A semana seguiu de forma monótona. Tessa e eu trocávamos um breve "olá" quando nos esbarrávamos na escola, nada muito informal, mas mesmo assim a sensação era de que eu estava desafiando as leis do universo e que em algum momento eu pagaria caro por isso. Era inevitável, sabia que sentia algo por Tessa, uma admiração além do esperado talvez, mas definitivamente tinha alguma coisa.
Me virei na cama mais uma vez, era Sábado, 13 de Maio, e a conta não saia de minha cabeça. Há exatamente 6 meses Emma pulara do topo de um prédio, há 6 meses eu ouvira sua voz pela última vez, há 6 meses eu sentiria sua mão encostar em mim pela última vez, há 6 meses ela me abraçara pela última vez. Há 6 meses uma parte de mim morreu e desde então eu estou tentando descobrir como viver sem.
A campainha tocou parecendo uma sirene naquela casa vazia e silenciosa.
- ESTÁ ABERTA! – gritei sem sair do lugar.
Meus planos para o dia eram simples: ficar jogada na cama. Talvez eu levantasse para me alimentar, ou apenas deixasse isso para amanhã. Talvez eu finalmente tomasse vergonha na cara e mandasse um pedido de ajuda a Tessa, ou eu só voltaria a dormir.
Não existiam muitas opções de pessoas para aparecerem em minha casa, minha mãe provavelmente chegaria no final do dia e se nada desse errado, ela estaria com sua própria chave. Não tive tanto tempo para remoer minha curiosidade, pois no instante seguinte ouvi a voz de James dizer:
- Isabelle! Não acredito que você deixa sua porta aberta assim! E ainda nem se dá o trabalho de se levantar e ver quem está na porta! Um louco psicopata poderia entrar aqui e te matar!
Ele falou enquanto atravessava a sala e parava na porta de meu quarto, me encarando caída na cama.
- Você é um louco psicopata que vai me matar?
- Não!
- Então problema resolvido.
Virei o rosto para a parede para mostrar que esse era o fim da discussão. Sabia que Jem tinha um bom ponto, mas eu realmente não me importava.
- Você sabe que dia é hoje? – minha voz saiu abafada pelo travesseiro.
- Sábado?
-Número.
James ficou em silêncio antes de respirar fundo e se sentar no meu lado na cama, murmurando um "treze" mais para si mesmo. Seu cabelo estava maior, cacheando ainda mais nas pontas. O castanho claro era a única coisa que contrastava em sua aparência em comparação a minha, apesar de sermos primos, podíamos ser facilmente confundidos como irmãos. Seus olhos eram tão azuis quanto os meus, os traços do rosto eram bem definidos, o nariz era pequeno e delicado, a boca bem desenhada e fina.
Jem passava as mãos em meus cabelos carinhosamente enquanto pensava. O silêncio se instalava cada vez mais no quarto e eu sabia o que se passava em sua cabeça, ele não sairia dali tão cedo hoje, ou talvez ele só não saísse.
- Tem uma coberta extra no quarto da mamãe.
- O que? – Ele pareceu sair de seu transe.
- Eu sei que não tem como eu te convencer que estou bem e que vou cuidar de mim e blá blá blá... Então... Tem uma coberta extra no quarto da mamãe.
Ele abriu um sorriso de agradecimento.
- O que você comeu hoje, Iz?
- Mas já vai começar a inspeção?! – Tentei tirar a seriedade do momento.
- Isabelle...
- Eu acabei de acordar, não deu tempo de comer.
- São quase três horas da tarde!
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A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...