-me lentamente na cama quando mais um grito veio das profundidades daquela casa:
- ISABELLE! VOCÊ VAI PERDER A HORA!
- JÁ ACORDEI! – Gritei de volta meio rabugenta, precisava gritar tanto?
Olhei para a hora na tela de meu celular e descobri que poderia dormir mais 20 minutos que ainda teria tempo para ir tranquilamente a escola, só minha mãe para me acordar tão cedo assim. Apesar disso, fiquei dividida entre meu mau humor matinal e meu alívio por finalmente sair dos pesadelos.
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A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...