counting on me (bruno mars)

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Encarava minha porta agora. Minha mãe estava provavelmente sentada no sofá no meio da sala, vendo TV ou lendo um livro, ou talvez ela estivesse em pé na cozinha, ou em seu quarto. Mas ela com certeza estava do outro lado desse pedaço de madeira. Batucava meus dedos em minha perna desesperadamente, mal me mantendo ao ritmo, minha respiração estava desregulada e, apesar de não estar calor, senti um calafrio passar pelas minhas costas.

Tessa me deixara na frente do prédio insistindo que eu mandasse mensagens para ela sempre que possível, provavelmente não demoraria muito para Jamie aparecer. Talvez eu pudesse sentar em algum cantinho desse corredor e esperá-lo. Ou não. Isso seria patético, ele poderia demorar dias para aparecer. Droga.

Respirei fundo e pude ouvir a voz de Tessa em minha cabeça falando que tudo ficaria bem. Vai dar tudo certo. Girei a chave e abri a porta. Entrei olhando para o chão, tentando ignorar minha visão periférica, tirei os tênis e joguei minha mochila ali, finalmente então, olhei para minha casa.

Minha mãe estava em pé no meio da sala me encarando. Se ela já estava assim há muito tempo ou se ela se levantou quando eu cheguei, não sei dizer, mas lá estava ela com um olhar levemente espantado, me analisando de cima a baixo. Sabia que estava bem mais magra que na última vez em que ela me vira, considerando que esse ano ela praticamente não olhou para mim, sabia também que meus olhos ainda estavam levemente inchados de uma das minhas crises recentes e que meus braços tinham marcas de machucados com origens completamente desconhecidas. Sob seu olhar analisador comecei a me sentir nua, eu queria correr, sumir dali, não apenas pelo receio de nossa conversa, mas pela necessidade de me esconder.

- Acho que precisamos conversar. – Ela falou por fim. Sua voz era impressionantemente calma o que me fez imaginar se era o sentimento de uma "paz armada", de quando você sabe que uma guerra é inevitável, mas não tem certeza de quando e como ela começara.

Concordei com a cabeça, sem conseguir olhá-la nos olhos. Arrastei meus pés até estar próximo dela. Minha mãe se sentou no sofá deixando um espaço claro para mim ao seu lado, entretanto, escolhi me sentar na poltrona, o mais longe possível. "Você precisa tentar, dê uma chance a sua mãe de se explicar, conte para ela o que você sente, Isabelle, você precisa aprender que as pessoas não tem bola de cristal." Tessa havia dito isso várias vezes durante a semana, sempre que eu considerava pegar minha mochila e fugir, ela aparecia e me impedia com essa conversa.

De fato, naquele momento estava calculando quão rápida eu conseguiria ser e quanto tempo demoraria para eu chegar na porta, jogar minha mochila nas costa e agarrar meus tênis. Balancei a cabeça tentando afastar esse pensamento, seria bobo e infantil correr agora. Finalmente tomei coragem e olhei para ela, minha mãe continuava me encarando, mas seu rosto não me dizia nada, ela não me dizia nada.

- Eu passei de ano. – Disse por fim, me sentindo uma criança boba que, mesmo com o rosto lambuzado de bolo, tenta dizer que não comeu o tal bolo.

- Eu soube. – Foi tudo que ela disse antes de voltarmos àquele silêncio horrível.

Queria perguntar como ela descobriu, quem tinha falado. Talvez a escola tivesse ligado ou algo do tipo. Temia o rumo que tudo isso tomaria, eu tinha passado de ano, ela sabia, então fim da história, ela podia parar de me odiar, não é mesmo?

- Bom... Então eu vou para o meu quarto... – Tentei me levantar, mas ela me cortou.

- Ainda não acabei.

"Droga!" pensei. Mesmo assim, o silêncio se estendeu. Não sabia mais o que ela queria de mim ali e isso me deixava ansiosa, puxava mais uma vez as pelinhas das minhas unhas, fazendo algumas sangrarem.

"Izzy, esse seu hábito é péssimo!" uma vez Tessa me disse enquanto segurava meus dedos para eu parar.

"Eu sei, desculpa... Eu faço sem perceber..." tentara inutilmente me defender.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora