ride (twenty one pilots)

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Era de noite quando Laura bateu na porta do meu quarto, abrindo uma fresta da porta para dizer:

- Izzy, você precisa comer alguma coisa.

Não me dei o trabalho de me mexer.

- Não estou com fome. – Minha voz saiu abafada pelo travesseiro que eu abraçava.

- Eu trouxe achocolatado e negresco.

- Droga! – murmurei enquanto me sentava na cama e me virava para olhar para ela. – Pode entrar.

Ela foi direto para a minha cama e se sentou do meu lado, me oferecendo o copo e um prato com alguns biscoitos. Comi alguns e virei o achocolatado de uma vez só.

- Sabe, sempre gostei do seu quarto. – Laura começou a falar.

Meu quarto não é grande, nem pequeno. Tem uma cama em uma das pontas, encostada na parede e, no outro extremo, livros, estantes cheias deles, ou apenas pilhas no chão. De frente a essa bagunça, tinha uma arara com as poucas roupas que eu tinha e algumas caixas para os calçados no chão. A parede vazia a cima da cama era coberta por fotos, dezenas delas, da minha infância, dos meus amigos, da minha mãe ou de James...

- Lembro-me de quando você se mudou para cá e, mesmo você tendo esse exato tamanho, quando te via aqui, no meio de todos os seus livros, era como se você fosse menor, uma criança. – Ela continuou falando. – Desde então, era como se eu precisasse saber que você está bem, que nada nem ninguém te fez mal algum. Desculpe se eu exagero às vezes...

Já tinha terminado de comer A Melhor Refeição do Mundo, então deixei o copo e o prato no chão, em um canto. Voltei para onde estava, mas de repente estava muito cansada e não queria nada disso. Só queria abraçar Laura e dormir ali, escondida em seus braços. E, por algum motivo, foi exatamente isso o que fiz.

Encolhi-me perto da parede e puxei Laura para perto. Pude encarar seu rosto assustadoramente cansado, seus olhos castanhos com tons dourados me encarando.

- Você não precisa se desculpar, - disse por fim. – eu que sou a babaca aqui e eu sinto muito.

Com isso, eu me aproximei e a abracei forte, deixando que minhas lágrimas molhassem sua blusa de novo. Seus braços me envolveram e, pela primeira vez desde que Emma morreu, eu senti que estava segura.

Acabei dormindo.

...

Isabelle adormeceu rapidamente em meus braços. Queria ter a mesma sorte que ela, mas, apesar do meu extremo cansaço, demorei para conseguir fechar os olhos, como se ficar ali, olhando para ela, fosse o suficiente para salvá-la.

Em fim, rendi-me e adormeci. Entretanto, fora uma longa noite. Acordei com Izzy tremendo e suando frio várias vezes, em alguns momentos falando ou gritando, como se estivesse presa a um pesadelo. Em todas as vezes eu apenas a abracei mais forte e esperei ela relaxar. Mais cedo do que eu esperava, o Sol nasceu.

...

- Isabelle... Isabelle. – Ouvi meu nome ser chamado ao que parecia ser quilômetros de distância. – Isabelle, vamos, assim você vai se atrasar. – Meus sentidos voltavam aos poucos, soltei alguns resmungos de insatisfação. – Isabelle Morais, se você não sair dessa cama agora, eu jogarei um copo com água gelada em você!

Agora reconhecia a voz de Laura e, com ela, as lembranças da última semana, tudo tão rápido que dificultava qualquer ação que eu quisesse realizar, incluindo acordar. Passou-se um tempo em silêncio, o que me fez pensar se tudo não passara de um sonho, mas então ouvi Laura dizer ainda mais alto:

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora