Entrei sem pensar muito na atitude em si, só precisava ver Isabelle. Ela parecia menor e mais frágil do que nunca deitada no meio daquela cama. A cor voltara timidamente ao seu rosto e ela parecia mais acordada, mais viva.
O quarto não era grande, consistia basicamente, além dos aparelhos médicos, na cama e uma poltrona para possíveis visitas, me dirigi até ela, mas sem tirar os olhos de Izzy. Ela me olhava de volta, os olhos mais azuis do que nunca, vívidos, me encarando a espera de um veredicto.
- Acho que não é a primeira vez que isso acontece. – Isabelle negou com a cabeça. – Uma enfermeira fofoqueira não conseguiu se conter. – me justifiquei.
Isabelle continuou em silêncio. Esperava por um voto de confiança ou algum sinal que me permitisse avançar, mas ela não fez nada, decidi dar mais um passo a frente:
- Fiquei me perguntando... Por que você não trouxe Laura, como da última vez?
Sabia que estava pisando em ovos e não sou boa nisso, entretanto, não estava aberta a mudar minha decisão quanto a cuidar de Izzy e sabia que para isso precisaria me esforçar.
- Ela não estava disponível. – Foi tudo que ela disse.
Esperei mais um pouco na ingênua esperança de conseguir mais informação. Nada.
- Bom, só a vi uma vez, mas ela parecia bem disposta a mover montanhas por você, a qualquer horário, de qualquer dia, por qualquer motivo.
- É... Complicado.
-Eu tenho bastante tempo. – Permaneci inflexível, esse era o momento para descobrir de fato o que estava acontecendo com Izzy.
- Nós tivemos um mal entendido...
- Estou ouvindo.
- Acho que você deveria mudar seu julgamento sobre como ela me vê. Não acho que ela ainda esteja disposta a "mover montanhas".
Queria perguntar mais coisas, fazer um interrogatório completo, saber por que ela tinha tomado todos aqueles remédios e o que ela tinha na cabeça. Entrementes, precisava ter calma, lembrar-me de como fora a manhã em que eu acordara na casa dela e de como ela me expulsara quando eu tentei me aproximar.
- Ainda acho que ela moveria montanhas, ela parece ser uma menina decidida, mas quem sou eu para julgar?
Isabelle e eu nos encaramos por mais um momento. Queria que ela se abrisse mais, mas parecia faltar incentivo.
- Onde estão seus pais?
Isabelle soltou uma risada debochada:
- Não sei o que te dizer sobre meu pai, acho que ele ainda não sabe o que ser "pai" significa. E te falei, minha mãe está viajando a trabalho.
- Isso não foi mês passado?
- Sim, mas às vezes essas viagens são bem longas.
- E você fica sozinha?!
-Não é tão impressionante assim. – Izzy parecia mais leve agora, mais solta enquanto falava. – Sei cuidar de mim.
Pela primeira vez desde a noite em que eu dormi em seu sofá, conseguia ver aquela Isabelle divertida com a qual eu discutira sobre A Melhor Bebida do Mundo. Não queria perder isso.
- Acho melhor eu não comentar essa sentença. – disse enquanto dava ênfase nela na cama de um hospital. Falava com um tom brincalhão, mas sério. Tinha que manter esse rumo se quisesse continuar a me aproximar dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Anatomia do Cacto
RomansaEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...