A Anatomia do Cacto

skinny love (birdy)

Estávamos paradas em frente a minha porta, era estranho encará-la agora, com Tessa ao meu lado e a certeza que minha mãe estava nos esperando, mas de bom humor e que James também estava lá. Sentia minhas mãos suadas e minha respiração falhar, seria a primeira vez que Tessa entraria em minha casa e a conheceria de verdade, com pessoas dentro dela, e eu ainda não sabia o que pensar sobre isso. Por isso, sem pensar, eu apenas abri a porta.

- FELIZ NATAL, MÃE! – Gritei para anunciar nossa chegada, fechando a porta assim que Tess entrou.

Assim que me virei, dei de cara com ela, seus olhos brilhando de curiosidade para conhecer Tessa. Jem estava atrás, terminando de arrumar a mesa, minha mãe abrira espaço para um quarto lugar, a comida estava pela mesa, torta de frango, purê de batata e um peru que daria para um mês bem no meio. Ainda tinham algumas travessas com saladas ou temperos, ou alguma coisa que eu não tinha ideia do nome, mas sabia que era muito bom, Jamie trazia tudo e colocava na mesa.

- Você deve ser a Teresa! – Minha mãe falou enquanto apertava a mão de Tess animadamente, como se ela estivesse conhecendo uma dessas celebridades da TV.

- Tessa, sim, a amiga da Izzy. – Tess respondeu sem hesitar.

E por um momento, foi como se eu ficasse presa em minha bolha. Nunca tinha pensado em como eu apresentaria Tess a minha mãe, como minha amiga? Professora? Namorada? Não, ela definitivamente não era minha namorada... Nem minha professora... Não mais, pelo menos. Uma amiga fazia sentido. Entretanto, comecei a me lembrar do dia em que seu pai morreu, de como ela estava alterada e me beijou. Ou da vez em que eu decidi beijá-la, ou quando eu a puxei para a sala do teatro, ou há alguns minutos, na Casa das Rosas... Do calor que subia pelo meu corpo...

Eu não a queria apenas como uma amiga. Ao mesmo tempo, uma voz dentro de mim começava a falar que nem amiga nós deveríamos ser, que eu deveria afastá-la o máximo que eu pudesse. Essa hipótese subia pelo meu corpo e o desespero tomava conta de mim, minha bolha começava a m espremer e o ar sumia cada vez mais.

- Não sei se vocês já estão com fome, mas nós podíamos nos sentar... – Ouvi minha mãe falar, mas sua voz estava distante.

- Iz? – Agora era voz de Tessa em meu ouvido, baixa, quase um sussurro, sua mão apertou a minha de leve. – Isabelle? Está tudo bem?

Respirei fundo enquanto minha bolha estourava, estava de volta a realidade.

- Estou sim, vamos nos sentar.

- Olá, Tessa! – Jem veio abraçá-la.

Aproveitei o momento para colocar meus presentes em baixo da nossa pequena árvore, encima do armário, uma sacola com a camiseta do Jamie, um embrulho de jornal com o presente da Tessa e uma caixa vermelha com um grande laço para minha mãe. Ainda não era meia-noite, mas nós nunca conseguíamos esperar tanto para jantar, por isso, me sentando ao lado de Tess, de frente para Jamie, me sentei à mesa.

- Então, Tessa, você e a Izzy se conhecem de onde? – Minha mãe começou o questionário. Não podia culpá-la, ela não sabia absolutamente nada de Tess, mas meu desespero era inevitável, continuava puxando pelinhas do meu dedo quando consegui controlar minha respiração para responder, mas Tessa foi mais rápida:

- Na escola. – Ela disse com calma e simplicidade.

- Ah, a Isa falou que você a ajudou muito esse ano, eu gostaria de te agradecer.

- Não se preocupe, Dona Lucia, tenho certeza que Isabelle deve ter exagerado, não fiz muito.

Me afundava cada vez mais na cadeira, por que eu tinha trazido Tessa com minha mãe em casa?! A probabilidade de tudo dar errado era grande demais, revia cada episódio desse ano e meu desespero de ser descoberta chegava a ser palpável.