faded (alan walker)

81 12 0
                                    

Não tinha para onde correr. Onde quer que eu fosse, não importava o que eu fizesse, a lembrança de Izzy estava presa a mim. Seu rosto, seu olhar, seu sorriso, sua risada, seu cheiro, sua presença... Estava tudo ali e eu simplesmente não tinha como me livrar.

Na escola precisava tomar cuidado para não deixar transparecer o meu interesse, entretanto minha preocupação com o seu bem estar tornava inevitável os olhares trocados. Queria poder fazer mais, queria ser mais, mas sabia que isso nunca aconteceria. Tentei seguir meus dias como se não tivesse nada de errado, como se tudo estivesse 100% ok.

Abri mais algumas caixas da mudança e arrumei um pouco mais esse novo apartamento que eu precisava começar a chamar de "lar", era difícil se adaptar com um lugar tão vazio. Quando morava com meus pais, tinha barulho na casa o tempo todo e muito mais pessoas dentro da casa, mesmo que elas não morassem ali. Meu celular tocava a todo momento com mensagens de Camila. Agora, eu não tinha ideia nem de onde ele estava, era possível ouvir um alfinete caindo no chão e nada parecia estar no lugar certo.

De fato conseguira a liberdade que tanto queria, mas estava sendo difícil lidar com o preço. Olhei para as prateleiras na cozinha e avistei uma garrafa de alguma daquelas bebidas baratas descansando ali. Desde o dia em que Izzy dormira aqui não bebera nem mais uma gota de álcool, mas isso não quer dizer que não houve vontade.

Minhas mãos formigavam e eu sabia o que meu corpo pedia, mas já estava quase completando um mês sóbria, precisava ser forte. Fechei os olhos e respirei fundo, entretanto não consegui esquecer: minha mãe me expulsando de casa, Camila pedindo para eu ir embora, os olhares...

Não podia pensar nessas coisas e então, mesmo com uma pontada no peito, apareceram aqueles olhos tão puramente azuis, a lembrança de Izzy rindo genuinamente por um motivo bobo. Consegui desviar a atenção da bebida por um momento antes de ouvir um toque de celular. Reconheci como sendo o toque de casa e comecei a revirar umas caixas para achar o aparelho sem presa alguma.

- Alô? – Falei seca já sabendo quem era a outra pessoa na linha.

- Filha? Tudo bem? – Ouvi minha mãe dizer do outro lado.

A última vez que ela ligara fora a meses atrás e não tinha sido muito bom, nesse momento eu não tinha interesse algum em saber o motivo da ligação.

- Sim. – Mantive o máximo de distância possível.

O silêncio se instalou na conversa, apesar disso, continuei indiferente, sem a preocupação de agradá-la.

- Bom, se era só isso eu preciso ir...

- Não, Teresa, espera!

Continuei na linha, mas sem falar nada. Ela continuou:

- Eu exijo que você volte para casa.

Ela falou simplesmente. Meu choque me paralisou por um momento antes que eu pudesse dizer algo:

- Você exige? – soltei uma risada sarcástica. – Tudo bem, acho que quem precisa de médico aqui é você. Você perdeu o direito de exigir qualquer coisa de mim no dia em que você me expulsou, não sei se você se lembra, mas eu só fui embora porque VOCÊ NÃO ME QUIS!

- Olha esse tom que você usa para falar comigo, Teresa! Eu sou sua mãe e você me deve respeito! E sim, eu EXIJO, já chega dessa palhaçada toda com garotas, pare de agir como retardada, já deu!

- Eu não acredito que eu estou perdendo meu tempo com você... – Meu corpo todo tremia e tudo que eu queria era mandá-la para aquele lugar, mas uma parte de mim recuava, ela era minha mãe afinal de contas, minha família, sem isso, eu não tinha mais nada.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora